vaza pinheiro
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« em: Fevereiro 17, 2009, 23:27:05 » |
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Não é novidade! A poesia portuguesa mais antiga é rimada. Só mais tarde, com os Àrcades, um clube de literatos, fundado no século XVIII, vindos à ribalta para combater o barroquismo seicentista e com a assunção do [iversilibrismo[/i] pela poesia moderna, foi combatido com sucesso a obrigatoriedade da rima.
Entende-se o versilibrismo por verso livre ou linha poética, cuja forma depende apenas do ritmo, segundo o qual a frase vai ao encontro do poeta e não aceita a classificação de prosa poética. Acrescentaria: não aceita a prosa poética dos clássicos como Virgílio e Horácio. No entanto, estamos em crer e para nosso próprio deleite, que muitos textos curtos de prosadores actuais por nós admirados, sejam contos ou ficção, trilham na modernidade os caminhos do classicismo, todavia, com uma linguagem inovadora e esteticamente mais aliciante.
O Versilibrismo enfatiza o ritmo do poema e a espontaneidade, traduzindo os sentimentos e as emoções do poeta, numa simbiose perfeita entre o motivo que vai desenhando no papel e as cogitações do seu próprio eu, delegando na metáfora, oculta ou não, a explicação do labor criativo. Postula que a poesia existe para além do formalismo social, dando a primazia à intuição criadora, levando a Arte às portas do prefeccionismo.
Tem-se como adquirido que os primeiros arpejos do verso livre podem remontar à poesia medieval, consequentemente muito anterior ao Simbolismo, tendência que impôs esse conceito, elevando a arte poética a um patamar superior da evolução estética e da liberdade criativa, quer peninsular, quer europeia. Lembrando a escola francesa, o Anfitriâo de Molière é considerado como verso livre, bem como as Fábulas de La Fontaine. Tanta aceitação teve que nem mesmo a estética barroca se furtou às violações dos cânones quinhentistas. Alguns, de entre os mais cotados criadores da época, afastavam-se do tal despotismo da rima para se aproximarem dos clássicos. D. Francismo Manuel de Melo, militar de carreira e prolixo autor dos mais variados temas, foi um deles, sobretudo na lírica e nas odes escarninhas.
Fora do âmbito deste trabalho, mas para citarmos um nosso contemporâneo avesso à rima, lembramos esta estrofe de Fernando Pessoa, pela mão de Ricardo Reis: Um dia/lá para o fim do mundo/alguém escreverá sobre mim um poema/e talvez só então eu comece a reinar no meu Reino.
Os Românticos romperam com quase todos os géneros de formas fixas. Baudelaire foi um deles, tal qual como Rimbaud ao compôr os seus Pequenos Poemas (tradução minha) em prosa, vindos à estampa em 1869. Algumas corrente defendiam que o verso não era indispensável à poesia, mas respeitavam as regras tradicionais da construção poética, como o ritmo e a métrica. Para melhor explicar as suas ideias, era esse o caminho mais curto para chegar à definição real do estilo da poesia, devendo procurá-lo também na prosa. Quem contraria esta tendência, são, ainda e sempre, os supra citados simbolistas, fiéis defensores do romantismo vazio; do amor melancólico; do pessimismo existencial; do distanciamento do real, etc, etc,. Herdeiros do Parnasianismo, para além dos ensinamentos de Baudelaire, Rimbaud e Verlaine, expoentes máximos da escola francesa, de quem herdamos o Simbolismo , encontramos na primeira fila da poesia portuguesa, os nomes de Eugénio de Castro; Guerra Junqueiro; António Nobre; Antero, com a sua dialética revolucionária e tendencial desprezo pela vida, sem que a lista se fique por aqui.
Por último, repisar que os primeiros poemas em verso livre aparecem em Portugal pelo punho de Eugénio de Castro. Dizer também que o Simbolismo viajou daqui para o Brasil, vindo à estampa no Rio de Janeiro as Canções sem Metro , poemas em prosa. Cecília Meireles, Homero Prates e Murilo Araújo foram alguns dos mais ilustres Versilibristas do país irmão.
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