do conhecimento - II -
Temo que tenham ficado com uma ideia errada -simplista, logo errada- sobre a maneira como concebo a génese do pensamento.
Na verdade expressei-me muito mal dando a impressão que penso que o pensamento é uma actividade individualista e que há “pessoas†que são capazes de levar o pensamento mais longe do que outras. E outras que são mesmo capazes de o levar até ao fim.
Isto pode ter sido verdadeiro até ao séc. 17 ou 18 mas, entretanto, deixou pouco a pouco de sê-lo -verdadeiro-.
O conhecimento é hoje uma actividade colectiva de maneira que sobre um determinado assunto -o pensamento, por ex. - alguns sábios -chamemos-lhe assim- formulam apenas as sÃnteses iniciais -ou seja dizem coisas- que depois os outros pegam -ou não- e analisam exaustivamente, análises que outras pessoas pegam, ou não, dedicando-se a construir as sÃnteses finais depois de se desfazerem da muita tralha em que a análise vem quase sempre envolvida.
E é claro que a ganga que inquina o conhecimento aparece muitas vezes logo na primeira sÃntese que pode revelar-se completamente imprópria para qualquer análise ou na sÃntese final que pode ser absolutamente não exigida pela análise. Acontece também que por vezes estes erros se revelam, mais tarde, ser falsos erros, erros que só foram entendidos como tais devido ao facto de um incompetente raciocÃnio ou de um raciocÃnio inquinado pelas incompletudes do conhecimento. Daà que se retomem muitas primeiras sÃnteses, análises e sÃnteses finais, antes indevidamente abandonadas algumas vezes por canhestrice -a palavra não existe mas gosto dela- outra vezes porque teve mesmo de ser assim.
Não falta por isso quem diga que a ciência é o estudo dos erros do processo de conhecer.
Algumas vezes os cientistas, filósofos e epistemólogos têm consciência da impossibilidade de se dedicarem ao estudo da realidade por completo principalmente quando trabalham em conjunto -num instituto cientÃfico ou filosófico ou lá o que seja. Outra vezes porém não se apercebem do fenómeno e tentam efectivamente realizar todo o processo o que na verdade só os faz perder tempo porque resulta muita coisa inútil ou já sabida, daquilo que tentam fazer .
E isto passou a ser assim devido à extensão desmedida do conhecimento e à s relações estreitas que há entre um conhecimento e todos os outros de maneira que se chega à conclusão de que existe um conhecimento só, que ninguém consegue abarcar . O processo complica-se ainda mais para aqueles que conseguem ver as contradições que resultam das sÃnteses “finais†formulando assim novas primeiras sÃnteses que necessitarão de novas análises etc, etc.
É claro que actualmente já se não formulam as primeiras primeirÃssimas sÃnteses porque o pensamento é uno não só em extensão mas também em profundidade, quero dizer -e não sei se digo- ao longo do tempo e dos tempos.
É também clarÃssimo que há sectores do pensamento que avançam mais rapidamente do que outros e por isso acontece muitas vezes que é preciso refazer esses sectores do conhecimento que avançaram sem atender à s ligações necessárias com outros sectores como acima já dei a entender.
No entanto, desses sectores que é necessário deitar fora, fica sempre alguma coisa ; pelo menos a boa vontade dos que neles trabalharam.
É o que espero que fique deste meu esforço...
Geraldes de Carvalho