Reflexão

[César]

Gosto de fazer versos medidos e rimados, busco o exemplo dos clássicos e gosto de me criticar a mim mesmo, melhor dizendo, de autocriticar-me.

No Soneto a Anabela todas as rimas são pobres, nome com nome, verbo com verbo, adjectivo com adjectivo. Isto é tido como um defeito formal, como se sabe, um indício claro de falta de virtuosismo. As rimas devem ser fortes, isto é, ocorrerem em palavras de qualidade diferente, como, por exemplo, substantivos com formas verbais, adjectivos com preposições, formas verbais com adjectivos, etc.

Os dois tercetos do soneto estão também defeituosos. Não constituem uma unidade isolada que contenha em si um ou mais períodos definidos. O primeiro terceto, que deve preparar o terceto final, extravasa o assunto para este, e o final, que devia todo ele conter-se no último terceto todo, apenas se contém nos dois versos derradeiros.

Como os sonetos clássicos são escandidos na chamada medida nova, versos decassilábicos heróicos, isto é, decassílabos com acentuação na sexta sílaba tónica, neste ponto o soneto parece-me correcto. Por sonetos clássicos entendo os do Renascimento, que depois se estendem até hoje, apanhando na sua longa vida pelo caminho sonetos em versos alexandrinos, sonetilhos em heptassílabos e sonetos sem medida certa e em verso branco,  ou apenas um destes casos, como são muitos sonetos do séc. XX para cá.

Quanto ao assunto, que é, com o ritmo e a música que o servem, o cerne de qualquer poema, aí já me calo por várias razões, nomeadamente por não saber ou por não saber ainda exprimir-me de um modo mais actual.

Creio que eu pensar em voz alta pode ter algum interesse, mais do que a esmagadora maioria dos meus versos, que fazia até hoje sem guardar.

César

[Goreti Dias]

Todo interesse esta reflexão! Agradecemos!

[Vóny Ferreira]

Aqui está uma reflexão muito oportuna e até original