antónio paiva
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« em: Janeiro 10, 2008, 12:35:39 » |
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Ando por aqui a somar dias inteiros, sempre de forma idêntica. Tão-pouco me interrogo da gravidade, a existir, de provocações ou retaliações. Por mais que me imponham a esteira para que me enrole na sombra da angústia e do desespero. Ainda que me queiram convencer tratar-se de uma doce dádiva divina. Nunca me esquecerei de dizer: Não!
Abraço muitos dias a solidão, mas por opção própria. Porque preciso de me encontrar comigo mesmo. São tantos os momentos em que a angústia persistentemente me borbulha na alma.
Fico perplexo com a descarada convicção, dita, escrita, transcrita, do conhecimento de Deus e do Amor. Cantam salmos e desdenham liras. Para mim, não se trata de outra coisa, se não, esconder a sombra densa e escura, do outro lado de muitos deles. Quem sabe não seria melhor exporem todos os percursos que deixam escondidos atrás de si. Seriam bem mais honestos consigo mesmos e com os outros. A privacidade de cada um, sim, sei disso. Mas então que não queiram parecer anjos de branca e imaculada candura.
Convém não esquecer que, todos os escritos são obra do homem. Sejam eles bÃblicos, poéticos, históricos, ou de qualquer outra ordem literária. O homem sempre gostou de brilhar e de virtuosismos. A história e as histórias, estão grávidas da vaidade e da falta de seriedade humana. Hoje tal como ontem, isso é um facto, mais ou menos disfarçado.
Não me venham com toalhas de linho cor de pureza, onde estendem a seu belo prazer Deus e o Amor. Prefiro tecidos cor de sombra sem pretensões. Entre o desdenhar das palavras por vaidade própria e as deixarem ficar quietas. Por favor, deixem-nas ficar quietas. Por muito que os resquÃcios da mesquinhez vos tragam famintos.
Depois de um banho intenso de surrealismo, nem o homem nem as palavras, voltarão ao que eram. Engorda-se o gado para se abater de seguida.
Que o ser humano não se acostume, tal como a dor se acostumou a ele. De Deus e do Amor nada sei. Por isso não me atrevo à sua pregação com leviandade e presunção.
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