Nina Araujo
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« em: Maio 23, 2010, 21:30:37 » |
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Celeste pôs-se a calcular as vezes que fizera aquilo. Mas seria diferente agora, dizia para si mesma. Um moço sensÃvel assim nunca havia visto, e aceitou de pronto, a opção de não ligar a webcam durante as conversas, isso era uma prova de honradez, pensou certa de ter a razão. A prima estava de rabugice como sempre, mas divertia-se diante do relato. -Celeste, tu ainda vai se decepcionar muito com esses caras! Em site de relacionamento só tem doido! E é claro, tem uma doida também, como tu! -Ele é pianista Dorinha, combinamos o "date" naquele supermercado que tem a praça de alimentação com o piano. -Ah é? E como farão? -Ele estará lá à s seis da parte e tocará Lamento de Pixinguinha, veja que tem bom gosto! A prima soltou a risada frenética, já estava acostumada a ter dessas emoções com a Celeste. -Sei que não vale a pena dizer, mas já lhe ocorreu que ele pode ser careca, gordo e feio? -Eu já vi a foto, boba! Ele é lindo! Eu combinei que vou de azul com uma echarpe bem vistosa. -Sei... Naquele começo de noite Celeste sorriu diante do espelho, estava bela. Olhou de cima a baixo e não viu nada que lhe desagradasse. Ia de novo tentar ser feliz, e por que não? O ambiente estava repleto, era sábado e as familias faziam as compras. Lá da lanchonete ela ouviu o acorde bonito do piano, o homem tocava divinamente as músicas de Milton Nascimento, Roberto Carlos e, quando tocou Pixinguinha já uma grande roda de gente havia por perto para apreciar aquela figura tão agradável. O pianista era bonito, usava um terno bege bem cortado, uma gravata borboleta vinho impecável, sapato italiano, lenço na lapela, o cabelo alvo bem ralo, porém, bem cuidado, devia ter uns setenta anos.Tocava compenetrado mas sempre olhava pelos lados procurando por alguém, passou os olhos seguidamente em Celeste mas não a reconheceria, ela estava de vermelho, sem echarpe e com a velha peruca ruiva.
Nina Araújo
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