Murmurou algo que ninguém perceberia. Estava num café bem frequentado da pequena cidade. Um grande letreiro tornava impossÃvel não reparar nele. A esplanada estava recolhida e arrumada nos fundos, não estava tempo disso, à semelhança de todos os outros cafés daquela rua. Todavia, este, distinguia-se dos demais à sua volta. Era muito bem frequenteado, se era. Jonas frequentava-o e isso era suficiente. Um homem que se tinha notibilizado em tenra idade na escrita e isso era suficiente, para fazer de Jonas alguém conhecido na pequena cidade. Jonas escrevia contos românticos, daqueles que agradam o povo. Um homem, uma mulher, uma relação atribulada: viveram felizes para sempre, fim. Eram bonitas, meigas, irreais e felizes. O oposto da vida das pessoas que o liam, talvez por isso mesmo, eram tão apetecÃveis as pÃlulas ficcionais de Jonas. «Sr. Jonas que deseja tomar?» «Gostaria de comer uma torrada e um café, meu bom homem» «Sim Sr, Sr.Jonas». Era bem tratado, pudera, era ele que dava à quela casa lucro. Lucro bastante avoltado em comparação aos outros cafés daquela rua que, por muito que procurasse e quisessem, nunca conseguiriam tão bom engodo. Perna cruzada e cachimbo na boca, a sua marca era inconfundÃvel. Era proÃbido fumar no estabelecimento, mas Jonas não era julgado como os comuns mortais, se dava dinheiro à quele sÃtio, e mesmo não exigindo nada, tinha o direito de lá dar umas cachimbadas. Regalia dada pelo filho do dono do estabelecimento que, como iria herdar aquele sÃtio, queria ter a certeza que, enquanto Jonas fosse vivo, lá fosse ele e a pequena multidão que lá aparecia para o observar e, consequentemente, consumir. Apesar de ser lá da terra, nunca tinha tido grande confiança com quem lá vivia, porque se tivesse, a mÃstica à volta da sua pessoa, à medida que ia dando confiança com quem convivia, iria desaparecer, assim como um nevoeio matinal, ao dar confiança ao sol, desaparece ao meio dia. Talvez por gostar que o erguessem a estatuto de realeza e pelos direitos extra que lhe eram concedidos, talvez por isso, e, quem sabe, algo mais, Jonas, gostasse da vida que tinha. «A vida é fácil. Podemos atingir o sucesso por dois caminhos, ou pela criatividade, ou por muito trabalho. Eu não diria que o atingi pela criatividade, mas se escolhesse um dos dois, seria o primeiro. Boa publicidade e gente desesperada, é o que faz, na terra dos cegos, um homem com um olho rei.»
http://mindmakers.wordpress.com/2008/11/21/jonas/