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Autor Tópico: Concurso "Cartas ao desbarato"  (Lida 131619 vezes)
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Dionísio Dinis
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« Responder #180 em: Janeiro 24, 2011, 19:12:06 »

Venham mais!
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Pensar amar-te, é ter o acto na palavra e o coração no corpo inteiro.
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RosaMagalhães
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Ancorei-me às palavras onde mergulham emoções.


« Responder #181 em: Janeiro 24, 2011, 22:00:53 »

Já enviei uma  Azn
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Rosa Magalhães
Dionísio Dinis
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« Responder #182 em: Janeiro 25, 2011, 21:41:12 »

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« Última modificação: Janeiro 25, 2011, 22:11:25 por Dionísio Dinis » Registado
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« Responder #183 em: Janeiro 26, 2011, 19:29:30 »

E com basta participação, pode acontecer surpresa....
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« Responder #184 em: Janeiro 26, 2011, 21:10:38 »

Carta n.º 19

Q’s G’s e I’s
 
Querido não precisas esforçar tanto nem ir muito longe para dizeres aquilo que vejo nos olhos dóceis e salpicados de água. Podes ficar no silêncio sempre que quiseres gosto desse jeito que tens calado que são horas ganhas por mim enquanto vais dizendo tudo que preciso saber para além daquilo que não sabes que sei. Dizer que tens um ser tímido dentro do olhar já sei ups constrangimento. Sei que trazes um dragão dentro do peito a querer explodir sinto-o pular daqui num jeito de batimento quase certo. Ver-te corado para mim é sentir-te tão giro e gracioso mas se a conversa estiver fora desse âmago normal de ser então vira o disco e põe lá a tua música. Saberei ouvir sem questionar. Existe essa barreira no querer e não vejo nada tão forte que não saiba o porquê. O pseudo muda de cor sempre que tento perceber a razão. Lavar as mãos com limão ups lembrei que tens dez dedos nas mãos para contares as vezes que me falas de ti. A lupa da mente veste-te o casaco a deixar-te sair rumo ao jardim das flores. Entre nós há bela conexão do só entender e interagir mas tens um toque torto no andar que se inclina para o meu estimulo maior. Belisca-me o pensamento e torna-me esfinge do teu olhar. Meus momentos dão-te noventa e nove vírgula nove por cento de encanto mas falta um por cento que anda a pular na minha mente dita meu ser onde me delongo a falar de ti. Tenho todos os Q’s G’s e I’s para dizer-te que não basta o mistério é preciso haver hemisfério a surpreender-te. Sair da onda por vezes é ganhar o mar que não tenho. Gosto de ir a festas imbecis é lá que os vejo todos juntos enquanto o fundo do nosso ecrã mostra aquela sempre frase perfeita: “no comentsâ€. Esquecemos da rodinha proibida no superior da juba do teu olhar que desperta o lado mais ameno de mim. Adoro essa parte do procurar-te quando simplesmente me abraças. Agora quebrar a casca de ovo somos soma secreta tão dócil que promove um pormenor simples de... UaU! Minha alma grita do outro lado de mim se saio desse mar a dentro onde te vejo magnífico. Entro a apanhar distraídos tantos I’s e tantos Q’s e iludo-me novamente...

Carta n.º 20

Orquídea

A esse alguém que jamais resistirá ao meu perfume

Uso as árvores para driblar a escuridão. Elas me agradecem por tornar seus caules mais belos e atraentes. Minha família é a maior que existe entre as famílias botânicas. Eu tenho alma também, assim como as minhas irmãs. Compartilhamos características as mais marcantes: cores, folhas, inflorescências, frutos. Sou adaptável, muito. Ao contrário do que se imagina, não sou parasita. Minhas raízes sobrevivem no ar. Estranhamente perfeitas. Do ar é de onde retiro os nutrientes. Jamais esqueço de exercer minha nobreza epífita.
Às vezes vem alguém e me leva para dentro de um vaso qualquer. Eu me sinto só. Mas esse alguém que me leva também cuida de mim; não com a mesma eficácia do meu habitat natural. O carinho que recebo costuma suprir a deficiência. Tornei-me quase humana. Dizem que tenho as formas mais provocantes da Natureza. Mesmo quando sou esquecida, o carinho que recebi me ajuda a aguardar o próximo que virá. Poderá vir, em forma de nuvem ou pássaro (não posso prescindir do pássaro nem da nuvem, seria o meu fim). Sei eu que não se escusará  Ã  chegada ...o devir e seus obséquios fascinantes: abelhas, borboletas, besouros. Minhas estratégias de polinização (o jogo amoroso) são infinitamente belas. Minha herança está em todos os continentes.
Tenho segredos, muitos. Por isso não investigue sobre a melhor forma de cultivar-me. Antes procure identificar-se comigo. Somente o necessário. E tudo nascerá.
 
Carta n.º 21

Carta ao meu pai e ao meu filho

“Pai,
Sei que não tivemos tantas conversas como gostaríamos, assim como muitas coisas que não teve a oportunidade de me contar, outras tantas que eu nunca lhe disse. Hoje compartilho algumas dessas. Há algo muito importante sobre como a sua postura influencia a minha vida, que deve saber. Certa vez estava sentado com um grande amigo quando ele me faz uma pergunta inesperada. Questionava ele, “se tivesse que dizer qual a característica que mais admiras no seu pai, qual seria?†Fiquei calado. Pensei nos conflitos que vivemos, alguns muito intensos. Reflecti por longos minutos, deixei raivas antigas de lado, até encontrar a resposta. “Se tivesse a oportunidade de descrever o meu pai numa única qualidade, diria que ele é um homem generoso.†E a grandeza dessa generosidade sempre se fez presente nos seus modos duros, intempestivos, intransigentes, os quais nunca estiveram distantes de um coração sem tamanho.

Filho,
Sei que não tivemos tantas conversas como gostaríamos, assim como muitas coisas que ainda não tiveste a oportunidade de me contar, outras tantas que eu nunca te disse. Hoje compartilho algumas dessas.
Quero ensinar-te o que me ensinou o meu pai e que esteja sempre os meus modos duros, intempestivos, intransigentes, e que nunca estejam distantes de um coração sem tamanho.
Pois é gigantesco o que me foi ensinado pelo meu pai:
Aprendi a ser fiel aos meus princípios.
Aprendi a ler além do óbvio e entendi que o mundo não se resume ao que parece ser.
Tomei paixão pela leitura, fruto dos inúmeros livros com os quais me presenteou.
Admirei-me com o carinho que sempre dispensou à nossa família, faça chuva ou faça sol. O carinho dedicado também à minha mãe.
Aprendi a agir com presteza, pois quem chega primeiro na fonte bebe água limpa.
Aprendi a ser pródigo e a enxergar mais alto do que desejava acertar.
Compreendi ainda o peso das origens de um homem na sua vida.
O valor inestimável das amizades.
E a coragem de fazer o impensável quando todos discordam de você.
Entre tantas discussões, atritos e tanta distância, uma frase sempre ressoou na minha mente: “Caetano, tu não vais reinventar a roda!â€
Absolutamente enfurecido, nunca concordava.

Pai,
Hoje reinventei a roda!
Fui atrás dos meus sonhos. Alcancei-os, mas tenho outros novos. Vivo intensamente, trago comigo o melhor do que aprendi, lido com as falhas – erro como nunca, na verdade -, e tenho plena certeza de que a maior perfeição na vida de um homem são os obstáculos que enfrenta, pois neles, e somente neles, nasce a força da qual necessitamos para arrancar os nossos desejos mundo adentro. Pois sim, sou um desbravador convicto, eterno conquistador de novas terras e devorador de conhecimento.
E se hoje está presente diante de você esse Homem, saiba que o meu orgulho por você é sem fim. Que sou imensamente grato pela formação que recebi; dos acertos, dos desacertos, das brigas. Personalidade não nasce sob chuvas leves. É forjada em tempestades.
Se caminho altivo e realizo grandes feitos, esse é o seu legado.
Que estejamos juntos – como infelizmente não estamos agora – por muitos anos vindouros.
Pai, eu amo-te!
Filho, apenas te digo: “tu não vais reinventar a roda!â€

Carta n.º 22

Neste último ano

Olá!
Como sabes, neste último ano, muita coisa se passou na minha vida, desde o sonho destruído pela traição do meu marido com a minha melhor amiga até a um recomeçar de uma nova vida. Foi devastador para a minha alma. Há dias como estes em que nos apetece apagar o dia do calendário e da memória. Com uns copos, alguns conseguem apagar essa sensação de acordar no deserto que nos cega. Mas eu não bebo, por isso não podia ir por aí. Precisava de um sol, mas de um sol refrescante. Mas o sol tardou e eu pensava apenas em me atirar janela fora do 11º andar e nunca mais acordar neste mundo cheio de nada. Depois o sol apareceu. Foi a minha irmã que me tirou do mar de areia e me levou a uma festa de “tudo boa genteâ€, como ela me garantiu. Naquela festa, no meio de um mar de gente desconhecida, um desses rostos, já esquecido pelo tempo, volta a me encontrar. Eu disse que achava já o ter visto nalgum lugar também, porém o seu rosto em nada me parecia conhecido. Mas a voz, sim, havia algo de familiar naquela voz. Começamos a pesquisar os nossos passados e descobrimos que um ano, lá bem no passado, fomos da mesma sala de colégio. Aos poucos vamos recordando pessoas, factos que ocorreram. E nós pusemo-nos a conversar, e a conversa até que sai com uma certa desenvoltura, como se fôssemos amigos de anos, quando, na verdade, fomos apenas colegas por um ano. Vamos descobrindo que durante esses anos todos, as nossas vidas não estiveram tão distantes assim, e até temos amigos em comum. Mas então chega a hora de irmos embora. Despedimo-nos alegremente, com um ar de "prazer em revê-lo" ou um ar de "espero reencontrá-lo novamente". Ou, mesmo sem sabermos, talvez tenhamos ficado com essa impressão de ter a certeza que algum dia voltaríamos a nos encontrar; assim, ao acaso, à surpresa, como desta vez. O mundo dá voltas... como dá voltas. Arrependida por não ter pedido o contacto dele no dia daquela bendita festa. Já me tinha demorado muito tempo sem homem, um dia a mais era demais. Quem me valeu foi o anfitrião da festa a quem exigi que me desse o número dele. Liguei-lhe de imediato e até hoje não o larguei nem ele me largou. Agora vivemos um para o outro. Ele separou-se da namorada, porque também a relação deles ainda não era muito estável, e tinha sido só para ver se dava. Agora ele quer viver comigo. Diz que perdemos muito tempo, ao estarmos tão separados. Agora devíamos aproveitar o que a vida nos ofereceu. A vida quis que nos juntássemos. Deu-nos a conhecer um novo caminho, uma nova via, um novo futuro, um novo destino.
Temos de aproveitar. Fazer projectos a curto e a médio prazo para a nossa relação tem sido muito benéficas para mim. Eu, que estava no fundo do poço, sem condições para voltar a sorrir, com vontade de me atirar de uma ponte ou de uma janela de um prédio, agora sinto-me tão bem, tão feliz, como se aquilo porque passado tivesse sido num passado tão longe, tão distante. Apenas porque voltei a amar, apenas porque o amor é tudo. Há quem diga que quando uma porta se fecha, uma janela logo se abre e eu não acreditava nisso. Agora sim, agora acredito. Uma grande janela se abriu, tudo o que estava para lá da porta que se fechou, está bem trancada, para não mais abrir, para não mais me atormentar. Agora quero viver, amar, ser feliz.
« Última modificação: Janeiro 26, 2011, 21:19:12 por Administração » Registado
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« Responder #185 em: Janeiro 27, 2011, 05:45:52 »

Não se atrasem.O prazo vai minguando.
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« Responder #186 em: Janeiro 28, 2011, 13:18:05 »

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VÓNY FERREIRA pseudónimo literário de Mª. Ivone Fe


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« Responder #187 em: Janeiro 28, 2011, 17:04:44 »

espero o e-mail para participar  com uma carta. rs
parabéns pela iniciativa!
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De todos os nomes
que me chamares
um eu saberei
que é meu...

- MULHER!

(Vóny Ferreira)
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« Responder #188 em: Fevereiro 02, 2011, 20:40:45 »

Carta n.º 23


Meu Querido
Escrevo-te porque sinto saudades tuas. Especialmente hoje, porque chove lá fora como no dia em saíste da minha casa e da minha vida, como no dia em que abandonaste os teus livros em caixotes e o meu corpo frio, sem sopro de vida. Sinto falta do teu olhar pousado em mim enquanto eu me vestia, das tuas gargalhadas francas pela manhã, do teu abraço quente nas noites frias. Dói-me a tua ausência na minha cama, queria voltar a ter-te aqui, para me segredares palavras doces ao ouvido, para me beijares o pescoço e a boca, para entrares no meu corpo sedento do teu.
Conheci-te, num final de Julho longo e ardente, e não previ a tua chegada, não antevi a tua pressa, não adivinhei o perigo que encerravas nos teus olhos luminosos. Já te tinha sonhado, dentro de um sono possivelmente agitado, mas por vezes, os sonhos surgem-nos envoltos em bruma, as mensagens fechadas em códigos ininteligíveis. A plenitude do Verão e o teu sorriso irresistível, trouxeram-nos a intimidade, a inundação transbordante do amor. As estações sucederam-se a partir daí como nunca antes tinha acontecido, o Outono em doces tardes, o Inverno na quentura do teu peito, a Primavera nascida de todas as tuas palavras, o Verão eterno nos teus dedos esguios.
Eu amava tudo em ti, mesmo os teus defeitos mais óbvios, as tuas imperfeições de carácter, tudo o que eu odiava nos outros homens. Erguias-te aos meus olhos todos os dias nesse esplendor absoluto, de cabelos negros em desalinho e olhos húmidos, magnificente como um Deus. O nosso amor radiante e sem mácula, eu e tu juntos, sempre gloriosos e animados, com chuva nos cabelos e a pele quente do sol, o amor que eu via, sentia e acreditava.
Foi preciso tempo e lucidez para questionar o esfriar das tuas mãos, o silêncio profundo depois do orgasmo, os discos de jazz que já não ouvias. à noite, apesar de estares deitado a meu lado, era como se precisasse de um avião para chegar até ti, como se vivesses num outro continente. Estavas na China, mas dormias na minha cama. A Grande Muralha erguia-se á tua volta, e era impossível alcançar-te.
O tempo agigantou-se entre nós, e tornou-nos distantes, frios e cinzentos. A distância cresceu, alastrou como uma nódoa de azeite numa camisa nova e feriu-nos mortalmente. Durante muito tempo, esperei por uma resposta, por um sinal, por um gesto. Esse vazio silencioso afligia-me, paralisava-me, provocava-me insónias. Nesse Inverno de neve e silêncio, de trevas e vazio, passaram muitos anos e tu não te deste conta, e eu envelheci.
No dia em que te foste embora, percebi que fui sempre um ser imperfeito, fugidio e egoísta. No momento em que a porta se fechou atrás de ti, sob o peso das tuas mãos duras, também o meu coração se tornou uma peça inútil, um doente terminal em coma profundo.
Sinto saudades tuas. Especialmente hoje, porque chove lá fora, como no dia em que partiste. O teu cd de Jazz preferido toca no volume máximo, ecoa na minha casa e no meu peito. A chuva bate com força nos vidros, e é como se tu regressasses, por breves momentos tu estás aqui de novo, o teu cabelo negro em desalinho, o teu corpo celeste nos meus lençóis, os teus olhos húmidos em êxtase. Uma última vez, tu e eu e o nosso amor assim, radiante e intacto, antes de ser levado pela corrente, ressuscitado do sepulcro, como um milagre.
Fazes-me falta. Volta por favor.
Para sempre tua

Carta n.º 24


Carta; De mim, para mim…!

 

Há quanto tempo não falo contigo? Ah, há tanto tempo… sim!

…No entanto, sabemos, com uma precisão indefinível, que seja qual for a circunstância do nosso afastamento, estaremos sempre uma com a outra incondicionalmente. Nas horas mais difíceis. Para escalar os morros escorregadios que teremos que ultrapassar. Para que possamos içar finalmente a bandeira da determinação. A nossa. Porque somos nós que determinamos o queremos ser e nunca o que os outros julgam que somos.

Não o esqueças…! Principalmente nunca deixes de ouvir o que o teu coração te segreda. Ele pode enganar-se mas é sempre sincero quando o ouves atentamente.

Não permitas que os outros nos desencorajem. Peço-te!

 

É nestes momentos em que sigo a luz que busca incessantemente a claridade que se esconde no orifício de todas as sombras. Que me apercebo que por maior que seja a distância, ela se encurta ao som de um simples trinar de dedos.

Qualquer que seja o desespero que nos invada o espírito, a mesma ajoelha-se e cede. Haverá maior milagre do que acreditar no que desejamos?

 

Há quanto tempo… pois é! Ah, há quanto tempo!

Aprende a positividade das lições que te vieram do passado. A viver intensamente o presente, sem grandes conjecturas para o futuro.

Sabes? O futuro é hoje!

- Toma… bebe um copo de vinho comigo e sorri para o espelho. Não faças as habituais caretas como se esse exercício fosse uma idiotice pegada. Deixa-te de esquisitices. Descontrai, vamos lá!

Sinto-me tão só, hoje! Será que ainda não estás aqui, junto a mim? Não.

Porque sempre estiveste. Bastava eu querer sentir a tua presença.

E depois… mocinha insegura, vai-te lembrando que tens que gostar de ti, muito,

para que os outros aprendam a gostar de ti.

 Ã‰ básica essa conclusão mas não esqueças de a colocar em prática já que as palavras só ganham sentido se forem aplicadas no seu mais transparente sentido.



Carta n.º 25

 

 APRENDER A PERDER-TE  (carta)

Espreitei-te, hoje, pela nesga dessa onda onde te banhavas em mergulhos acrobatas a desafiar o sol nas suas penetrações abrasivas. como se de repente o céu caísse inteiro nas minhas mãos e te transformasses nas teclas de um piano a desafiar a impaciência gritante dos meus dedos. quis tocar-te com as chamas deste inferno que me devassa o corpo febril num alienado anseio de arrebatamento. Sabias?

- Por isso me aproximei de ti, como a abelha enamorada pela flor, mas… mas tu, estranhamente já não estavas lá. quis vestir-me dessa nudez que florescia na invisibilidade desfolhada do meu desejo, no entanto, apenas permaneceu a tua imagem transparente a eclodir de uma onda colérica. Porquê ? se o amor é uma pomba que apenas quer voar?
… desejei como quem roga, flutuar à tona de água, procurar-te nessa imensidade atlântica, acompanhar de perto esses bailados ondulantes para que o perfume do meu corpo se diluísse na mesma água que beija o teu. mas o mar enovelou a minha vontade, e eu… eu… perdida de ti e de mim, teimei em escrever na água o principio desse perecer estranho onde te busquei calçada de esperanças inapagáveis
Não leste essas palavras? Eram gigantescas como o meu amor por ti… imensas como o mar. Leste?
Ah… nem sei se sabes, que agora os lobos já não uivam no meu coração. Que pena… que a pena… me desarme com espadas de sal e brisas.
Hoje voltarei a ser um canário que canta a olhar para a lua.
Atrever-me-ei a entoar frémitos ocasionais, a transpor silêncios salgados, ávidos desse olhar inflamado de oceanos até que as algas do pensamento te façam escorregar para o sangue que bombeia o meu coração. Talvez o colapso final se dê por fim e eu saiba perder-te definitivamente…!

 
Carta n.º 26

Para o meu Amor,

Quando te conheci, o meu mundo estava virado do avesso.
Estava perdida de mim, sem norte de vida, alheada da realidade, mergulhada numa escuridão da qual pensei nem querer sair…
Mas quis o destino que nos encontrássemos e aqui estamos, passados tantos anos, amando-nos, respeitando-nos, sempre presentes um para o outro.
No entanto, eu sei o que te fiz sofrer.
Foste tu quem ajudaste a encontrar-me, quem me trouxe á realidade, quem iluminou o meu caminho, quem me tirou do desatino.
Sei que dirias agora, que fiz tudo sozinha, com a minha força de vontade, e talvez seja verdade, mas foi o teu amor constante e a tua força, que me deram alento para a luta que travei.
Tive sempre uma vida sofrida e encontraste-me no mais profundo abismo… não seria qualquer um que abraçaria a situação que enfrentaste.
Mesmo mais tarde, quando a doença chegou e sabes não ter cura, e que me irá torturar até ao fim dos meus dias, continuaste e continuas tal como sempre foste, forte, seguro, amigo, companheiro, amante, marido, e já nem se fala do excelente pai que sempre foste para os meus meninos.
Poderia dizer-te tantas mais coisas, mas tudo resto seria quase estar a repetir-me.
Eu sei que tu sabes, mas quero que todos saibam, que te amo, sempre te amarei e aconteça o que acontecer, nunca te esquecerei, nesta vida ou numa outra…
Amo-te…

Carta n.º 27

Caro Senhor

Sejas Tu quem fores, seja lá como Te chamas ou chamam, a mim pouco importa.
Estou aqui neste momento, numa noite de insónia, como tantas outras, e as palavras fervilhavam-me na mente e achei que devia escrevê-las.
Quero agradecer-Te tanta coisa!
Quero agradecer-Te a infância que quase não tive, mas que me ajudaste a atravessar, quase que esquecendo as más lembranças.
Agradeço-Te a adolescência que não vivi, mas na qual não me deixaste perder.
Estou grata porque apesar de ter sido forçada a crescer abruptamente e me ter perdido de mim, nunca permitiste que enveredasse por maus caminhos.
Agradecer-Te, por me teres ensinado que tudo acontece por uma razão, que depois da mais terrível tempestade, vem sempre a bonança.
Por me teres ensinado e ajudado a ser uma boa Mãe.
Porque me mostraste o que era amar de verdade, incondicionalmente e me presenteaste
com um Amor tão lindo, que faz pensar diariamente, que tudo, mas tudo o que sofri na minha vida, foi um preço pequeno a pagar pelo que tenho hoje…
Fiquei fascinada com a capacidade de amar que me ajudaste a descobrir que tinha, como me consegui tornar uma pessoa melhor, e como quero continuar a melhorar!
Não tenho muitos amigos, mas os pouquinhos que tenho, são um tesouro.
Os meus filhos, os meus enteados, os meus netos, os meus pais, a minha tia e a minha prima adorada, são as minhas relíquias.
E até os meus gatos são uma bênção (apesar das marotices), que aqui tenho em casa, quem sabe, talvez porque os recolhi ainda bebés, abandonados no lixo, mas a dedicação e carinho deles, sensibiliza-me muito, principalmente por ver tanta frieza e maldade lá fora, nos humanos…
Agradeço-Te toda a beleza das coisas da Vida…
E agora, Perdoa-me que esqueço de agradecer alguma coisa, mas peço-Te encarecidamente que perdoes o que faço de errado, que perdoes o que todos fazem de errado, que faças tudo por tudo por iluminar essas almas obscuras e perdidas que por aqui andam.
Por mim, tentarei dar o meu melhor, até porque penso que Te devo isso.
Mais uma vez, não sei bem quem És, cada um chama-Te o que bem entende, ningém sabe bem a tua forma, mas para mim, É somente algo superior, belo, omnipotente, omnipresente, omnisciente, e que acredito piamente não andar muito satisfeito com o que vês aqui por estes lados. Mas, mais uma vez, Perdoa-nos e não nos abandones.
Esta é a minha Fé



      


« Última modificação: Fevereiro 02, 2011, 20:44:56 por Administração » Registado
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« Responder #189 em: Fevereiro 05, 2011, 10:35:45 »

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« Responder #190 em: Fevereiro 05, 2011, 15:33:22 »

Já estou a inventá-las.
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« Responder #191 em: Fevereiro 06, 2011, 09:20:11 »

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« Responder #192 em: Fevereiro 07, 2011, 17:55:40 »

Carta n.º 1

Lisboa 25 de Outubro de 2010


Minha querida amiga

Espero que estejas melhor de saúde, fiquei e ainda estou incrédula com as ultimas noticias sobre essa tua maleita, mas como me conheces bem não resisti a enviar-te o 1º episódio da Fábula que te falei.
Conto que neste episódio dês umas valentes gargalhadas pois se não te fizer melhorar fisicamente de certo o fará à alma.


O curral das ressabiadas

   Dona loba era a fazendeira, a dona de uma grande quinta e que tentava manter limpa, organizada e acima de tudo, que todos os animais que recebera nas suas instalações fossem felizes e vivessem na paz dos Deuses.
Durante vários anos sempre com o seu vigor foi alimentando, tratando das suas companhias mais que preciosas. Não se privava de nada.
Era feliz na companhia da sua mana mais nova, a linda Karoxa que adorava dar “beijokas fofas nas boxexasâ€.
D. Loba a caminho da meia-idade, ou da ternura dos quarenta como lhe queiram chamar, sofrera durante anos a fio a desilusão de um grande amor, tendo como sua companheira fiel a ansiedade que a levou a ganhar um disparate de peso a mais.
Deixando a sua preciosa quinta aos cuidados da sua mana, sujeitou-se a uma transformação radical, uma metamorfose extrema tal como a sua mana Karoxa o fizera outrora.
Se antes D. Loba chamava às atenções mesmo exageradamente grande mas com atributos de deixar até os mais novos a babarem, agora que voltava às elegâncias dos seus 20 anos, na quinta todos andavam num desassossego feroz.
D. Karoxa não se ficava atrás, também ela voltara às suas formas de adolescente, misturando com a sua forma de ser rebelde, louca mas muito meiga, tão meiga que às vezes os outros animais chegavam a confundir a sua meiguice e amizade com outras “coisitas†que nada tinham a ver com a sua forma de estar na vida.
E nem imaginam como as outras fêmeas da quinta se contorciam de inveja.
Faziam de tudo para chamarem à atenção dos machos, exibiam-se, por vezes subtilmente, até se oferecerem a todo o gás, mas eles só tinham olhos para a D. Loba e D. Karoxa.
Na quinta existia um Cabritinho lindo, nascera já com aspecto de modelo profissional, com uma aparência sempre muito bem cuidada e agora que se estava a tornar forte, com porte, tanto a Cabrita Loira como a Ãguia Louca não se cansavam de o perseguir.
Coitado do Cabritinho já não sabia onde se enfiar para se esconder das duas stockers loucas que não lhe davam descanso nem de noite, nem de dia.
D. Loba e D. Karoxa tentavam a todo o custo manter a ordem na quinta e enquanto D. Karoxa ia dizendo as verdades, dando na cabeça, puxando as orelhas e ameaçando que ia chamar a D. Loba para dar com o seu famoso “xinelo†nas desmioladas, assanhadas, o Cabritinho ia chorando as suas mágoas no colo de D. Loba.
A Ãguia Louca, ave sabida usou das suas artimanhas para tentar captar a atenção do pobre Cabritinho e assim colocou as garras de fora, pôs-se a trabalhar e sem pedir licença a ninguém criou um clube de fãs no Face-Book para o Cabritinho.
Entre o ficar envergonhado e com o ego na lua o Cabritinho até gostou da ideia só que, apesar de ficar eternamente agradecido, não demonstrou qualquer interesse com assuntos que a Ãguia Louca queria levar a cabo com esta artimanha.

Amiga, por hoje é tudo, para a semana que vem enviarei o 2º episódio.

Da tua amiga que nunca te esquece, que te mantém no coração,

...

Carta n.º 2

Lisboa 2 de Novembro de 2010


Minha querida amiga

Fiquei feliz por teres gostado da Fábula e tal como te tinha prometido, nesta carta envio o 2º episódio.

O Curral das ressabiadas

É claro que a Cabrita Loira se aproveitou da situação para fazer cerco ainda mais cerrado, enviando mensagens, fazendo-se de infeliz, com pena dela própria chorando à frente de todos num verdadeiro cantinho de lamentações em que por mais que fizesse o seu “amor†não era correspondido.
Fazia de tudo, até elegera o Cabritinho a Muso Oficial da Quinta mas ele não a compensara da forma que ela esperava.
Vendo o pobre Cabritinho em total desespero, encurralado pelas duas fêmeas que não se cansavam de o perseguir, as manas juntaram-se e entraram no Clube de Fãs para manterem a ordem e protegerem o seu Cabritinho.
O que ninguém esperava era que com tantos cuidados uma história tórrida, louca quente e abrasadora estava a nascer pelos animais que menos se esperava que fossem intervenientes.
D. Karoxa não tinha mãos e palavras a medir, recebia confissões de paixões por parte dos outros animais que se iam encantando uns pelos outros sem que desconfiassem.
Coitada da D. Karoxa com tantas lamúrias daqui e dali já nem sabia o que era dormir. Já nem se lembrava do que era deitar-se cedo e acordar no outro dia a meio da manhã. Se agora conseguisse dormir 2 horas era quase um milagre, tal era, coitada.
Por outro lado o Cabritinho descobrira o fascínio que uma fêmea mais velha podia exercer, deixando todas as suas hormonas saltitantes em forte curto-circuito fazendo-o procurar o colo de D. Loba para se acalmar.
Apesar da compreensão, dos conselhos de D. Loba, do abraço forte que esta tinha, não era indiferente o calor que ambos sentiam quando estavam juntos.
Quando menos esperavam foram assaltados por uma febre invasora que só acalmava quando os dois ficavam juntos.
Tudo isto não era normal, D. Loba sabia exactamente qual a doença que ambos padeciam e não havia cura. Os sintomas eram terríveis, calor, desejo incondicional, loucura e tudo causado por esta maleita, A PAIXÃO!
Pobre D. Loba, morria de preocupação como é que a vida lhe pregara uma partida destass e ainda mais por um Cabritinho de Leite!
Ai o que iriam dizer dela, PEDÓFILA! De certeza que lhe iriam chamar assim. Mas por muito que combatesse este sentimento quando menos esperou viu-se envolvida num louco tango selvagem com o seu Cabritinho.
A coisa era tão intensa, tão efervescente que ambos quando se falavam no xat de Portugal o Normal, já planeavam em afastar os móveis da sala para que não houvesse mais estragos dentro do covil.
Agora sim, as outras duas estavam piores que ursas, choravam baba e ranho de todo o tamanho, faziam-se de vitimas, imploravam, enfim faziam um choradinho de meter dó, coitadas das ressabiadas!
A vizinha do lado não se ficava atrás, tentava tudo por tudo, pobre vaquinha, bem que queria canalizar todas as atenções para si enquanto confessava que o seu companheiro, o Sr. Porco já ressonava que nem ele próprio.
E dia após dia lá vinha ela ao fim da tarde às vezes com histórias mirabolantes, sem pés nem cabeça, na esperança que alguém da quinta lhe desse a atenção que pretendia.
Entre todos na quinta andavam a tentar tirar à sorte quem é que a iria aconselhar a ir ao veterinário pois desconfiavam que a pobre vaca estivesse já com uma ponta de BSE.

Amiga, para a semana que vem, enviarei o 3º episódio.

...

Carta n.º 3


CARTA RACIONAL

Cara Razão,

É com pleno e puro agrado que te escrevo esta carta, a ti que estás em mim numa tal omnipresença que nada mais existe a não seres tu. Escrevo-te com o objectivo de me aproximar por via das palavras do Sol inatingível mas que me vai, quando possível, iluminando.
Quando me deixas na escuridão lágrimas vão caíndo como uma cascata de um rio outrora calmo, de corrente súbtil. O meu coração, em vez de sangue, bombardeia todo o tipo de sentimentos e emoções desencadeando posteriormente em sofrimento ou em vulgar felicidade – que não é mais do que outro género de sofrimento. Tu sabes, minha cara Razão. Tu sabes que quando me abandonas, por motivos que te são alienáveis, eu deixo de ser o ser que vai escrevendo esta carta, para ser o ser que vai lendo-a, inundando-a de paixão desesperante.
Por este meio, penso (lá está, penso!) poder criar um elo de ligação imutável, indestrutível e inseparável que consistirá por conseguinte numa constante troca de correspondência; mantendo, por sua vez, o rio o seu percurso esperado, sem desagradáveis surpresas. Quero-te (se quero tenho que poder) como o meu maior amor, como a natureza que vai controlando a corrente da minha vida tão verdadeira e correcta quanto puderes. Não deixes que os teus malditos adversários me conquistem, porquanto eu sou teu, não naturalmente, mas por arte; nasci terra de ninguém, fui proclamado pelos demónios das sensações e depois de numerosas e árduas batalhas fui conquistando a minha independência com o intuito de entregar-ta a ti, minha mais-do-que-tudo. Não obstante o inimigo estar não raras vezes à espreita, acredito nas tuas capacidades bélicas de me defender dele e das suas prazerosas e indiscutíveis tentações. Acredito e pretendo que esta carta reforce toda a tua confiança, que apesar de inabalável, é necessário ter em conta toda a precaução, pois se és confiante podes não ser o suficiente (ou não o ser eu) para me transmitires por inteiro e sem hemorragias pelo meio essa confiança.
Querida Razão, as tuas armas são-me indispensáveis e não as quero perder pois a guerra só terminará na morte. Pensamento, ponderação, análise são das armas mais importantes contanto não deixarem de ser mais sofisticadas, eficazes e superiores às armas passionais do inimigo. Peço-te portanto que não deixes de trabalhar nelas e, no que me diz respeito, vou também ajudando utilizando-as da melhor maneira possível. Creio que juntos vamos conseguir ser melhores!
Por fim, terminando como iniciei, declaro todo o meu amor por ti, sabendo eu que é recíproco. Ambos, também o sei, entendemos que este amor não é o Amor que o adversário nos tenta impingir, mas um amor mais alto, mais além, incomensurável. Minha Razão, a ti me dedico, o mesmo é dizer, que a mim me dedico. Juntos somos Uno, juntos somos mais e mais.

Assim me despeço.

Para sempre teu,

O Corpo.

Data: Algures na Intemporalidade.


Carta n.º 4


    Ah, Mundo...


    Cresce em mim a saudade de ti! Não te vejo há muito. Este quarto exíguo tornou-se toda a minha realidade... Eles dizem que sou perigoso, incapaz de funcionar em liberdade nas tuas ruas, na superfície que dá tapete ao formigame humano. Temo jamais regressar a ti.
   Perdoa-me não preceituar esta carta com a usual data que inicia qualquer documento, mas a verdade é que me perdi no tempo há muito. Não se contam aqui os dias nem os meses. O fundo branco e almofadado das paredes que me cercam neste âmbito faz-se também cárcere do tempo, encurralando a sua essência no esquecimento de que padeço. Pois é... parece que a minha soledade se tornou completa, abarcando ambos espaço e tempo, os dois hoje tão longe de mim.
   Esta manhã permitiram que eu escrevesse. Ouvi-os deliberar. Parece que vêem na escrita uma âncora no real, um exercício à mente que promove benefícios e progressos. Libertaram-me da firme indúvia que me tinha de braços imóveis e trouxeram-me papel e lápis. De repente, eis que este angustioso espaço deixou de me confinar por inteiro; prende-me o corpo, mas não a opinião, livre de voar através da palavra, ainda que somente de existência depositada numa folha. A palavra é força. Se a uso, meu espírito agiganta-se! Em oposto, usam aqui palavras que me fustigam, vis ferramentas da arrogância. Sim, eu ouço-os, às vezes, falando entre si. Cospem termos como “psicose†e “demênciaâ€. Mencionam-nos na terceira pessoa, alheios, tal qual se refugiados no anteparo da sua presumível sanidade mental. Esquecem-se de que são carne semelhante à que me reveste, igual matéria. Não equacionam sequer a possibilidade de ser ténue a diferença entre a minha loucura e a deles, de que dementes todos o sejamos, partilhando um mal comum de díspares sintomas... e os meus apenas dêem um pouco mais nas vistas.  
   Oh, Mundo que me fugiste, será que ainda esperas por mim? Reconhecer-me-ás no dia em que eu pisar teu chão novamente? São essas questões a razão da minha missiva. Por dentro sofro e sangro. Poderei ainda fazer parte de ti? Desejo-o tanto! Quero voltar a saborear o sol, a calcorrear pelas areias da praia, cheirar o limo do mar a olhos fechados. Quero ouvir vozes e risos. Quero viver. Tenho de partir daqui. Preciso de urgente liberdade, antes que a insânia que nego acabe por me engolir e eu me torne, de facto, no louco que me acusam de ser. Como é curioso sentir, Mundo, que embora esta sala me prenda, és tu quem verdadeiramente me tem cativo.
   Não me podiam privar de ti. Não tinham esse direito...
  Desvalorizaram-me. Julgaram-me uma simples mente vazia perdida para o marasmo e a incapacidade. Erraram. Cometeram um só lapso, pequenino, tão subtil como um magro fio de malha, mas pela ponta de um fio solto se começa a desfazer o mais grosso tecido. Não deviam ter-me posto este lápis na mão; sua cúspide pode assumir-se arma mais séria que a mera escrita que capacita... Ouço alguém chegar. Deve vir em rotina, para verificar se me encontro plácido, escrevinhando rabiscos ao sabor da displicente falta de tino. Aperto o objecto com força, nele esmagando as mais recalcadas frustrações, e cerro os dentes enquanto aguardo que abram a porta. Meu visitante terá a amarga saudação de um frio golpe; depois, uma corrida pelo corredor levar-me-á a rua e... ah, Mundo, velho amigo, começo a sorrir, creio que nos iremos afinal reencontrar em breve...


Carta n.º 5


Contando os dias
Meu estimado marido, aproveitei que as crianças já dormem para te redigir mais esta carta, desta vez de coração garroteado. Não vale a pena expressar por palavras o quanto sinto a tua ausência, e o vácuo que deixaste nesta casa.
Sei que faltam escassos meses para voltares para a tua família e para o conchego do teu lar, e que tudo o que estás a fazer é para nosso benefício e felicidade, todavia, desde que partiste, com pesar no olhar, que as noites para mim são uma eterna angústia mesmo sabendo que a lua que vejo é a mesma que tu vês. Hoje estou particularmente frágil e sensível, quiçá por se avizinhar o Natal, e ser o primeiro, em seis anos, que não o passamos juntos. Não há um dia que não me sobressalte sempre que o telefone toca, não há um dia que não anseio por meter a chave na caixa do correio sempre que chego a casa à espera de palavras escritas pela tua mão. Receio sempre más notícias meu homem, e, mesmo que a missão que cumpres seja de louvar, heróica até, o país nunca conseguiria compensar tamanha perda se voltasses derrotado dentro de um caixão... Quantas noites sonho com essa guerra que não te pertence… Sonho com gente mutilada, com tiros e feições desesperadas, realidades que só a televisão me dá a conhecer… Devoro todos os noticiários espavorida e abraçada à almofada… Suspiros enchem o meu peito cada vez que fixo as nossas molduras!..
Mas deixa-me contar-te como vão por aqui as coisas. Os meninos vão bem na escola e a professora de música do Daniel teceu-lhe elogiosos comentários. Diz que ele tem um ouvido fora do comum para a idade e um sentido melódico extraordinário. A Rita continua a melhor aluna da classe, como sempre e vai muito bem no ballet. Temos dois filhos maravilhosos, que todos os dias perguntam se falta muito para o teu regresso. Quanto a mim, vou riscando no calendário que está atrás da porta da cozinha cada dia que passa. Para eles, chegou o entusiasmo natalício, e esta é última semana de escola. Já adornaram a árvore de natal e fizerem o presépio sozinhos... Gostava que visses como ficou bonita!.. Só faltam as prendas, e este ano não lhes posso dar o que pediram, vão ter que se contentar com pouco que posso dar, a não ser que a madrinha deles seja este ano generosa e que não se lembre de lhes dar bíblias ilustradas e pares de meias como no ano passado. Lá querem os miúdos saber de ilustrações religiosas e, para meias, graças a Deus ainda temos dinheiro! Há-de levar o dinheiro todo para a cova a sovina e, ainda por cima sempre com queixumes que a vida está má!.. Mas para a igreja nunca lhe falta dinheiro! Bem sei que tem uma reforma choruda dos anos que trabalhou lá fora!.. O padre Francisco é que a sabe levar… Veremos se dá uma alegria às crianças este ano… De resto os dias sucedem-se com a normalidade possível, passo os dias no fundo de desemprego, envio currículos dos quais não tenho retorno, vou dar uma ajuda à minha mãe (o meu pai continua sem melhoras e ela não lhe consegue fazer a higiene sozinha), vou buscar os miúdos à escola, vou ao supermercado, enfim... Volta depressa marido, que morremos de saudades e precisamos de ti aqui!
Ainda que me sinta um tudo-nada aliviada sempre que te escrevo, e até poderia passar a noite nesta cama vazia a escrever-te, vou ter de terminar por aqui. É que já sinto os olhos humedecidos e não quero molhar estas palavras com as minhas lágrimas.

Com amor,

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« Responder #193 em: Fevereiro 07, 2011, 17:56:09 »

Carta n.º 6

Algures em Novembro

Há muito que te queria escrever umas linhas, mas, sem pretexto, não passava de uma vontade impressa no pensamento.
Agora, aconteceu o inesperado e o tal pretexto que não tinha, apareceu do nada, obrigando-me a cumprir o que me havia prometido.
Sabes, é que, ainda que a vida nos tenha cruzado e descruzado as linhas do destino e o tempo se tenha ocupado em tornar cada vez maior a distancia física e o total desencontro de lugares, não conseguiu, contudo, apagar o que o sentimento desenhou e imprimiu na alvura da minha alma de então, cujo sentido se resume numa simples expressão, que, aliás, não te cansavas de mencionar nas cartas que trocamos na época; o amor fraternal.
Talvez não saibas, mas ainda guardo todas essas cartas que me enviaste durante aqueles dois anos após o nosso encontro casual naquela tarde quente de Junho. Cartas essas onde me deste a oportunidade de te conhecer verdadeiramente, de descobrir o ser  maravilhoso que existia no íntimo de ti, capaz de dar tudo o que tinha pelo seu semelhante mais necessitado. De acreditar nas tuas convicções, de te saber genuíno nos sentimentos que te moviam e que bebiam na fonte cristalina da tua fé imensa  num Deus redentor. Nunca consegui seguir-te os passos, como era o teu desejo (ainda guardo igualmente aquela pequena bíblia de capas cinzentas que me ofereceste)...   perdoa-me, mas a fé é algo que nasce e que tem de vir de dentro de cada um, algo em que se acredite piamente, se sinta verdadeiramente e se entenda como uma verdade! E a verdade, é que  nunca senti nada semelhante nem com o teu constante apelo nas inúmeras tentativas que fizeste para me converter em mais uma fiel ovelha do teu rebanho. Desculpa, mas eu sou assim, firme em certas coisas. Já noutras...

Sabes, para além de ficares eternamente nos corações daqueles que contigo privaram onde me incluo também, deixaste um imenso vazio no coração daquela com quem partilhaste a vida e que te acompanhou sempre. A companheira que te amava incondicionalmente. Este poema foi escrito por ela e fazia parte do conteúdo do email que me enviou com o teu endereço...

Amor,
No tempo e no espaço onde vivo sem teu amor
A existência perdeu seu brilho
E queria dizer-te, ainda hoje, que contigo foi toda a minha felicidade!

Amor perdido é um
Amor que permanentemente dói e dilacera a alma
Nem o vento, nem a chuva, nem o sol, ainda que acariciem meu rosto, poderão fazer-me esquecer o carinho de tuas mãos
O despertar da manhã não traz esperança de mais um dia contigo
Nem o cair da tarde a alegria do reencontro
Nem a noite o calor de teu corpo
E quando nela tento o esquecimento
Tu ainda voltas no sonho…

Mas nada, nada pode reavivar a existência desse amor que só a ti pertence!
Amo-te é a palavra que te digo todos os dias
E é essa mesma palavra que tantas vezes repetiste que ainda ouço
Amor, vemo-nos logo, 365 dias foi apenas um dia!

Que me dizes? A tua célebre frase, tão racional, que sempre atenuava minhas tristezas: «Deixa isso!»?
Como deixo isso? Quem, para além de ti, poderá acompanhar-me nesta travessia?
Deus responde em teu lugar: vai ao jardim! Lá encontrarás a flor da amizade…

Esta carta nunca te irá chegar às mãos, mas vai ficar a pairar num espaço virtual, onde, acredito, a tua alma paire também...

Desta tua amiga que nunca de ti se esqueceu

Carta n.º 7

Sexta Feira, 03 de Dezembro de 2030

Olá!
Por esta não esperavas tu, companheira. Receberes uma carta do futuro, enviada de um tempo que não passa de utopia.
Mas aqui estou eu, a escrever-te estas breves linhas para te dar conta de que ainda por aqui ando, o que julgo, muito te agradará saber.
A esta altura deves ter o cérebro a trabalhar a 100 0 à hora, a braços com a surpresa do impensável inesperado. Bem sei que não te deve ser fácil lidar com o surreal da situação, mas tenta acalmar-te e ler-me com atenção.
Pensa, se recebeste notícias minhas com vinte anos de avanço, é sinal de que os tempos mudaram tanto tanto, as tecnologias evoluiram a uma ponto que entraram numa dimensão inimaginável nesse tempo em que te encontras ainda. O que antes seria coisa de loucos, hoje é algo tão normal como o simples acto de falar!  Mais, tendo em conta que  esta carta que tens nas mãos foi escrita e enviada por mim, bem podes pular de alegria porque é mais que certo ainda teres pelo menos mais vinte anos de vida!
Pois é, acredita que sou eu quem te o diz e como bem sabes, não sou pessoa de inventar seja o que for, muito menos mentiras.
Companheira, não te vou estragar a surpresa daquilo que ainda tens para viver, pois isso seria uma desfeita para com a minha própria pessoa e era bem capaz de te tentar desviar dos caminhos que, embora te possam trazer obstáculos, são os únicos capazes de te proporcionar e fornecer o sal da vida, o tal que dá aquele  temperozinho tão saboroso e pelo qual vale a pena correr certos riscos...  faço-me entender? Tens de viver cada dia como se fosse o último e procurar em cada um deles, nas pequenas coisas por mais insignificantes que te pareçam, aquilo que marque a diferença e torne o de hoje sempre um pouquinho melhor do que o de ontem.
Continua a ser como és, não faças é muitas asneiras que te possam comprometer a saúde do corpo bem como a sanidade da mente e vais ver que ainda me apanhas...

Aceita uma piscadela de olho desta que em ti vive e de ti ainda muito espera.

Até um dia, companheira!

Carta n. 8

Exma. Administração,

É com profundo sentimento de liberdade que lhes dirijo esta carta, depois de quase nove anos de degredo na vossa empresa, que coitada, por ela só, não faz mal a ninguém.
É certo e não nego, muito ter aprendido com todos vós, Senhores Administradores durante o tempo em que servi nas minhas funções de Director, por inerência do cargo, de quase tudo como é habitualmente exigido aos directores que exercem os seus cargos responsavelmente.
Lamento no entanto confessar-lhes que o que aprendi convosco estou agora a tentar esquecer por todos os meios para voltar a ser digno de mim próprio. Nunca necessitei de recorrer ao cinismo e hipocrisia, nem muito menos à mentira e cobardia para alcançar os meus objectivos, nunca precisei virar a cara fosse a quem fosse, nem mesmo a partir de agora o farei com V. Exas. porque afinal o elo fraco está do vosso lado, não do meu.
É obvio que não estou magoado, pois este mundo é uma selva e todos somos animais, só que, uns mais que outros, convenhamos.
Sim, sofri imensas escoriações na minha maneira de ser, mas nenhuma delas que não tivesse conseguido cicatrizar, sem um leve pronuncio de infecção, porque sempre consegui expelir o vosso veneno atempadamente do meu ego.
As pessoas que fui forçado a demitir, continuam minhas amigas, realidade que V. Exas. nunca entenderam, porque sempre muito distantes delas, faraós auto nomeados enquanto mergulhados na gamela do pseudo poder de quem não valendo, pensa valer, sem olhar em seu redor, apenas ouvindo os aplausos dos desgraçados submissos e nunca o grito de verdade e revolta dos que quase sempre têm razão e são capazes de fazer um retrato perfeito de quem os comanda, sem verdade, paixão e camaradagem, sim porque as amizades só têm validade nesta vida meus senhores e não me consta que de algo sirvam na sepultura.
Não desejando aumentar o peso do vosso saco de remorsos, porque afinal, quem possa ter o poder de o fazer, tal o fará, sem de mim necessitar.
Despeço-me com votos sinceros de rápida e profunda recuperação, a qual acredito em alguns de vocês seja extremamente dolorosa, senão mesmo impossível.
E acreditem que teria sido mais bem feliz se não vos tivesse conhecido, mas a vida tem destas surpresas e com elas temos de sobreviver.
Melhores cumprimentos e se necessitarem de algo apelem ao vosso poder indestrutível, como julgam possuir. 

Carta n.º 9


Na passadeira te ficaste
Hoje, devido a um acontecimento banal e inopinado, invadiste-me a memória de tal forma que decidi escrever-te esta carta. A última que te escrevi já faz muitos anos, era eu pequeno, e foi escrita dias depois do teu falecimento. Não me recordo que palavras nela escriturei, mas tenho a certeza que a leste. Hoje o destino levou-me a atravessar aquela passadeira, carcomida pelos pneus dos automóveis, onde tantas vezes atravessavas comigo de mãos dadas e me ensinavas as regras do bom peão. Olhar para a esquerda, olhar para a direita… Atravessávamos e depois fazíamos um gesto de agradecimento aos condutores, que, dizias tu, ficava sempre bem. Depois seguíamos até ao portão da escola onde me deixavas. Dizias-me sempre para me aplicar nos estudos para ter um futuro risonho, e, antes de me dares um beijo de despedida, metias-me uma moeda no bolso para comprar uma guloseima no final das prelecções da professora Teresa. Tenho tantas saudades desses tempos avô! E hoje emergiu-me tudo à memória, aquele dia fatídico, aquela mesma passadeira, os condutores a saírem dos carros em teu auxílio, tu no asfalto agarrado ao peito, a sirene da ambulância que se aproximava, e eu ali, imóvel, pingos nos olhos, de mala a tiracolo sem saber o que se passava contigo. Ainda hoje me custa a compreender como o teu coração te atraiçoou. Sempre foste um homem de saúde, fizeste muitos anos desporto, até foste federado em hóquei em patins, não fumavas nem bebias… Hoje não choro porque já sou um homem e tu sempre me disseste que os homens não choram, mas amanhã, logo cedo passarei pelo cemitério e te deixarei esta breve carta em cima da tua laje. É que desde a primeira carta que te escrevi, que acredito que à noite nos cemitérios há vida e que tu a lerás.   
Com saudades,
Ricardo

Carta n.º 10

A minha consoada foi muito bonita, aqui em casa, com a minha família (só faltou o João Paulo e a Susana porque foram passar a casa dos pais dela). Com bacalhau à roda da mesa e arroz de polvo que a Diza sempre faz no Natal à moda de Trás-os-Montes. Delicioso. Depois o Leandro com os seus 8 anos ansiosos, veio comigo ao quarto. Enquanto eu me vestia de mãe Natal para distribuir os presentes, ele punha o barrete do pai Natal. E assim entrámos na sala, dando os presentes à família. O Leandro estava tão excitado que andava de um lado para o outro todo feliz. A mãe da Diza passou connosco a consoada.
 
O dia de Natal também correu bem. Veio cá almoçar o João Ricardo e depois quis mostrar-nos a casa que comprou em Alverca, mais concretamente, em Arsena. A casa é enorme e é linda! Decorada de um modo acolhedor e confortável. Tem 3 enormes assoalhadas, uma cozinha grande e arejada, um hall de entrada que podia ser uma sala e uma casa de banho mais pequena mas muito acolhedora. Ainda tem uma garagem no prédio e um sótão. Foi uma boa compra.
 
E foi assim, só fiquei com pena de não estarmos juntas. As coisas não correram como tu as tinhas planeado por causa dos voos.
 
Ó amigona, isso da violência doméstica não é tanto assim, como dizes. Conheço muitos casais em que a mulher está em casa (eu própria) e o marido trabalha poucas horas e são felizes por terem tempo para estarem juntos. É tudo muito relativo...
 
Então vais fazer umas traduções para a Joana. Traduzir para outra língua ou para inglês? Tenho falado pouco com ela, ela tem andado ocupada e depois com os dois meninos, o tempo é pouco.
 
O Fábio e o Leandro já começaram as aulas na 2ª feira.
Amanhã vamos à Bobadela, o João vai ao Moura, anda a fazer uma limpeza à boca.
 
Em princípio, na 2ª feira, a Susana vai ser operada a um ovário onde tem um quisto. Vai ficar só com um ovário. O quisto é enorme, mas felizmente é benigno.
 
O marido da Minda parece que já não sai do hospital com vida. Está ligado a máquinas e os médicos dizem que a parte neurológica não funciona, assim como o fígado, rins... Praticamente, já lhe disseram a verdade. Coitada! Eu dei-lhe o teu beijinho e ela manda-te outro e agradeceu. Um dia destes, ligou-me a chorar tanto... Não é fácil.
 
Beijinhos.

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« Responder #194 em: Fevereiro 07, 2011, 17:56:56 »

Carta n.º 11

Hoje choveu sobre a minha infância. Todos os vestígios que os meus pés deixaram no chão desapareceram. Tento lembrar-me dos meus antepassados. Alguns retratos da minha mente vêem-me à memória, quantidades indeterminadas de imagens. A praça cheia de produtos naturais no centro de Moscavide. As árvores que dormiam ao peso do calor, como a mão quente da minha avó que se colava à minha para não me perder de vista.

Lá na minha terra quem marcava o lento ritmo da vida era o sol, as conversas de vizinhas, as noites de S. João e os Dezembros frios ou chuvosos. Talvez por isso, a minha recordação se concentrasse num rio. Ligeiro o flutuar das águas onde as minhas lembranças se incubavam. Onde a clareza do meu ser era mais translúcida.

- Na terra do meu avô eles pescavam, elas lavavam a roupa e as crianças brincavam por ali. Era outro rio… Nas suas margens vivas, existia um vasto aglomerado de canas doces. Quando eu era pequena, deitada sobre uma cama de palha, contei todas as estrelas do céu e agora não conseguia lembrar-me de quantas eram.

Uma lágrima arrastou-me para a verdade de que tudo era inocência. Talvez porque a maldade na terra do meu avô ou na minha se encontrava disfarçada. Eu era uma criança (para essa criança estas memórias) e hoje era tudo tão vago.

Hoje o sol não iluminava nem esta nem a outra parte de mim.

O sol pairava oscilante na outra margem e a chuva continuava a cair persistente, sobre a minha infância.

Num ímpeto, agarrei em algo e escrevi uma ode metálica que começou com o processo de formação do barulho ao ranger dos meus dedos. Desesperada desci até à liberalidade do silêncio, até ao que de mais profundo tem a recusa das nascentes. Aí a água gelava, o coração estremecia e o vento arrancava as raízes do carvalho-lusitano. Assim as aves não podiam germinar e a paz não arriscava o voo.

A passos largos aproximei-me do tempo das coisas secretas, cavalguei para o lado dos segredos e das mãos dadas onde eu desejei embriagada em perfume, que não mais chovesse na minha infância.

Carta n.º 12


Carta a uma mãe…

 
Estou aqui sentada suportando tanto peso nos ombros com apenas onze anos.
Tenho o teu retrato nas mãos, não é papel é a memória que sabe de cor todos os teus traços, o teu cheiro e o sabor do teu colo.
Sinto-me bem aqui parece que estamos mais próximas, sei que não me podes responder, mas mantenho em mim a esperança que escutas todas as minhas palavras, como há tão pouco tempo.
Pergunto no silêncio repetidas vezes a Deus, porque haveria de ser a minha mãe que Ele quis para companhia…existem tantas mães de filhos mais crescidos que Ele ainda não chamou…
Dizem-me que é para tu descansares mas eu não compreendo, tu não andavas cansada? E se andavas podias descansar aqui, eu ficava no teu colo, tu dizias que isso era bom para ti…
Na escola os professores no meio das aulas chamam por mim: “Parece que estás nas nuvens?!â€â€¦E sabes eu penso mesmo que estou, as nuvens estão aí mais perto de ti. Os meus colegas riem-se, eu não acho graça nenhuma, já não tenho vontade de rir.
Nunca soube o que era ter saudades tuas, e não gosto nada de as sentir.
Todos os dias de manhã acordo vou até à cozinha e penso que te vou lá encontrar, mas quando observo em toda a volta tu não estás…em cima da mesa está a caixa dos cereais que o pai ali deixou com a minha caneca para eu comer, antes de sair para trabalhar, mas eu não tenho vontade…depois penso que tu queres que eu coma, dizias sempre que era importante para mim, então lá como e vou para escola…
Também já não vou a correr…
Numa das minhas conversas em que parece que Deus não me responde, senti dentro de mim vozes que me dizem, tudo isto aconteceu a ti porque tu és muito forte, uma menina que sabe fazer tudo…pois é! Há, mas sabes eu não acredito, tenho medo e não quero crescer…quero ser a tua menina e ficar aninhada no teu colo…
A tia esteve cá e deu-me muitos mimos e colo…sim, não é como o teu! Mas eu não lhe disse nada para ela não ficar triste, as pessoas tristes sofrem…
Eu agora sofro e nem sei porque, não estou doente e todos os remédios que me davas quando sentia dor não me fazem nada…
Sabes mãe, não consigo apagar o teu último olhar, sabias que ias embora e que eu ia ficar…
No entanto agora só queria descansar…
Sabes agora tenho que ir embora, está na hora do pai chegar e tenho que o ajudar a fazer o jantar, ele não se entende nada na cozinha…eu também não! Depois penso nas coisas como tu fazias e os dois fazemos, nada fica como quando eram as tuas mãos…
Eu vou! Logo à noite antes de dormir volto a falar contigo para tu não te esqueceres de mim, porque mesmo aí longe eu preciso de ti minha mãe…para mim serás sempre eterna!


Carta n.º 13

Voltei hoje ao lugar de sempre, onde as cancelas abertas não tinham apeadeiros e os sonhos nunca murchavam no condutor, que em suposta perfeição acelerava os passos nos dias, plantando histórias sem fim.
Eras em tudo o meu despertar, o meu passo de monção, a razão irracional infinda, de permanecer do início ao fim, com o leme voltado ao vento sul.
De repente os dias escuros mudaram-se para dentro de mim. Na impávida cadeira, tão velha quanto o próprio tempo, deixei-me e por ali fiquei, petrificada com o sol sempre no poente, sem saber de mim ou da minha insensatez. Habitei nela no mais profundo vazio, no mais outonal grito da negação, tentando encontrar uma lógica, uma qualquer incógnita filosófica para entender o final.
Hoje retornei junto á árvore, onde construímos sonhos e mitos, onde construímos versos sem palavras, onde fazíamos das sílabas uma música de folhas abertas.
As lágrimas que me circundaram, esvaíram-se num estendal de dunas e um vazio intemporal, acoplou-se ao brado seco das ondas certas, num qualquer traço suicidário escrito em papel endémico. Era o eco da própria pedra, esventrada de signos, abalroada de uma ausência apocalíptica.
Depois olhei para mim e vi que por ti, tinha alterado o rumo de todos os caminhos, tinha-me descalçado na mudez das pedras fragmentadas, tinha-me tornado faminta das migalhas de sonos, cravejados de insanos sonhos, abortados de imagens que me mataram noites, no barco que lentamente se tinha afogado.
De nada tinha valido os quilómetros fátuos que andei como romeira intemporal que não saiu do mesmo porto, ou do pão ázimo que me fermentou a lucidez, e me toldou a razão, num qualquer adorno de mosto no rosto das algas.
Ali estava o meu passado, vestido de águas, acorrentado às incertas pedras que me rasgaram as pernas.
Desceu em mim, uma dormência quase trágica e um silêncio obsceno impediu-me de andar. Gritei todos os versos projectados nas falésias, empurrei todos os ventos fingidos, enterrei no lodo o tacto ágil das gaivotas, delapidei em átomos o cinturão frenético que me tinha prendido os sentidos.
Olhei o mar! Agora podia sentir nos braços a fragilidade da música dos búzios, podia tocar a espuma do mar-chão e libertar-me do jugo da terra ressequida.
Tinha finalmente despido as amarras dos intrínsecos ventos! Tinha aberto os ombros ao calor da lúcida manhã.
Não vou reler o que te escrevi, pois o vento que me corre agora é um rio pujante e iluminado que me sacia as velas dum sistema sem regras.
Agora que respirei fundo e fechei todas as gavetas, vou fazer uma música aos pássaros e sentir na garganta o postigo da lua.

Carta n.º 14

Querido Pai Natal,
Aproxima-se a época natalícia. Como tal, venho apresentar a lista de presentes que desejo receber, caso tenha intenções de oferecer algo.
Dado que estamos numa altura de crise económico-financeira que, a meu pensar, é desencadeada pela crise ética e moral, será de bom senso comum que coloque de lado bens supérfluos e se obtenha bens como a sinceridade, a honestidade, a humildade, a integridade... É urgente uma sociedade menos crítica, mais construtiva, mais participativa.
Assim sendo, peço que traga compreensão para que as pessoas (seja qual for o seu estatuto, hierarquia) entendam de uma vez por todas que o país, o mundo, está no estado que está, devido às suas acções...
Julgo que será, além de maior aproveitamento, mais gratificante e estimulante receber os presentes acima referidos. Pois quebra a frieza, o afastamento e desconfiança da sociedade...
Encerro o meu raciocínio por aqui, com votos de Santo Natal.
 Até sempre.
Cumprimentos,
Zezinho



P.S. O egoísmo é um tóxico que tem contaminado a humanidade, impedindo-a de se unir num só... independentemente das diferenças! Traz um antídoto.


Carta n.º 15

Meu Amigo

Hoje preciso falar-te. Contar-te a minha vida desde que te foste, as minhas pequenas histórias banais, os meus desencontros com o mundo. Estou junto da tua sepultura, sentada no início deste Verão incerto, as mãos trémulas e o coração nas trevas, o corpo e a alma devastados pela tua ausência. Quero dizer-te tantas coisas, tantas que se atropelam umas ás outras dentro da minha mente já quase louca, tantas que nem sei se vou conseguir expressá-las todas. Mas tenho a certeza disto: não aceito a tua vida interrompida, não aceito o vazio que persiste, não aceito o mundo sem tu existires nele, sorridente e límpido, como tu sempre foste nos dias felizes.
Desde que partiste, tudo ficou fora do sítio. A casa desarrumada, a roupa fora das gavetas, os livros caídos das estantes. Os corações fora dos corpos, o amor sem encaixe. E eu sem ti.
O tempo parou nesse dia, e vivo agora numa dimensão diferente, num universo paralelo, numa espécie de sonho eterno, de onde nunca mais vou poder acordar.
Vivo empurrada pela rotina dos dias, pelas obrigações quotidianas, pelo tempo impiedoso que corre sempre, regular e inexorável, sem pausas.
Pergunto-me muitas vezes, como é possível que, mesmo depois da tua morte, o sol tenha continuado a nascer todos os dias, e as estações tenham mudado, e que alguém tenha sido feliz. Não entendo. O certo seria que tudo tivesse ficado suspenso nesse momento, nesse terrível segundo em que te separaste da vida e de todos nós.
Não consigo viver sem ti. Estou, desde esse dia, á beira do abismo, fascinada pela vertigem da escuridão, ás cegas no centro do labirinto. Não encontro a saída. Estou, definitiva e irremediavelmente, perdida.
O tempo que passa não alivia a dor, apenas a torna cada vez maior, cada vez mais forte, generaliza-a ao corpo todo e torna-me cada vez mais vulnerável. O tempo é escasso, não chega para lamber as feridas, para me consolar o espírito. Tenho saudades tuas. Muitas. E isso dói-me.
Preciso dizer-te que, mais uma vez, estou desencontrada do quero e do que preciso. Como quando nos conhecemos, lembras-te? Isso foi há muito tempo, tu eras uma criança traquina e tinhas o coração nos olhos e a alma exposta, e sorrias para mim com a confiança e o Amor de um irmão.
Gostava que estivesses aqui e que me abraçasses como nesses tempos felizes e atribulados, em que tantas vezes chorámos os dois para logo de seguida explodirmos em gargalhadas sonoras. Tu conhecias profundamente o meu coração e a minha essência, e hoje, queria que estivesses aqui, junto a mim, para me dares a mão e para me segredares “Eu entendoâ€.
Estou devastada e as lágrimas não são suficientes. Estou desfeita e o tempo passa muito depressa, depressa demais. A vida esmaga-me e tu não regressas.
Sentada junto á tua sepultura, no início deste Verão incerto, quero dizer-te que o meu Amor por ti é eterno, assim como tu, as tuas mãos de criança e o teu sorriso brilhante, iluminando a minha noite.

Tenho saudades tuas. Muitas. E isso dói-me.

Eternamente Tua
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Maio 25, 2024, 13:29:23
Hoje, o Figas veio aqui, desejar a todos um bem-estar na vida, da melhor maneira vivida.FigasAbraço
Novembro 30, 2023, 09:31:54
Bom dia. Para todos um FigasAbraço
Agosto 14, 2023, 16:53:06
Sejam bem vindos às escritas!
Agosto 14, 2023, 16:52:48
Boa tarde!
Janeiro 01, 2023, 20:15:54
Bom Ano! Obrigada pela companhia!
Dezembro 30, 2022, 19:42:00
Entrei para desejar um novo ano carregado de inflação de coisas boas para todos
Novembro 10, 2022, 20:31:07
Partilhar é bom! Partilhem leituras, comentários e amizades. Faz bem à alma.
Novembro 10, 2022, 20:30:23
E, se não for pedir muito, deixem um incentivo aos autores!
Novembro 10, 2022, 20:29:22
Boas leituras!
Novembro 10, 2022, 20:29:08
Boa noite!
Å¿etembro 05, 2022, 13:39:27
Brevemente, novidades por aqui!
Å¿etembro 05, 2022, 13:38:48
Boa tarde
Outubro 14, 2021, 00:43:39
Obrigado, Administração, por avisar!
Å¿etembro 14, 2021, 10:50:24
Bom dia. O site vai migrar para outra plataforma no dia 23 deste mês de setembro. Aconselha-se as pessoas a fazerem cópias de algum material que não tenham guardado em meios pessoais. Não está previsto perder-se nada, mas poderá acontecer. Obrigada.

Maio 10, 2021, 20:44:46
Boa noite feliz para todos
Maio 07, 2021, 15:30:47
Olá! Boas leituras e boas escritas!
Abril 12, 2021, 19:05:45
Boa noite a todos.
Abril 04, 2021, 17:43:19
Bom domingo para todos.
Março 29, 2021, 18:06:30
Boa semana para todos.
Março 27, 2021, 16:58:55
Boa tarde a todos.
Março 25, 2021, 20:24:17
Boia noite para todos.
Março 22, 2021, 20:50:10
Boa noite feliz para todos.
Março 17, 2021, 15:04:15
Boa tarde a todos.
Março 16, 2021, 12:35:25
Olá para todos!
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Olá para todos!
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Boa feliz noite para todos.
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Bom fim de semana para todos
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Boa noite para todos.
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