Figas de Saint Pierre de
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« em: Å¿etembro 22, 2009, 21:54:50 » |
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PAPAGAIO FORTE O Nelinho era muito inteligente, mas muito distraÃdo! Como era muito amigo dos animais, que havia lá em casa; cães e gatos em liberdade no quintal, esquecia-se de fazer os deveres escolares! Um dia, a escola alertou os pais para o facto de Nelinho não mostrar os resultados de que era capaz!
Perante esta informação, os pais tomaram providências. Como todos os meninos gostam de prendas, acharam por bem, e como estÃmulo, prometer-lhe um papagaio, caso o filho se aplicasse nos estudos.
Remédio santo! Os olhos de Nelinho logo brilharam. Ah, um papagaio, para falar com ele!
Perante tal perspectiva, Nelinho aplicou-se a fundo e, à noite, enquanto não adormecia, imaginava a cor do seu papagio e qual o nome a dar-lhe. Seria verde e amarelo? Amarelo ou cinzento? E o nome? Que nome lhe daria? Que bom um papagaio, só para ele! Deixaria de ter inveja do dono daquele papagaio, que no seu poleiro, à entrada duma grande casa e visto da rua respondia a quem lhe perguntava: -“Papagaio louro, quem passa?†-“ É o Rei que vai à caça†Ao ouvir a resposta, Nelinho ria de contente, enquanto o papagaio imitava seu rir!
Não tardou a que as notas começassem a melhorar, chegando ao ponto de ser considerado o melhor aluno do ano.... e da escola! Na festa do final do ciclo básico obrigatório, além do Diploma, recebeu dos professores, dos pais e amigos uma grande salva de palmas. Seus pais, sem que ele soubesse, já tinham mandado vir o papagaio do Brasil, escondido numa caixa de sapatos. Era ainda bebé, e ainda com penugem! De manhã, já depois de ter tomado o pequeno almoço, a prenda foi-lhe apresentada. Imaginem a alegria do Nelinho. Primeiro ficou meio basbaque, a olhar, a olhar! Depois, num impulso afectivo, quis acariciar o papagaio, mas este, receoso, não correspondeu, rejeitando o gesto. Os pais explicaram que era preciso muita paciência! Paciência foi o que não faltou ao Nelinho e aos seus amigos, que lá iam a casa ver a prenda faladora do amigo. Dia após dia, os progressos eram galopantes! Nelinho, dava de comer, dava de beber, estava sempre a falar para ele. A grande questão tinha sido escolher o nome, mas como os papapaios falam muito e nada escrevem, o conselho familiar decidiu dar o nome de Sócrates, que depois passou a ser um senhor de dois poleiros; um no cimo da escada da casa, donde era visto por quem na rua passava e que com ele se metiam, outro na sala de visitas, onde acompanhava os serões televisivos dos patrões! Aprendia tudo e não tardou a imitar o choro ou o riso das crianças e até assobiava músicas, sendo a marcha do filme “A Ponte sobre o rio Kwai†a mais imitada! Por vezes até imitava o locutor do noticiário, e no dia seguinte ainda repetia as notÃcias do dia anterior! Também depressa aprendeu inglês e francês, porque se fosse preciso emigrar já estaria preparado!
Inconveniente foi quando aprendeu a chamar a Dona Rosa (a vizinha da frente), que muitas vezes vinha ao engano, pensando ser o carteiro ou o padeiro, etc. Também ladrava como cães, miava como gatos e relinchava como cavalos! Entretanto, cada vez estava mais forte, porque os patrões deixavam-no fazer horas de voo em circuÃto fechado!
Quando era solto na sala e dava uma volta de reconhecimento pousava no ombro do Nelinho, a quem catava as pestanas, com muita ternura! Aos olhos de estranhos parecia uma perigosa operação às cataratas!
Nelinho continuava bem nos estudos e Sócrates ia-o acompanhando nas habilidades discursivas. Tudo entendia, tudo imitava! Um dia, os pais de Nelinho, como reconhecimento da sua aplicação , oferecerem-lhe uma viagem de avião, até Lisboa, na companhia do seu papagaio! No dia marcado, chegados ao Aeroporto, Nelinho e seu papagaio ao ombro, viu ser-lhe negado o embarque, porque Sócrates teria de ir numa gaiola, no porão!
Toda a famÃlia protestou, porque Sócrates era pacÃfico, garantiram que não saÃria do ombro do Nelinho, porque a ele preso com um curto cadeado! Além disso, Sócrates apercebendo da situação, logo disse : “Eu não faço mal, não dou bicadasâ€. Ao ouvir este português escorreito, o supervisor do check-in ficou surpreedido e pediu para fazer uma experiência: queria que Sócrates, já grande e forte papagaio, com forte bico, fosse solto e pousasse no seu ombro até receber ordem em contrário. De bom grado, Nelinho deu ordem a Sócrates para ir agradar ao senhor, e se este quisesse até lhe daria um beijo!
A oferta foi aceite, porque o chefe dos aviões gostava muito de papagaios e sabia das suas potencialidades. Sócrates passou no exame depois de ter feito umas festinhas ao examinador! Como a famiÃlia de Nelinho era numerosa ocuparam seis cadeiras! Sócrates, no meio deles, e preso a Nelinho, não seria problema de segurança, tanto mais que tinha todos os certificados de saúde em dia. De qualquer modo foi um caso excepcional! O avião levantou, mas passados pouco minutos, um dos motores começou a “tossirâ€, “a tossirâ€; a falhar! A cada "tossidela" o avião estremecia e perdia altura.
O alarme soou. Os passageiros entraram em pânico. A tripulação tentava acalmar os ânimos. Sócrates, calmo, muito calmo, perguntava o que se passava. Disseram-lhe que o avião tinha de aterrar de emergência, após um motor ter falhado, outro também já se tinha calado! -“Soltem-me. Soltem-me. Eu posso ajudar†dizia Sócrates. O avião já só planava! -“Soltem-me. Eu ajudo. Eu ajudo. Eu posso ajudarâ€, pedia Sócrates.
Como o avião já estava despresssurisado, fizeram-lhe a vontade, tendo-se escapulido por uma porta da cauda, entretando aberta, e ainda a tempo de, com seu bico forte, muito forte, segurar o bico do avião, ajudando-o a pousar, devagarinho no chão! Uf! Acabou tudo em bem! Sócrates foi levado aos ombros. Foi um herói! Os passageiros, como reconhecimento e gratidão, mandaram fazer uma estátua do papagaio forte, que com seu poderoso bico tinha segurado o “bico†do avião, ajudando-o a pousar no chão!
A estátua de Sócrates foi colocada no aeroporto e cada passageiro ofereceu um quilo de amendoins a Sócrates, como recordação. Sócrates só os começou a comer depois de recuperado da constipação que tinha apanhado por ter saÃdo fora do avião a grande altura! Fazia um frio do caraças! Mas, aqueles amendoins eram bons para coisas ruins! Sócrates não tardou que , de contente, no seu poleiro, chamasse a Dona Rosa, e lá vinha ela, senhora idosa e boa pessoa, ao Sócrates dar dois dedos de conversa, de prosa! Ultimamente, o que ele mais imita é um motor de avião a falhar, logo seguido de: -“Soltem-me, soltem-me, eu ajudo, eu ajudo†............................xxxxxxxxxxxxxxxxxxx.. .......................... Autor deste original e inédito: Silvino Taveira Machado Figueiredo (figas de saint pierre de lá-buraque) Gondomar-PORTUGAL .
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