Dolores
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Porque nos revemos uns nos outros....
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« em: Junho 27, 2010, 17:41:00 » |
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Se os mitos que nos identificam nesta pequena parte do mundo e que nos têm guardados até ao começo de um novo mundo, forem mitos de gerações vindouras, a minha boca será ruidosa e frutuosa num corpo vivo. Honrarei as figuras desenhadas por um beijo e matarei esse desejo louco de me teres nesta solidão nocturna. Lamento não poder chegar de madrugada nesse momento inquieto e amadurecido pela noite, mas não posso. Seria continuar num caminho que me quer quando já nada acontece e não me diz que sou maior que o vento que bate nas vidraças da tua janela. Há um mar inquieto nos teus olhos, há uma soma de gestos, vestidos para viver em plena luz, num dia que se abre e fecha, sempre que chega a hora da despedida desta furna que me afoga em mar ardente de desejo. Saio para a rua e deito-me nas horas, enquanto espero por boas novas, através de sons de palavras outras que chegam devagar.
Muito lento é agora desejar o que não tenho e absorver aromas doces que se espalham pela atmosfera. Um misto de outroras vindas do céu, que se esbatem no nevoeiro, formado à roda dos meus olhos e que se acomodam num pensar distinto e sobranceiro. Morro sempre que meus olhos te vêm nesse labirinto fechado de ideias tresmalhadas e continuadas, num reescrever que faz doer a pena de quem se reescreve por todos os caminhos já fechados. Fico assim, aguardando pelo teu regresso, ou pelo que resta de ti, após teres esgotado todos os amores que te assentam como luvas de algodão, tal qual o manto dourado que te cobre o rosto. Saíram de um cofre forte, que só o tempo abriu e amainou quando sobrevoaram um mar que se quis forte no meu peito. Gastei-os num dia de felicidade, daqueles que só se conhecem em momentos especiais, saídos do fundo da memória. Estarão prestes a abandonar o cais e a debandar pelas marés altas, indo sem destino à procura de outros céus maiores, de onde se poderão ver outros sons, outras bocas, outros rostos que se queiram peregrinos num novo mundo.
- Se porventura me encontrarem morta, deixem-me ficar a gastar-me no chão que me há-de cobrir por inteiro, porque para me terem na vossa verdade, eu terei que morrer primeiro.
Terão que me enxergar, fechando os olhos aos meus olhos, a boca à minha boca, o corpo ao meu corpo. Só há um modo de me encontrarem… Estarei para todo o sempre enraizada na vossa memória e lembrando de mim, serão eu - ser vivente em ondas vibratórias, nas mediações de um corpo aberto a novas conciliações.
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