Mulheres
Ó as mulheres, as mulheres, as mulheres...
Enrolados, os seus cabelos cheiram bem, a limão e a gengibre.
Lisos são de seda, de cambraia, de água.
Às vezes são negros como o terror, outras vezes vermelhos de cor entre as laranjas e os diospiros, outras vezes loiros como o pão e as tangerinas bem maduras ou castanhos como a terra e as tonas dos pinheiros bravos.
Os seus olhos, resplandecentes, metem medo até ao sol que teme empalidecer. E movem-se gaiatamente como as crianças no recreio. E enlanguescem na sesta ao entardecer.
A boca é uma caverna prometedora . Tem rubis, ametistas, pérolas e esmeraldas mas, lá no fundo, por debaixo dos rubis, fervem pecados que eu amo.
O colo é... o colo: Coluna de jaspe que sustenta o céu.
O peito é uma rolinha gémea a arrolar-se em nós . E é o bidorso de um cavalo alado voando até ao cimo dos meus ardores . Mas é também um cobertor que nos afaga quando estamos friorentos, doloridos.
Na sua barriga brincamos nossos jogos terrÃveis e secretos . Uma mesa de bilhar que, embaixo, absorve as nossa bolas, as duas brancas mas também a vermelha, perigosa. Um campo de golfe onde perdemos e ganhamos a pela, no meio dos brejos .
O seu umbigo é uma estrada descendente, helicoidal, que se fica bem perto mas parece conduzir-nos ao teu interior , mulher .
Mas para em ti penetrarmos, mulher, temos de procurar, furiosamente, mais em baixo onde se encontra a porta do inferno e do paraÃso. Para onde vão as nossas bolas de jogar mas também os nossos mais profundos pensamentos e quereres.
Ali está deus que nos fez e faz.
É ali que devemos encontrá-lo a não ser que, dando a volta a esse mundo, nos deixes procurá-lo no outro lado, nesse lado não criador mas onde se encontra a fonte dos prazeres mais proibidos .
As tuas pernas, mulher, são duas gazelinhas encantadoras. Às vezes tremeluzinhas, como acabadas de nascer. Outras vezes ágeis correndo como quem se ri do caçador e novamente incertas como quem já vislumbra o fim para onde caminham .
Amo as tuas pernas mulher , a cova funda e estreita no meio delas, a barriga lisa ou abaulada que as supera, o outro lado que me repele tanto como me atrai, os seios fartos ou nascentes que me chamam, o colo que gosto de ameigar, a boca em que gosto de entrar, os olhos que me miram e vêm o que em mim não existe, os cabelos em que me enrolo e me perco.
Mas do que eu gosto verdadeiramente, mulher, o que me enlouquece, me entontece, me desvaria, me deixa tremendo gemebundo, me tira do sério me leva aos montes brancos e às profundezas dos buracos negros no fim do mundo para além dos pulsares e dos quasares, são os teus, os seus, os vossos PÉS.
Geraldes de Carvalho