Vela de pano

[vaza pinheiro]

Hoje não falo de amor,
hoje, não cheiro as rosas
nem outra flor qualquer,
desfolhada por engano.

Hoje foge-me o horizonte,
debruçado na amurada
deste velho bergantim,
hoje quero falar   sim
de vós outros   não de mim.

Capitão,
timoneiro,
arrais,
vou na esteira deste rio
onde o vento bate frio
sem saber onde é o cais.

Hoje não falo de amor,
nem sequer olho o luar,
meus sonhos por lá ficaram
num porão de alto mar.

O dia já não entrou
neste canto
meu refúgio,
minha estrela desnudada,
sem tela
pincel
sem nada,
apenas a espiga de trigo
onde o cometa que sou
a custo
ouve o passado.

Meu amor   hoje não sei
onde o meu corpo abstracto
vê o céu abobadado,
sem a hera e a alfazema
a crescerem a meu lado.

Hoje não falo de amor,
hoje só quero sentir
a suavidade das mãos
nas teclas do teu piano:
meu corpo nu,
meu batel,
navegando a todo o pano.

vaza pinheiro

[Goreti Dias]

Num barco de poesia, segue o timoneiro que não querendo falar de amor, o canta em cada um dos versos que constituem este belo poema. Um bom ritmo, uma óptima musicalidade em estrofes bem organizadas. Sinestesias deslizando pelas próprias metáforas. Original!
Seja muito bem-vindo a esta casa!
Abraço

[Dionísio Dinis]

Não escrever escrevendo assim o amor, é como inundar o mar com todos os rios da poesia.Muito bom!
Seja muito bem-vindo, faça desta a sua casa!

[vaza pinheiro]

Cara Goretídias,
os meus agradecimentos pelo acolhimento. Como muito bem diz, o ritmo, a musicalidade e a metáfora, são elementos indispensáveis na poesia. Um abraço também para Dionísio Dinis.
vaza pinheiro  

[vaza pinheiro]

Conceição Bernardino, só hoje lhe posso manifestar o meu agrado pelo seu comentário. É sempre bom viajar com a eternidade musical das palavras. Um abraço.
vaza pinheiro

[Sandra Fonseca]

"Hoje não falo de amor,
hoje só quero sentir
a suavidade das mãos
nas teclas do teu piano:
meu corpo nu,
meu batel,
navegando a todo o pano."

Sua poesia possui extraordinária beleza, musicalidade. Foi um prazer ler.
Abraço.

[cleo]

Um dos mais belos poemas que li algum dia e por isso mesmo, um dos que me deixam completamente sem palavras...

Muito belo, sem dúvida alguma!

Beijo

[vaza pinheiro]

Caro Júlio Saraiva, lembrando Chico Buarque, deste lado do Atlântico lhe mando um forte abraço de mar.
 
Aproveitando os bons ventos do EscritArtes, também a Sandra Fonseca lhe testemunho o meu reconhecimentos pelas suas palavras.

vaza pinheiro

[vaza pinheiro]

Caro Domingos da Mota.

- Agradeço a sua leitura deste poema, eu diria, a navegar à bolina cerrada com as suas palavras amigas.

Cara amiga Dite Apolinário, permita que a trate deste modo.
Um amigo das letras meu amigo é. Todos nós, seja através da poesia ou da prosa e demais géneros literários, navegamos muito pelos mares e luas do sonho.

Bem haja

[Joaquim Sustelo]

Hoje não fala de amor... é caso para perguntar: como seria se falasse?
Muito bonito este poema!

Um abraço

Sustelo

[Landa]

Fernando
Um dos teus mais belos poemas
Adorei
Beijinhos
Landa