Raiva incontida

[Dulce Pinho]

          Raiva Incontida

Tenho raiva
Raiva do mundo
Raiva das pessoas que me rodeiam.
Raiva...
Raiva dos que vivem
Na minha sombra.

Quero gritar,
Mas não me deixam.
Obrigo os gritos
Estagnarem na minha garganta
Seca e entupida
Dos soluços presos,
Que não se soltam.

Sinto o tremor do meu corpo,
Contaminado com veneno,
Veneno, que me injectam
E me fazem perder
A noção da realidade.

Hoje...
Hoje, é Domingo,
Sózinha,
Sento-me nas areias da praia,
Protegida pelo rochedo
Que me ajuda aesconder
As jágrimas e emoções.

Reparo nas crianças
Que brincam com baldinhos
E lançam gargalhadas
Contaminadas de pura felicidade.

Olho...
E afastados,
Vejo, namorados
Enrolados em languidos beijos
E loucas promessas de amor,
Que mais tarde
Não conseguem cumprir.

Levanto-me...
Caminho até à água,
E deixo que as ondas farejem meus pés
E transportem a minha tristeza
Para o mar alto
E longíncuo.

Quero fugir...
Fugir para longe,
Refugiar-me num cantinho,só meu.
Não quero ver ninguém,
Não quero ser obrigada a perdoar
Nem a justificar os meus actos,
Para não sofrer.

No outro canto,
Tu...
Tu, que ficaste sem mim,
Não esqueças
Os bons momentos que passamos juntos,
A forma como me entreguei,
E a maneira como te amei.

Fui louca...
Louca, por tudo o que passei,
Louca, por dar tudo de mim
E não ser ninguém.

Quero esquecer
E com o tempo, acreditar,
Que também sou humana,
Que também sou mulher.

[Goreti Dias]

Por vezes, é difícil acreditar que nos vêem como pessoas. Gritar pode-se tentar. Mas também se calam os gritos...
Inquietante!

[Dulce Pinho]

E porque hoje, é Domingo, estou aqui sem gritos.
Continuação de bom Domingo, para a Goreti.
Beijos

  Dulce Pinho

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

E sensível e talentosa como prova através dos seus textos muito bons.

Beijos...

[Ana Coelho]

Uma raiva incontida deitada em poesia que nos enrola na cadência e na força expressiva.

Beijos

[Dulce Pinho]

Olá,Ana Coelho e Oswaldo.
É óptimo saber a vossa opinião. As vossas palavras, enchem a minha alma de alegria.
Raiva,é sentimento que mais, ou menos, todos temos. Há momentos que nos obrigam
a recorrer à vacina. Mas, parece que em mim, não surtiu efeito.
Muitos beijos

 Dulce Pinho

[elvira]

Por vezes temos que sorrir... gritando! Quase deu para te ouvir. Bj Elvira

[Vânia Machado]

"Levanto-me...
Caminho até à água,
E deixo que as ondas farejem meus pés
E transportem a minha tristeza
Para o mar alto
E longíncuo."

E que o mar leve essa tristeza e raiva para bem longe... por vezes gritar em forma de poema alivia-nos a alma... Este tem força nas palavras...

N estou sempre presente, mas vou estando atenta...

Um beijo grande com muito carinho
Vânia

[josé antonio]

Texto reflexivo, sentido, dorido, bem construído para ser lido e relido porque também agradável e útil para tal...
Mas, Dulce, eu sou suspeito porque não admito dentro de mim raiva incontida e sempre que preciso nem grito para a expulsar.
Sinceramente gostei.
Abraço.
José António

[Dulce Pinho]

Olá, Elvira, Vânia e José António. Adorei os vossos comentários.
Parece que a raiva já partiu. A vácina, tinha dose dupla. Valeu a pena...
Beijos
  Dulce Pinho

[Vóny Ferreira]

Quanta inquietude Dulce.
Quanto desespero...
- Muitas vezes responsabilizamos a
vida pelo que de negativo nos acontece.
Revoltamo-nos com tudo e todos.
Mas será que em qualquer circunstância
haverá sempre uma luz ao fundo do túnel?
Mesmo que muito ténue?
Grite, sim, para o papel o que lhe vai na alma
mas com a certeza que há sempre um novo dia...!
Permite-me que a abrace?
Então... aqui fica um forte abraço
Vóny Ferreira

[Dulce Pinho]

Olá, Vóny.
Pediu permissão para me dar um abraço.
É com todo o carinho que o aceito.
Peço imensa desculpa, e lamento não ter lido o seu comentário
há mais tempo. Só hoje, é que liguei o computador.
Um grande beijo, e um forte abraço para a Vóny.

  Dulce Pinho