josé antonio
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escrever é um acto de partilha
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« em: Maio 20, 2009, 14:55:20 » |
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ISU, nunca teve uma desilusão amorosa. Nunca viu campos verdejantes, um crepúsculo ou mesmo borboletas coloridas. Mesmo assim arriscou-se no mundo da poesia e lançou um livro. Poesia robótica é o nome da obra assinada por Isu, o robô-poeta, criado pelo artista português Leonel Moura. “ A robótica está no começo. A nova arte do século 21 também. No meu caso, juntei as duas coisas e penso que assim abro novos campos para a arte e para a inteligência, humanas e não humanas.â€, diz o criador. A criatura por sua vez é bem simples. À estrutura mecânica somam-se três canetas, que riscam o papel enquanto as rodinhas de Isu deslizam sobre a folha. O processo de trabalho e a caligrafia do pequenino lembram uma espécie de psicografia. Mas, no lugar de espÃritos ditando o texto, há a memória do robô, nutrida com palavras derivadas das obras de brandes poetas. O nome de Isu é referência a Isidore Isou, um dos criadores do movimento francês conhecido como letrismo, nos anos de 1950.
O pequeno robô escolhe as primeiras letras aleatoriamente. Em seguida, opta por letras que sejam capazes de formar palavras. Quando julga que terminou, ele se desloca para o canto inferior direito e, é claro, assina.
O processo aleatório busca inspiração nas primeiras experiências dadaÃstas, do inÃcio do século passado, especialmente as do romeno Tristan Tzara, que montava poemas escolhendo aleatoriamente a partir de um saco de pano. Nessa mesma linha, Isu escreve poemas como “ Fome sexo vento mulher nuaâ€. O sentido fica por conta do observador. Se o objectivo da poesia automática é gerar um corte com a consciência, Leonel defende que Isu é o maior poeta nesse domÃnio, já que o robô não tem nenhuma. O livro foi escrito numa semana. Dos 100 poemas que Isu redigiu, Leonel seleccionou os 30 legÃveis. Por vezes, o fluxo criativo do brinquedo fez com que as palavras ficassem sobrepostas e a leitura inviável. “ Mas o que ele escreve não é simplesmente aleatórioâ€, pondere Leonel, defendendo que Isu tem identidade e uma maneira de escrever com letra própria e engraçada, “ algo infantilâ€.
Os primeiros projectos geraram robôs pintores. Um deles está desde 2007 no Museu de História Natural de Nova York. Incansavelmente, ele faz desenhos, decide quando estão prontos e assina no final. Depois começa tudo de novo. O pessoal do museu apenas muda as canetas, uma vez por semana.
Com o livro recém-lançado em Portugal, há planos para edição em inglês e publicações noutros paÃses. A criatividade robótica interessa a muitos curiosos, segundo o artista. Gera dúvidas como “ seremos os únicos com o dom da poesia?†ou “ a emoção artificial é possÃvel?â€
Quando terminei estas linhas, certamente que Mallarmé se voltou de costas e continuou indiferente depois de ter defendido que a poesia – “ é a suprema forma da beleza!â€.
Eu, por mim, vou comprar um robô para postar por mim quando as musas ma abandonarem…
Abraço do
José António
20/05/2009
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