não te demitas

[Mel de Carvalho]

não te demitas.

sobe ao palco e grita. grita bem alto o que te vai na alma,

    ergue o punho

    ergue o olhar

    apressa o passo que o ontem tarda

    o hoje é agora:

                 - o amanhã madruga em rugas vincadas a ferros p’la incerteza.

 

não temas, enfrenta as bestas

enfrenta quem te chacina. que chacina maior é a que te vai na alma

a que te seca a boca quando o salário não chega,

quando a luz de tua casa se apaga, porque a não pagaste

se não tinhas como…

quando o teu filho sofre porque não o abraças

de tão cansado que estás na tua maldita“safra”

de desempregado em contracção

ou  quando te fecham a porta e não mais és que,

nem sequer,  “operário em construção”.

 

Ah,  companheiro,

 

não te demitas,

toma rédeas à tua vida. encena a peça, sê actor,

faz tocar a batuta, rege a orquestra:

 

    se te dizem que se vivem mil vidas, vive-as nesta.

    nesta. que é desta  que tens clara certeza de viver.

    não adies a decisão. não proteles a consciência

    nem sequer me digas que não tens a ver com política…

 

a política, companheiro, é a água que bebes duma assentada,

e se está escassa, se não banha límpida as várzeas

onde se cultiva o trigo o problema não é teu?

 

não te demitas, basta!
faz nascer pão da semente contida nesta  palavra,

                diz não à demissão!

                              (que mais não tenho para te oferecer ...)

[vaza pinheiro]

Mel de carvalho

Muito actual o seu poema, muita denúncia necessária e muita luta por travar. Era bom que todos nós usássemos o nosso instrumento para levar mais longe o incentivo. A musicalidade e o ritmo são excelentes. Parabéns!

Um abraço

fernandovaza 

[Mel de Carvalho]

Estimados Vaza Pinheiro e Júlio Saraiva:

Sobre este mesmo tema, deixei agora mesmo aqui um poema antigo
"Um poema como um grito" que está publicado na Revista Seara Nova (2º Trimestre de 2008).


Grata pelas vossas solidárias palavras.
Mel

[Goreti Dias]

Um grito, uma revolta, um incentivo à luta!
Beijo

[josé antonio]

Boa noite Mel,

Há 39 anos que luto e ajudo a lutar!
E depois? Qual o resultado?
Ficamos pela vontade da poesia...
Abraço

[Vanda Paz]

Admiro-te, admiro-te muito

Beijos com saudades

[helenacosta]

 Mel,

Poema actual nos  dias de hoje. Um grito de coragem e de luta.Parabéns!


Beijo

Helena