hoje vou editar silêncio

[Mel de Carvalho]

o soalho range sobre os pés.
a madeira dói.  geme a casa antiga. a casa da língua.
o soalho ainda, tábua a tábua, justaposto paralelo
ressoa nos passos
e  nos silêncios.

o teu silêncio. o meu silêncio. e a palavra
retraída na casa da língua. a carne viva, a viva voz…
alegoria neandertal de homem das cavernas.
…

hoje vou editar o silêncio. rasgo-o, desabitado:
- os dedos no teclado
e um barco num porto de mar. e a buza prenúncio de partida.

como uma pálpebra
uma pestana

caída

no seio  da madrugada polar
qual  flor acéfala que cresceu em sítio errado.

hoje
em cada pingo de chuva a respingar caleiras e beirados poderia decantar
a hemodiálise diurética dum ácido corrosivo que abocanha
estulto  o malmequer perene do teu  riso
se, em si maior,  ainda , um nome, uma brisa,  uma  melodia, se eleva
resgatando silêncios do teu peito.

hoje,

talvez ainda te fale de amor …

   por hoje, ainda.

amanhã, quiçá a geada da noite tenha
definitivamente toldado, um a um, todos os bagos de romã …

[Vera Silva]

"hoje,

talvez ainda te fale de amor …

   por hoje, ainda."

Amanhã logo se vê...

Belíssimo Mel!

Beijo

[Luis F]

Mel

Continuas a perfumar com mestria este nosso canto... mais um lindo poema

Com amizade
Luis

[DavidGomes]

poema rico em palavras e numa imagem fascinante que as tuas palavras demonstram.

[Goreti Dias]

"hoje,

talvez ainda te fale de amor …

   por hoje, ainda. "

Assim seja! Sabe bem!

Bj

[Jorge Vieira Cardoso]

***o teu silêncio. o meu silêncio.

o fraxionar das palavras fala em nome dos silêncios!

muito bonito...

beijo...

[Orlando Monteiro]

o teu silêncio. o meu silêncio. e a palavra
retraída na casa da língua. a carne viva, a viva voz…

A um poeta é muito mais facil escrever que lhe vai na alma que falar, às vezes há coisas sem solução que não se pode falar ou falar nada resolve, mas falar(escrever) sobre elas ajuda, desabafar ajuda, então quando feito com tanta mestria dá um lindo poema sentido.

Abraço

Orlando

[Aleph]

Cara Mel de Carvalho,

Muito belo este poema, invocando imagens fortes; proporcionando uma leitura cujos ritmos, formas, associações de ideias e de palavras nos ecoam na mente durante algum tempo. Sensível, muito bem escrito, conseguindo fazer com que pensemos que tal como como a metáfora da flor acéfala se pode traduzir em mero caule, também o silêncio se traduziria em mero vazio, não fosse ele editado pela Mel de Carvalho sob a forma de tão belo poema.

.......
Aleph

[Vanda Paz]

Muito bonito Mel

Beijo com saudades

[Carla Costeira]

mais uma vez... encantada com a tua poesia!

Bjs amiga *****