Goreti Dias
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« em: Outubro 28, 2007, 09:39:44 » |
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Guida bate na porta castanha do escritório do seu colega. Acabara de atender o seu último cliente . Filipe tinha a mesma idade de Guida, mas fizera os seus estudos em Lisboa, ao passo que Guida tirara o seu curso de Direito em Coimbra. O facto de morarem perto um do outro tinha feito com que estagiassem no mesmo consultório de advocacia, numa cidade próxima das suas aldeias. Assim se tinham conhecido. Nunca tinham tido um relacionamento muito íntimo. Conversavam apenas do seu trabalho e quase nada sabiam um do outro. Terminado o estágio, resolveram montar escritório juntos numa cidadezinha próxima. Isso obrigou-os a falarem mais e a conviverem. O coração de Guida foi-se abrindo pouco a pouco. As pequenas atenções que ele lhe dispensava eram um bálsamo para as suas feridas. - Pode entrar! – respondeu com a sua voz forte. Guida sentou-se na cadeira à frente da secretária e passaram em revista os assuntos do dia, combinaram as idas ao Tribunal para a semana seguinte, poucas por acaso, pois estavam em vésperas de Natal. Falaram de festas de passagem de ano. Filipe não iria a lado nenhum em especial pois a sua esposa detestava o barulho das discotecas e não era muito dada a convívios. Além disso, tinham um filho ainda pequeno e era difícil arranjar quem cuidasse dele durante a noite. À despedida, Guida entregou-lhe um pequeno embrulho e desejou-lhe um bom Natal. Filipe retirou o papel colorido com cuidado e abriu a pequena caixa que ele continha. - Obrigado, é muito bonita – disse Filipe ao ver a elegante caneta de prata. - Espero que a use! – retorquiu a jovem. Filipe reparou, então, num pequeno bilhete pousado no fundo da caixa e disse: - Isto leio depois, sozinho! Despediram-se cordialmente. Na semana seguinte pouco se falaram, o tempo nunca dava, aquele final de ano mostrou-se muito trabalhoso. Parecia que toda a gente tinha querido aproveitar as mini férias para vir ao consultório tratar dos seus assuntos. Mas, na véspera de Fim de Ano, o trabalho abrandou e Guida procurou o seu colega no escritório, deixado vago pela última cliente. - Olá Filipe! Tudo bem? Pensei que nem viesse hoje trabalhar. Como é véspera de Fim de Ano... - Não vou a lado nenhum. Por isso, não tenho nada para preparar. A propósito daquele bilhete... Obrigado pela consideração. Mas... somos assim tão diferentes? Você é tão sonhadora e eu tão realista? Reparando melhor no rosto da advogada, Filipe diz-lhe: - Mas você está triste! O que aconteceu? Guida teve vontade de chorar, mas não o fez. Apenas disse: - Vou entrar sozinha no novo ano. Eu sou assim tão de se jogar fora? A pergunta tinha surgido sem ela querer, mas a verdade é que o tom tinha saído carregado de um misto de sensualidade e atrevimento. Filipe foi apanhado de surpresa e tartamudeou : - Não, pelo contrário! Há, porém, coisas que eu não devia dizer... - Abra hoje uma excepção, não fique tão preso às conveniências. Diga o que quiser. Mas Filipe apenas lhe perguntou se na próxima Segunda- feira não podia ir mais cedo ao consultório. Gostava de lhe falar com mais vagar e entregar-lhe-ia, por escrito, a resposta ao seu bilhete de Natal. Guida aceitou e combinaram, então, chegar os dois mais cedo para conversarem. À saída, ela disse: - Quando soar a última badalada da meia-noite peça a realização de um desejo, como é costume fazer-se em tais ocasiões. Deseje... Guida não chegou a completar a frase. Ia dizer “deseje que eu encontre depressa um amigo muito amigo que acabe com o meu desespero e solidão”, mas ele não esperou e terminou dizendo com uma voz rouca e sensual: - Não devia, mas vou desejar muito, muito... Olharam-se nos olhos e o Mundo pareceu flutuar. Despediram-se rapidamente como que ansiosos que o tempo passasse bem depressa. E passou! Pelo menos para Guida que pareceu andar nas nuvens todo o fim-de-semana. Nem se sentiu solitária durante aqueles dias. Ansiava por Segunda-feira. Chegado o tão esperado dia, ela foi a primeira a aparecer no escritório. A secretária ficou pasmada . - Tão cedo Sr.ª Dr.ª? - Eu e o Dr. Filipe temos uns casos para rever em conjunto. Quando ele chegar, avise-me, por favor. - Certamente! Não teve de esperar muito. Logo, logo, ele chegou. Soou a voz da funcionária pelo intercomunicador: - Sr.ª Dr.ª, chegou... Guida nem a deixou acabar e ... - Sim, vou já! Filipe esperava sentado à sua secretária. Brincava com umas folhas de papel, dobradas, que pareciam bailar entre os seus dedos. Levantou-se, pousando-as, para lhe oferecer um lugar à sua frente. Sentaram-se, olhando-se. Foi Filipe quem começou: - Guida, tenho aqui algo que escrevi para ti, mas a resposta àquele bilhete prefiro dar-ta de viva voz. Lês isso depois, sozinha. Ela interrompeu-o e, audaciosa, diz-lhe baixinho: - Se vamos falar em assuntos extra trabalho e vamos ser amigos passa para este lado de cá. Aí ficas muito profissional. Vês, até já nos estamos a tratar por tu!... Ele não se fez rogado, puxou uma cadeira para junto dela e tomou-lhe as mãos, apertando-as. Mas as palavras não saíam, ouvia-se ruído de pessoas na sala de espera. Afinal, alguns clientes também tinham chegado mais cedo. Mas Filipe fez-lhe sinal para que passassem à outra sala. Aí, sem receios, sentaram-se frente a frente, os joelhos tocando-se. Não souberam que dizer. Ele puxou-a contra si, passado pouco tempo não sabiam se tinham estado sentados sequer. De pé, um bem apertado contra o outro, beijavam-se loucamente. Ele não tinha começado sequer pela face. Fora directamente para a sua boca, suas línguas tocando-se, numa intimidade da qual já não era possível recuar. Ela suspira: - Há quanto tempo esperava por isto! Ele volta a beijá-la, aperta-a quase selvaticamente e geme: - Adoro-te desde o primeiro dia em que te vi! Sem dar conta, a sua blusa desaparece, o seu body rendado cor de salmão é descido deixando os seus seios de bicos erectos à mercê dos seus lábios e das suas mãos. É com alguma violência que ele os aperta e os suga, parece não ter tempo. Começam a perder o controle da situação. Ela sente-o sexualmente excitado e sabe que precisa parar, ou será tarde demais. - Filipe, pára, por favor... - Ora, tem juízo! Somos adultos, não somos? Vá, toca-me! - Não, por favor, aqui não. Vamos arranjar outro lugar para que tudo seja como deve ser. - Então sai. Caso contrário, não serei capaz de parar. Guida veste à pressa a blusa, passa a mão pelos cabelos, nervosa. Guarda na sua pasta as folhas que Filipe lhe dera. Compõe a postura enquanto ele tenta fazer o mesmo, sentado à secretária. Quando chegou ao seu gabinete, a primeira coisa que fez foi pegar nas folhas para ler. Eram poemas. Estavam muito bem escritos, a sua técnica era perfeita, mas não eram uma declaração de amor como ela tinha pensado. Filipe mostrava neles uma sensibilidade que ela lhe não supusera. Fica estupefacta.
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