Alucinações - 8

[Goreti Dias]

...


   17h 50!
   Não aguento mais a pressão deste escritório. Vou-me embora. Despeço-me rapidamente da secretária e dirijo-me ao carro estacionado em frente ao prédio. Enquanto conduzo, vou admirando como anoitece cedo e sinto a alma negra como o céu carregado de nuvens .
   Chego a casa e, lentamente, solto os meus cabelos da trança que os aprisiona. Correm-me soltos pelos ombros em ondas de sonho que não ousei sonhar e choro docemente pelo que não fui capaz de dizer, de fazer, de ser. Duas lágrimas deslizam dos meus olhos e secam na aridez das minhas faces. Choro pelo tempo que não vivi, pelo que não aprendi, pelo que não fruí. A saudade desce lentamente acompanhando o cair da noite... Choro pela mão que te não estendi, pelo sorriso que me não viste, pelo olhar que te não suportei...
   A noite é negra, a madrugada tarda... nem uma estrela surgirá para me orientar no caminho e perder-me-ei nas brumas matinais, ignorando que a manhã se esconde, mas está ali.
-   Vem! Dá-me a tua mão...
-   Jamais!
Jamais é muito tempo, mas assim és...


...


Guida anda nas nuvens nos dias que se seguem. Olha Filipe nos olhos e sente-se
 desfalecer...
-   Guida, vamos Sábado a algum lado?
-   Onde?
-   Logo vemos. Vais ter comigo?
   Marcaram um encontro e andaram às voltas, juntos, no carro dele. Até que ele lhe propõe:
-   Há ali uma residencial...
   Foi como se tivesse levado um soco no estômago. Era coincidência a mais. Mas aceita.
   Entram muito comprometidos, mas Guida vive um lindo sonho. Quanta ternura, quanta delicadeza ... Aquele amor estava muito próximo do Absoluto, do Infinito... Aninhada nos seus braços, sonhava acordada, incrédula com tanta felicidade.
-   Filipe, uma chave do meu apartamento para ti. Lá será melhor!
-   Vamos, vai-se fazendo tarde!
   Guida abraça-o fortemente e sussurra perto dos seus lábios:
-   Amo-te.
   O esperado beijo de amor não veio. Em sua vez:
-   Não confundamos as coisas. Isto não é amor!


...