RÉQUIEM PARA UM NINGUÉM (in voice)

[zésilveiradobrasil]

in voice, José Silveira, MP3
http://www.clesioboeira.com/meump3/CDST-requiem-para-um-ninguem3.mp3

Rastro estanhado no caminho dos dourados tempos idos.
Ermo, nada mais se vê, que uma sombra solitária pelos becos,
de quem arrastou seus pecados por dezenas de anos perdidos.

Se vires naquele sombrio semblante, ainda resquícios de um sorriso,
era de quando nas ruas, os corsos riscavam as pedras do chão,
e as gargalhadas transformavam seus momentos mais garridos.

A madrugada foi companheira fiel, a que abraçou e agasalhou,
e te esperou no banco frio da praça há muito sua única morada,
guardião mudo dos trecos e trapos, farrapos, e teu resto de vida,
ou sobrevida, revivida como um cão submisso e que não ladrou.

Foi o que te sobrou; uma etílica solidão, alma encharcada de álcool,
manchas bronze nas mãos do sarro das guimbas que a sarjeta te ofereceu,
do lixo, e as migalhas dos que lhes deram guarida, não podias rejeitar.
Seus pensamentos morreram irmão.  E o sonho, para sempre se perdeu.

Não houve mais alvorada. Não o verei mendigando na calçada do próximo segundo.
Soube e vim. Mas minha mão não conseguiu chegar a tempo para despedir-me
A noite foi a mais fria do ano. Que pena! Que a madrugada esqueceu-se de ti.

[CAMPISTA CABRAL]

   Um poema que se refere à morte e ao fim, "Que a madrugada esqueceu-se de ti..." que caminha para o solitário "Foi o que te sobrou; uma etílica solidão, alma encharcada de álcool..." e, por outras ainda, caminha pelo cansaço e pelo amargo, "Se vires naquele sombrio semblante, ainda resquícios de um sorriso..."
 mas também pelo saudosismo:Rastro estanhado no caminho dos dourados tempos idos.
   Um belo e melancólico retrato do fim. Ao ler o teu poema, or vezes, senti momentos de Cesário Verde. Em outros trechos um quê de simbolismo. Muito bom o poema.
   A propósito, obrigado pelos comentários sobre o poema Maré. Comecei a brincar um pouco, assim como Pessoa. Se quiseres, leias os escritos de Mário Fernando, Rachel Sá Couto e Luís Dias.
   Ah! A música do Zeca Pagodinho realmente dispensa comentários!! Muito bom!

   Um grande abraço!

[zésilveiradobrasil]

Réquiem para um ninguém é exatamente como dissecaste, e mais, fala profundamente da decadência do homem. da sua entrega desregrada aos vicios, até o abandono de si próprio. Gostei imensamente do seu comentário. Grato poeta.
um forte e fraterno abraço, Campista.
Silveira

[poesiadeneno]

José Silveira,

Um réquiem para todos nós.
Apreciei.



Abraço.

[zésilveiradobrasil]

Neno, agradeço sua leitura e apreciação. De certa forma o poema mostra quão pode ser decadente o homem.
É um grande prazer recebê-lo também aqui.
meu fraterno abraço poeta.
Silveira

[Karla Bardanza]

jOSÉ,

Teu poema é maravilhoso.É daquele tipo que arranca a nossa alma quando o lemos.

Beijinho

Karla Bardanza

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Silveira, acabei de ler um grande poema de um tema bastante forte como forte é tua escrita.
Parabéns mais uma vez.

Abraços...

Oswaldo

[Goreti Dias]

Quando nem a despedida chega a tempo, pobre do homem que jaz sozinho, no infortúnio e no fim.
Abraço