Oswaldo Eurico Rodrigues
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« em: Abril 27, 2010, 22:11:47 » |
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PINTOS POR GARRAFA
Fala-se tanto em reciclagem atualmente. Isso é antigo. Muito mais do que a consciência. Sempre se aproveitou de tudo. A natureza prova isso nos seus ciclos eternos. Quando criamos, recriamos. Portanto recreamos nos lúdicos faça-e-refaça, monte-desmonte-remonte. Uma pétala de flor molhada, um lago para uma larva. A lava escorrida, sais minerais no solo. Brincadeira natural fantástica. E poética como os olhos do guaraná ou a paixão da flor do maracujá (Rimar, pobre de mim, em prosa, algum problema há?). Deixemos de meninice e desperdÃcio. As palavras vêm de manancial renovável. Não abusemos. Vou usar do necessário ao texto. Garrafas de cerveja e de refrigerante ficavam entulhadas nas casas. Naquela época chamávamos os vasilhames de vidro cascos (Palavra esperta. Viaja no navio e nas patas do cavalo enquanto cobre o corpo da tartaruga. Isso é eficiência!). Pois bem. Esses cascos, antes de se rebaixarem a cacos e subirem aos muros em coroa de espinhos hostis, viravam casas de aranha, piscinas de mosquito, banheiro de ratos... Cabia então nos desfazer deles. PodÃamos vender ao ferro-velho. Vidro? Sim. Que papelão! Na sociedade, tudo se compra, tudo se vende e tudo se repete. Salve São Lavoisier! Pois sim. O ouro era pouco. Cada garrafa custava centavos de uma moeda desvalorizada por anos de hiperinflação. Onde estaria o lucro? Insanamente repousava nos porões e sótãos dos egoÃstas. Mas as crianças, esses seres desprovidos de ambição e plenos de altruÃsmo e boa vontade, não deixavam as garrafas descansarem em paz. Em cruzada contra o silêncio, arremetiam-se os paladinos aos espaços poeirentos de onde catavam as pérolas. Não as atiravam aos porcos porque porco “não tinha aliâ€. Tiravam dos porões os vidros e retiravam pintinhos amarelos das mãos dos espertos catadores. Esses passavam de porta em porta trocando as garrafas pelos filhos da galinha. A meninada eufórica em febre tentava trocar até frasco de comprimidos da vovó tamanha a vontade de ter um filhote de penosa para brincar. Não raro esses pintos morriam. Se enterrados, transformavam-se em adubo. Se lembrados fossem, em tortura mental. Caso sobrevivessem robustos (coitados!), preencheriam os estômagos nos domingos.
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