A meu Lado

[Bruno Sousa Villar]

Viu-a passar com a cesta
cheia de pão fresco
o menino da rua quase morto
de fome

Viu-a passar com a cesta
cheia de sonhos de saúde
o menino pela rua quase morto
encheu-se de coragem e quando

ela passou, atacou a cesta,
roubando uma bolinha fresca, ou seria
um papo seco?, não sei,
minha imaginação,
hoje não está para rigores,

O menino da rua mal conseguiu fugir,
no entanto encontrou esconderijo na rua
que o adoptara - numa boca de esgoto.

Depois, ainda cheio de coragem desfez
a bolinha, rasgou a côdea até chegar com
a língua ao miolo.

O miolo apresentava um sabor amargo, aliás,
profundamente indigesto.

No miolo habitava o medo de não voltar a comer.

O menino da rua passou a comer migalhas da bolinha,
uma por cada dia, a bolinha não tinha grande tamanho
e a fome do menino era maior.

O menino não viveu muito tempo, mas apesar de tudo,
é uma história feliz, ele está aqui a meu lado,
rasgando a côdea até chegar ao miolo do poema,como
tu procuras fazer, amigo leitor.

[Goreti Dias]

No miolo do poema estará a preocupação social tão necessária nos tempos que correm. Sem artifícios, nua e crua.

[Dionísio Dinis]

Consciente e assertivo!Um poema subliminarmente e eficaz!