Anne Marie
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GRITOS MUDOS
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« em: Janeiro 15, 2009, 23:15:23 » |
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As lágrimas inundavam os rostos exaustos daquelas crianças, famintas de afectos. Maria sentia-se um farrapo sujo onde todos limpavam as mãos manchadas de fúria e despeito. De que lhes valia uma casa maior e nova se nada mudava à sua volta. A felicidade era apenas uma miragem pintada no vácuo de uma porta fechada.
O jantar era servido a vossa excelência, preparadíssimo na hora. Duas postas de congro estufadas com torradinhas acompanhar, enquanto isso, Maria aquecia as sobras do almoço para ela e seus filhos, e ai de quem reclamasse. O tempo tomava conta da rotina passada. Os dias corriam apressadamente, pareciam fugir da prepotência daquela casa.
Aproximava-se o mês de Junho, Alice termina o 6º ano. As festas São-joaninas espreitavam por todo o lado, mas estas jovens não podiam sequer sonhar em dar um passinho de dança. A não ser que seu pai as acompanhasse. Dançavam umas com as outras ou então teriam que dançar com a mãe, estavam proibidas de terem amizades pois para António todas as amigas eram uma má influência para elas. Isto só acontecia quando António tinha vontade de comer uns tremoços e beber uma cerveja. Até porque sempre fora contra este tipo de festas em bairros sociais, pois perturbavam a paz e o sossego de quem queria estar em silêncio no seu lar.
Alice começa a trabalhar na fábrica de conservas como aprendiz, tal como lhe fora avisado por seu pai. Eduarda completa o 5º ano do ensino básico, nunca tinha reprovado. Era uma criança muito franzida, tímida e super inteligente, tirava sempre excelentes notas.
Estava prestes a completar os seus onze anos de idade mas também já sabia que o seu destino iria ser igual ao da sua irmã Alice. Já nada a surpreendia, embora com muita mágoa pois o seu sonho era seguir os estudos mas tinha percepção que isso seria completamente impossível.
Joaquim o homem da família passa da segunda para a terceira classe. António todo orgulhoso mostra o diploma de seu filho a todos os seus amigos.
- Tu vê lá filho, olha que eu quero que tu sigas os estudos e sejas alguém na vida. És o meu orgulho filho a ti não te vai faltar nada.
Joaquim todo babado responde. - Obrigada paizinho eu por si faço tudo.
António continuava com a baixa médica mas pelo menos agora já tinha três mulas a trabalhar para as dietas dele que pareciam mais o manjar dos Deuses. Tudo corria bem aparentemente, pelo menos em termos financeiros.
Anne Marie
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