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Autor Tópico: Concurso "Cartas ao desbarato"  (Lida 131484 vezes)
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Fernando D.
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« Responder #270 em: Março 12, 2011, 21:45:50 »

Tive o privilégio de desbaratar duas cartas  :yup: enriquecendo-me com a partilha. Bom fim de semana.
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« Responder #271 em: Março 13, 2011, 10:52:28 »

Carta n.º 45

Querido Passado,
Faz algum tempo que ando para te escrever sobre o sentido que tens na vida.
Graças a ti estou justamente aqui, a escrever, no Presente, para depois de redigido, deixar de o ser.
Sim, graças a ti, vivo o Presente de presente...
O Presente, que amanhã já será passado.
Os dias que me despertam, depressa voam para os teus braços.

És como um mealheiro onde vou acumulando todas as minhas experiências, das quais umas estão mais vivas na memória, outras, nem por isso.

A vida é uma caminhada árdua. Principalmente para quem caminha só e sem apoio. Mas não deixa de ser bonita...e gratificante. Cedo tive de aprender a apoiar-me numa bengala. A bengala da Esperança. É apoiado na Esperança que alcanço um pouco mais de mim. Um pouco mais de céu, um pouco mais de terra, um pouco mais de amor. Valem-me também os sonhos para elevarem o peso nos ombros. O saco torna-se pesado quando tenho de escalar íngremes montanhas. Esse saco que trago na mente, carregado de pensamentos preconceituosos, desnecessários que só atrapalham o caminhar.
Mas é saber que tenho o brilho do sol resplandecente atrás da montanha que me faz mover.

Hoje, ao rebobinar (te), percebo que os momentos de dificuldade poderiam ter sido mais suaves ou até mesmo ter evitado o sofrimento, se em vez de dar atenção aos mesquinhos e medíocres pensamentos brotados na minha mente, tivesse abraçado a tolerância e vivido a alegria de estar vivo. É, às vezes, o homem esquece-se de viver o Presente que lhe é oferecido, mergulhado no complexo labirinto mental.

Os medos, as emoções, as paixões, as frustrações...
As lágrimas vertidas, as dores sentidas, os dissabores vividos, o silêncio que ainda hoje trago comigo, os entraves que se me colocaram, os obstáculos ultrapassados...são factores que fizeram o homem que sou. E que me orgulho de ser! Estou grato pelos momentos que partilhei contigo.

Com o decorrer dos anos, como um fruto numa árvore, vou amadurecendo, batalhando para desprender de preconceitos, libertar-me da prisão mental a que estou sujeito, causadora das dores emocionais, dos sofrimentos, vividos.
A função do homem é auto-disciplinar-se, construir-se. É descobrir-se a si mesmo, de modo a corrigir as mazelas para que alcance um estado de tranquilidade mental. Eu tenho essa percepção.

O tempo é o elo que nos une. O mesmo tempo que me ensina a aceitar-te.
O tempo é meu amigo, tem-me preenchido a vida de experiências pedagógicas que me ajuda a compreender a complexidade humana.
Hoje, mais tolerante, em vez de julgar o pensamento alheio, respeito-o e concentro-me em aperfeiçoar o meu ser.
Eu sei que há quem há mais tempo continue a criticar outrem. Mas eu não me posso permitir desperdiçar (o meu) tempo a cometer o mesmo erro.
Dizes tu: lá está ele com os seus ideais filosóficos. Bem, acabo de cometer o mesmo erro, julgando que é isso que estás a pensar. E pensei isso porque era o que queria que pensasses para poder responder dizendo que a vida é isso mesmo, Filosofia. Amor ao conhecimento. É isso que tento fazer, conhecer-me melhor.
Sabes, há um erro que cometerei sempre. Amar. Mesmo não sendo correspondido. É o amor que me alimenta a vida. Enquanto houver esperança, há vida. E enquanto eu viver, terás trabalho.
Portanto, peço-te que sejas tolerante e me aceites como sou, assim como eu tive que aprender a aceitar-te.

Um abraço do teu amo...rrrrr em mim

Até já!


Carta n.º 46

27 de Fevereiro de 1978

Meu querido,

Mais uma vez te encontro através desta forma sempre fiel e imortalizada de comunicar, num papel em branco onde delineio espaçadamente todos os meus pensamentos, sentimentos e sentidos que só contigo têm rumo.
Já não vens há dois meses, mas o frio gelado cá do Norte continua a fazer-se sentir por entre as brechas da janela, a lareira ainda aviva uma chama ténue de um pedaço chamuscado que restou do tronco que lenhaste pelo Natal. Tu sabes o quão gosto desta terra distante, quase à parte do mundo, pelo sossego que não somente aparenta, mas que se sente, no chilrear dos melros, no ecoar do vento nas montanhas, no bater de leve da neve nas janelas. O Norte, sempre foi o meu encanto e o meu canto de refúgio.
Dizem que não estou no Norte, mas eu sei que estou cá; porque me mentem? Hoje, também me falaram de um tal ano de 2011; meu Deus, que futuristas, quanto falta para lá chegar! Nesse tempo já serei velha, rodeada dos netos, quiçá bisnetos, seremos uma família feliz, ainda que, talvez, com alguns lapsos de memória, que a velhice se possa acompanhar! Tenho apenas 38 anos e sinto-me na vicissitude da vida… Tanto há para fazer, para viver, para ter, mas olho-me ao espelho e vejo outra pessoa; enrugada, triste, cabelos brancos, queixo proeminente pela falha dentária. Um horror! Acho que os espelhos desta casa não são espelhos, devem ser retratos de outros tempos fixados nas paredes. Um espelho reflecte, estes não reflectem absolutamente nada! E se reflectem são espelhos mentirosos. Acaso existem espelhos falseados? Pois teremos que trocar os desta casa, tu sabes o quão vaidosa sou!
Escrevo-te, pois só tu me compreendes, pois só a tua voz me pode confortar nesta penumbra tarde, que se tornou silenciosa e triste, num quarto isolado do mundo. A neve continua a bater na janela ao de leve, como que curiosa a saber como me sinto. Porque não tens aparecido ultimamente? Fazes-me falta! Sinto falta do teu amor, do teu abraço, do calor da tua pele, da doçura da tua voz, da ternura do teu toque que me mima sem temporalidade. Contigo o mundo não é estanque, o sorriso faz parte dos meus dias quando vens. A tua forma ímpar de estar no mundo faz-me desprender, sinto-me leve contigo e em ti! Sinto-me viva, sou Mulher! Sem ti, sou apenas um trapo, isolada do mundo e já não me sinto no Norte em frente à lareira aconchegada com a manta de veludo, que me deste pelo meu vigésimo nono aniversário. Sem ti, estou antes num lugar frio, triste, solitário que não é o Norte!
Porque não vens? Porque te demoras? Meu amor… Acaso os comprimidos que me deram te fizeram ir embora? Sem eles era mais feliz! Existia contigo… Vivia no Norte…
Porque te demoras? Porque me demoras? Estou tão cansada que me chamem LOUCA! Por favor, não te demores mais.

Sempre tua,

Carta n.º 47

13 de Março de 2011

Não vou começar esta carta com um olá, muito menos será uma carta dirigida, é apenas uma dissertação feita ao acaso na esperança desesperada que um dia alguém a leia, é apenas um rabisco solicitado por um momento inusitado entre uma sensação de exaustão puramente psíquica de quem está cansado de viver, é apenas uma tentativa, ainda que frustrada de chegar a ti, seja lá quem tu fores, mas é a ti que eu quero chegar, a ti ou a algo que neste mundo valha a pena, é apenas uma carta de busca de esperança ou a tentativa de manter a que resta, pois se esta se esvai, de que serve viver?
É portanto uma carta dirigida ao meu próprio ego e interesse, fazendo jus às denominações de egoísmo que ultimamente tenho sido sujeito. Resta saber se essas acusações são lícitas ou se revogam impreterivelmente as leis do egoísmo. Pois se sou egoísta ao tentar perceber o mundo, ao tentar fazer parte dele, ao tentar libertar-me de uma condição estúpida que me impuseram de ser mais um; então, deixem-me ser egoísta… Porque eu também tenho o direito de magoar, eu também tenho o direito de aniquilar, eu também tenho o direito de revogar sonhos, eu também tenho o direito de destruir essa palavra equivoca que se prenuncia irreflectidamente nos tempos de hoje, que não se vive, não se sente, não se toca verdadeiramente, essa palavra que se chama amor e todos vocês a destruíram em mim! Pois, agora, chamam-me egoísta… Porquê? Porque simplesmente passei a aniquilar essa palavra nos outros. Talvez tenha escolhido as pessoas erradas, talvez as minhas vítimas tenham sido as pessoas que mais admirei, talvez tenham sido as pessoas que mais se deram a mim, de forma gratuita, sem pedir nada em troca. Mas não era um Monstro que os outros queriam que eu fosse? Pois aqui o têm! Um egoísta que destrói as palavras amor, respeito, entrega e felicidade.
Além disto, penso que o que há de mais importante a destruir é a Vida! Assim, seria um Monstro com todas as qualidades possíveis e solicitas de imaginação. Mas, Vida, eu não posso/consigo tirar a ninguém, se não a mim próprio! Como tal, e como pouco resta a levar daqui, a não ser um poço sem fundo, onde a queda é dissimulada e lenta, asfixia cada vez mais, à medida que a profundidade aumenta, resta-me destruir o que me falta: A Vida! Não a dos outros; a minha!
O cansaço abateu-se sobre a minha tentativa frustrada de egocentrismo puro e não consigo mais viver com o peso de ser o Monstro! Assim, num acto voluntário e firme de quem se cansou da vida ou de quem a vida se cansou, só há uma palavra que me resta: ADEUS!

Carta n.º 48

Do sal à água  ...em multidão
De quais orientações me despem os oceanos para se espelharem no espaço em que adormecem e se acumulam as ausências dos meus inícios?
 Ali, onde o óleo perfumado é leito e as armaduras se distribuem em vôos de fantasias reais, se despedem os meios-tons do silêncio de haver mais por regredir, (cá do meu canto sem encanto finjo não chorar cada momento amigo da distância).
Amparo-me em âmagos-motes, povoando um único instante: ser mar e areia confluindo entre margens de oásis. Quando então intuiria que tudo se dota das mais estranhas singularidades?  Seria meu ...ou eu esse mar, essa sereia, onde recolhida em saudade, peso  menos  que o opaco horizonte que me deseja enxergar. O que serei dessa fração não minha, crispada de ventres, sabor e calma?
A cada final de aurora em que recolho o que gostaria de nutrir por muito mais tempo. Num ínterim que escapa de um céu iridescente escorrego nalguma rua imaginária, salpicando sinais aos imprevistos que me impulsionam para fora de mim (o algoz tão próximo) as muralhas adornadas de pombas, a coragem flutuante nos ramos de acácia.
Lago do papel que não me ilustra, afago o ocre dos papiros impressos nas orgias outonais, nas cumeeiras das casas à minha frente, dançando em colunas rotas de ternura.
As ilhas de sal que ficaram ao longe me perpassam o corpo com aparições de vidro. A doçura, nívea, se torna compulsiva e me dá uma possibilidade única de vislumbrar-me maior que a felicidade, pecadora ou angelical, quem me implorará sentires nunca experimentados? Dedilho vagarosamente no meu ser a feição mais cúmplice, o jeito que não descrevo.
Como um traço corrompido a lançar-se num abissal infinito, com véus de alguma estrela diversa da minha ousadia, opto,  sabendo que já opção não me resta, pelos mais salgados sais ... sem razão, perpetuo o desfiar dos relicários,  relatos pálidos de ostras, renascendo rapidamente em outra intrusão sem dia nem tempo por acabar... Se partirem-se os meus opostos, acoberto-me na própria engenharia do exercício que me constrói sem dar conta às renúncias por verter.
Obtusa, replanto lírios recolhidos de águas e salinas, muitas outras vezes, apenas para reconhecer o gosto de gostar-me.
Com a alma espiralada na praia, a magia do meu regresso se redobra, porque simplesmente não suponho conformar-me em nublados  resumos  de mim.
...como se não conhecesse o pranto  ...o sol insufla-me a carícia do calor em buquês de vinho enquanto o vento, em ziguezagues, me sublinha  a testa com mais uma de suas veredas.



« Última modificação: Março 16, 2011, 15:45:58 por Administração » Registado
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« Responder #272 em: Março 13, 2011, 10:55:29 »

Carta n.º 49

Caro amigo Emanuel
Escrevo-te esta, a pensar se ainda te quedas nesse pedestal dos iluminados ou, se antes pelo contrário, desces à terra e permutas de lugar com as gentes comuns. Não que eu precise de exemplos da tua humildade ou sobranceria concomitantes, apenas por amizade te quero alertar que: ou deixas de puxar os galões e nada fazer para demonstrares a tua essência imaculada ou este te etéreo amigo te explica e realiza de verdade o acto de ser mais que humano sem ser necessário botar figura por de cima de qualquer ara.
Assim sendo, e já que te contentas em propalar uma superioridade que fica sempre por demonstrar, aqui te digo de forma simples e sucinta: haverá sempre mais deuses que altares, porque é razão do homem ser tão pequenino, que de tão pequenino e invisível se faz de tal forma semelhante a um deus bojudo e vago, que só mesmo por tamanha compaixão e solidariedade entre iguais te alerto do perigo de seres destronado pelas mistificações que laboriosamente criastes ao longo dos séculos.
Amigo Emanuel, lembro-te ainda dos falsos brilhos que exalam dos cânticos dos templos, aí, tal como bem sabemos, solta-se a frustração dos homens e dos deuses, embrulhadas de forma vistosa pelo pastor recitante. Antes de sermos o que somos; tudo e nada, presentes e ausentes do tempo e do lugar, usámos essas técnicas de manipulação e branqueamento de mentiras evidentes.
Afinal somos iguais, seja no submundo do opróbrio e da miséria, como no fausto e mentira dos altares e futilidades mundanas em que é reclamada a presença de algo de lá do alto, sendo o alto, aquilo a que os humanos sabem de cor e salteado como o lugar maior de perversão e de pecado
Já me adiantei demais nesta missiva, espero bem que não haja nenhum Assange a espiolhar a nossa correspondência e a divulgá-la, para fazer pirraça aos states, ao alá e ao Vaticano. No fim, tu é que tens razão em seres esse ente maleável e permeável que tanto se dá com cádáfis como berlusconis, sócrates ou cavacos. És um espertalhaço meu amigo Emanuel: bebem do vinho e do teu veneno também. Afinal, só mesmo um deus se pode permitir a um desconchavo tão grande.
E eu na mesma!

Vénia maior.
Obrigado pela tua também.


Carta n.º 50

Prezado amigo Ramalho
Hoje ando em corrupio de ideias e de desassossego por causa daquela frase que me enviaste, em nota de rodapé, na nossa última conversa naquele chat literário de graça e desaforo que sendo nada recomendável dá graça pelo nome desabrido que ostenta; realmente, “quem for poeta que se foda†é nome que não lembra a ninguém de baptizar site ou coisa literária semelhante. É que nem tenho memória de tamanha ousadia perpetrada pelos hiper-revolucionários artistas surrealistas.Tanto os originais como as contemporâneas e desenxabidas cópias pululantes foram sempre mais conformes que disformes. Adiante!
  Voltando ao assunto que me força ao prazer ansiado de escrever a quem merece comunicação constante, é voltar a uma sábia provocação do meu estimado amigo Ramalho, que por desassombro maior, não só “apoia†o inenarrável Pessoa no apodo de ridículo a todas as cartas de amor, bem como as considera não literatura e coisa de nível e ao nível da pornografia literária de paulo coelho ou saramago. O apodo de ridículo a todos os que ousam escrever sobre amor ou coisas similares, não é adjectivo que me repugne, caro Ramalho, aliás pateta mesmo é quem confunde luz com sol ou claridades e, ainda por cima da campa da escrita insalubre se ostenta de escriba do amor.
Ridículo caro amigo, é mais o autor que o próprio acto de escrita, e sujeito-me nesta afirmação a contradizer-me sobre o que penso e sinto sobre obra e criador, mas de facto no caso do esclerosado Pessoa, do caso pessoano do amor e do caso do pessoa ridículo e da Ofélia pateta, há realmente uma forte união entre a génese dum crânio vazio a verter um texto ilegível.
Os pessoas, os saramagos, os coelhos e as suas cartas e textos e todas coisas que derivam deles serão patéticas e execráveis mas, meu grande amigo Ramalho, só o amor não pertence a esses filmes do tipo orson reles em sessão pornograficamente contínua. O amor e os escritos de literatura sobre o mesmo, serão tudo menos ridículos.
Quem nunca amou e não queira amar nem escrever que apanhe uma valente pedra.
Na cabeça ou no sítio que não lhe fizer falta.
Haja Ramalho, haja meu amigo, vontade de ser violento contra a violência dos desafectos. Só na falsa e medíocre poética se escrevem coisas insustentáveis porque em boa verdade se estamos de acordo do desnecessário e da inutilidade da poesia, o chiste de: “quem for poeta que se foda†é ameaçador por ser um atentado à mediocridade e à presunção.
Abraço mui fraterno.
Cuida-te com desvelo.

P.S- Dá-me troco: Quem não sabe criar nem escrever amor, ou é pateta ou poeta erudito ou popular. Pode também ser intelectual ou filósofo ambulante!
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« Responder #273 em: Março 13, 2011, 18:13:21 »

Mãos à obra.
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Dionísio Dinis
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« Responder #274 em: Março 14, 2011, 06:13:47 »

Participem.O prazo termina hoje às 24:00h.
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Pensar amar-te, é ter o acto na palavra e o coração no corpo inteiro.
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« Responder #275 em: Março 14, 2011, 19:49:35 »

Participem.
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« Responder #276 em: Março 14, 2011, 21:14:07 »

Até à meia noite de hoje podem enviar as vossas participações.
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Oswaldo Eurico Rodrigues
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« Responder #277 em: Março 14, 2011, 21:46:27 »

Meia noite do Brasil? Ainda dá tempo. Meia noite de Portugal não mais. Enviarei texto para o próximo concurso.

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Oswaldo Eurico Rodrigues


Escrevo também nos sites Recanto das Letras (www.recantodasletras.com.br)
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« Responder #278 em: Março 16, 2011, 15:48:38 »

Carta n.º 51
Caríssimo Leonardo

Saiba que é meu maior desejo senti-lo a sorrir, quando ler e degustar estas modestas letras que lhe envio em tom de descargo de pouca consciência.
Sempre nos entendemos quanto aos nossos posicionamentos ético-políticos, vc sempre à frente de todas as revoluções, a mão armada sempre com bons néctares e a boca disposta a tecer belas retóricas de ética e fraternidades afins. Eu, pelo contrário, sempre defendi toda a legitimidade do lucro, mesmo que assente em selvagem concorrência, porque o ser humano não é animal doméstico, e eu não me governo com trocos ou esmolas. Das solidariedades também estamos conversados, vc sempre quase a obrigar o ser humano a ser solidário eu, a usar a sabedoria popular bem espalhada na minha máxima adorada: “quem quer bolota trepaâ€, porque mais vale uma caridadezinha de tempos a tempos, que um exército de viciados nas solidariedades alheias.
Pergunta-se agora o meu amigo, se faz sentido algum o que eu agora escrevo nesta carta, pergunta-se e com razão. Neste momento actual da existência humana, nunca me senti tão ameaçado nas minhas convicções e liberdade de pensar e de agir, por outras palavras: estou à rasca. Sim à rasca! Quero lá saber dos precários e das gerações à rasca, importa-me mais saber que, se essa gente de fraca cabeça e acções impensadas ainda ganha fôlego para fazer alguma revolução.
Está a ver meu amigo como é que fico com uma revolução feita por esses mentecaptos?
É que se fosse o Leonardo a fazer a revolução, ainda nos poderíamos entender, não por causa da nossa amizade, mas pelos requintados gostos que o meu amigo cultiva, algo incompatível com uma revolução sem classe e executada por brutamontes. Fora o meu amigo a liderar qualquer movimento rasco-revolucionário e eu saberia que a revolução estaria ganha, vitoriosa por ser encabeçada por alguém de requinte e elevado sentido estético. Pense nesta sugestão que deixo nestas palavras, não se quede só em teórico do blog da estrela, transmute essa diletância em acção educativa, dê aos seus comparsas trogloditas, sessões de chá, enologia e boas maneiras. Concedo que possa haver uma revolução, mas por favor: que tenham maneiras e educação. De resto, dos vinhos  e demais vitualhas, tratarei eu com pleno prazer.


Aguardo por si com a mesa posta, quando vc regressar da revolução.




Calorosas saudações conservadoras.
 


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« Responder #279 em: Março 16, 2011, 16:14:22 »

Ainda faltam algumas cartas que, tendo chegado em formato de momento incompatível, publicaremos brevemente e entrarão em concurso.
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« Responder #280 em: Março 16, 2011, 20:25:16 »

Carta n.º 52

Para além deste planeta
Olá, novamente! Sei que me pediste para limar as arestas do tempo e tentei fazê-lo, acredita. Só que as coisas não são tão simples como parecem e decidi escrever-te para te mostrar os limites ilimitados desta ilusão que me tolda o raciocínio. Sim, é verdade que desejava que ele me faltasse sempre que sinto que alguns laivos de raiva me podem conspurcar o discernimento e o corpo, coagindo-me a viver esta vida que sinto não ser a minha. As minhas chagas, já cansadas, vertem as imagens horrendas de um ar irrespirável, dos mendigos sem mãos, dos cegos sem olhos, que vagueiam pela sociedade, também ela cansada, do destempero humano que o homem governante, imprime na vida iluditória dos seus vassalos que já nem forças têm para rastejar neste solo minguado de possibilidades. Lembras-te da última visita que te fiz? Foi bom poderes sangrar todos os meus escolhos e conseguires imunizar-me o cerne! Iludiste-me (ou não?) quando me disseste que me tornaria num ser des(inquietado) de todas as maleitas que, aqui na terra, dão forma a este depósito do qual a minha mente se julga dona e senhora. Fez-me bem ter aí estado e, enquanto durou, foi bom. O problema é que agora, sinto estar, de novo, a transformar-me: já não respiro, não como, não me compadeço pela miséria vizinha, nem dos grãos humanos que rastejam solitariamente à procura de provarem quem de direito se devia responsabilizar por eles. É isto que pretendes? Porque não respondeste ao meu pedido? Ou será que nem chegaste a recebê-lo? Dá um sinal de resposta enviando-me o passaporte. Não me mandes o laranja. Esse está completamente descarregado. Vê se me consegues mandar o verde, aquele que tem a forma de um trevo de quatro folhas. Pelo menos pode ser o pronuncio de que algo irá melhorar, neste canto do Universo. Vou tentar que me concedam uma licença sem vencimento no cargo que ocupo. Estou cansado de me sentir impotente! É verdade que me mostraste que desempenhar o cargo de Regedor Humano não iria ser nada fácil. Mas agora, raios me partam se este vómito constante não me está a mostrar que me devo ausentar, por um tempo que seja.
Preciso estar contigo para falarmos naquele tratamento que me aconselhaste. Lembras-te que me deste a ler o teu livro “Reconstrução� Aconselhaste-me a memorizar a fórmula PTX x FR(3/34,905) mas não entendo para que serve tê-la em meu poder se, só tu e apenas tu, poderás tirar partido dela! Quero acreditar que fizeste de propósito para me obrigares a ter necessidade de te pedir, de novo, asilo. Se foi o caso, garanto-te que não saio daí sem me mostrares qual o segredo! Acredita que, só assim, terei coragem de retomar o meu cargo com a certeza de poder transformar este meu Planeta, num outro, onde o barro humano seja tão sólido como sólida é esta certeza em te querer visitar.
É bom que comeces a pensar com carinho na recepção que me vais fazer e não te esqueças de me reservar o quarto que fica virado para o astro rei pois assim terei a certeza de poder raciocinar com mais claridade! (Esta é para te pôr bem disposto!)
Um beijo

Carta n.º 53


De mão para mão
Olá irmã! Sei que deves estar ainda magoada comigo. Há muito que desejo a reconciliação e tu deves, talvez, sentir o mesmo. Onde já se viu as duas mãos estarem zangadas? Na protuberância do nosso conflito foi-nos incapaz atingir a lucidez nos gestos e nas feições que nos deviam ter levado à sensatez de uma decisão mais assertiva. Se não, pensa com calma e vê se não tenho razão. Lembras-te como reagiste, naquele confronto do nosso dono com aquele homem, completamente dopado pelo álcool que lhe consumia as entranhas? O que fizeste? Nada! Eu apenas quis agir pela paz enquanto tu, levantaste-te pela violência! Lembras-te daquela criança abandonada em mão de ninguém? Eu queria doá-la a uma vida digna e tu decidiste que ela permanecesse no frio da insensibilidade humana! Lembras-te daquele rosto esculpido pela mão da fome? Irmã, eu só queria dar-lhe um sustento e tu, negando-lhe o direito mais básico de toda a humanidade! Insististe até permitir que o relevo se vingasse mais naquela carcaça, cada vez mais, a descoberto! Lembras-te daquele sem-abrigo, completamente mergulhado na solidão do abandono? Eu apenas queria instigar o nosso amo a que procurasse o aconchego de um lar e tu? Não ajudaste em nada! Limitaste-te a esconderes-te no bolso frágil deste tempo, ignorando aquele corpo de ninguém! Lembras-te quando te levantaste, em riste, para ferir os sentimentos da mulher do nosso amo? Eu tentei protegê-la porque acredito num mundo mais justo, equilibrado pelos valores certos? O que fizeste? Cobriste-a de “porrada†e sentiste-te rejubilada! Lembras-te daquele jovem, esmiuçado pelo picanço da cocaína? O que fizeste? Nada! Bem me podias ter ajudado a levantá-lo e segurá-lo pelos ombros, mantendo-o de pé e encaminhá-lo para uma cura, mas não, preferiste esconderes-te, de novo, na profundeza do bolso. Como me senti impotente por, sozinha, não conseguir recuperá-lo daquele flagelo! Por todas estas razões, ainda continuas a acreditar que a grande culpada do breu deste nosso desentendimento, continuo a ser eu? Vá lá, sai desse bolso corrompido e reconhece, de uma vez por todas que, só em uníssono, seremos capazes de tornar este corpo que também é o nosso corpo, mais digno do que nunca! Quero que reflictas e chegues à conclusão que só unindo o mundo das nossas mãos conseguiremos revitalizar (e ainda vamos a tempo) este corpo no qual nascemos.
Certa da tua compreensão, aguardo por um gesto teu neste meu gesto e estou convicta que usarás do discernimento necessário para que juntas, possamos (re)construir um amo melhor. Um ser humano repleto de bons sentimentos!
Da sempre amiga e tua irmã
                                                          A mão esquerda

P.S. Não deve ser em vão a razão de ter nascido deste lado do corpo, não achas?

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« Responder #281 em: Março 16, 2011, 20:37:13 »

Neste momento, todas as cartas cumprindo o Regulamento foram aqui publicadas. Fica, assim, encerrado este concurso. Os autores têm agora dois dias para pedirem alguma possível rectificação. Após esse prazo, o tópico é trancado e as cartas passarão a ser apreciadas pelo júri.
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Os poemas são reflexos da minha alma...


« Responder #282 em: Março 18, 2011, 23:18:15 »

Sinto-me naufragar
no meio destas cartas com tanta qualidade.
Parabéns a todos os participantes.

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« Responder #283 em: Março 19, 2011, 10:57:39 »

Lista final das cartas a concurso


Carta n.º 1

Lisboa 25 de Outubro de 2010


Minha querida amiga

Espero que estejas melhor de saúde, fiquei e ainda estou incrédula com as ultimas noticias sobre essa tua maleita, mas como me conheces bem não resisti a enviar-te o 1º episódio da Fábula que te falei.
Conto que neste episódio dês umas valentes gargalhadas pois se não te fizer melhorar fisicamente de certo o fará à alma.


O curral das ressabiadas

   Dona loba era a fazendeira, a dona de uma grande quinta e que tentava manter limpa, organizada e acima de tudo, que todos os animais que recebera nas suas instalações fossem felizes e vivessem na paz dos Deuses.
Durante vários anos sempre com o seu vigor foi alimentando, tratando das suas companhias mais que preciosas. Não se privava de nada.
Era feliz na companhia da sua mana mais nova, a linda Karoxa que adorava dar “beijokas fofas nas boxexasâ€.
D. Loba a caminho da meia-idade, ou da ternura dos quarenta como lhe queiram chamar, sofrera durante anos a fio a desilusão de um grande amor, tendo como sua companheira fiel a ansiedade que a levou a ganhar um disparate de peso a mais.
Deixando a sua preciosa quinta aos cuidados da sua mana, sujeitou-se a uma transformação radical, uma metamorfose extrema tal como a sua mana Karoxa o fizera outrora.
Se antes D. Loba chamava às atenções mesmo exageradamente grande mas com atributos de deixar até os mais novos a babarem, agora que voltava às elegâncias dos seus 20 anos, na quinta todos andavam num desassossego feroz.
D. Karoxa não se ficava atrás, também ela voltara às suas formas de adolescente, misturando com a sua forma de ser rebelde, louca mas muito meiga, tão meiga que às vezes os outros animais chegavam a confundir a sua meiguice e amizade com outras “coisitas†que nada tinham a ver com a sua forma de estar na vida.
E nem imaginam como as outras fêmeas da quinta se contorciam de inveja.
Faziam de tudo para chamarem à atenção dos machos, exibiam-se, por vezes subtilmente, até se oferecerem a todo o gás, mas eles só tinham olhos para a D. Loba e D. Karoxa.
Na quinta existia um Cabritinho lindo, nascera já com aspecto de modelo profissional, com uma aparência sempre muito bem cuidada e agora que se estava a tornar forte, com porte, tanto a Cabrita Loira como a Ãguia Louca não se cansavam de o perseguir.
Coitado do Cabritinho já não sabia onde se enfiar para se esconder das duas stockers loucas que não lhe davam descanso nem de noite, nem de dia.
D. Loba e D. Karoxa tentavam a todo o custo manter a ordem na quinta e enquanto D. Karoxa ia dizendo as verdades, dando na cabeça, puxando as orelhas e ameaçando que ia chamar a D. Loba para dar com o seu famoso “xinelo†nas desmioladas, assanhadas, o Cabritinho ia chorando as suas mágoas no colo de D. Loba.
A Ãguia Louca, ave sabida usou das suas artimanhas para tentar captar a atenção do pobre Cabritinho e assim colocou as garras de fora, pôs-se a trabalhar e sem pedir licença a ninguém criou um clube de fãs no Face-Book para o Cabritinho.
Entre o ficar envergonhado e com o ego na lua o Cabritinho até gostou da ideia só que, apesar de ficar eternamente agradecido, não demonstrou qualquer interesse com assuntos que a Ãguia Louca queria levar a cabo com esta artimanha.

Amiga, por hoje é tudo, para a semana que vem enviarei o 2º episódio.

Da tua amiga que nunca te esquece, que te mantém no coração,

...

Carta n.º 2

Lisboa 2 de Novembro de 2010


Minha querida amiga

Fiquei feliz por teres gostado da Fábula e tal como te tinha prometido, nesta carta envio o 2º episódio.

O Curral das ressabiadas

É claro que a Cabrita Loira se aproveitou da situação para fazer cerco ainda mais cerrado, enviando mensagens, fazendo-se de infeliz, com pena dela própria chorando à frente de todos num verdadeiro cantinho de lamentações em que por mais que fizesse o seu “amor†não era correspondido.
Fazia de tudo, até elegera o Cabritinho a Muso Oficial da Quinta mas ele não a compensara da forma que ela esperava.
Vendo o pobre Cabritinho em total desespero, encurralado pelas duas fêmeas que não se cansavam de o perseguir, as manas juntaram-se e entraram no Clube de Fãs para manterem a ordem e protegerem o seu Cabritinho.
O que ninguém esperava era que com tantos cuidados uma história tórrida, louca quente e abrasadora estava a nascer pelos animais que menos se esperava que fossem intervenientes.
D. Karoxa não tinha mãos e palavras a medir, recebia confissões de paixões por parte dos outros animais que se iam encantando uns pelos outros sem que desconfiassem.
Coitada da D. Karoxa com tantas lamúrias daqui e dali já nem sabia o que era dormir. Já nem se lembrava do que era deitar-se cedo e acordar no outro dia a meio da manhã. Se agora conseguisse dormir 2 horas era quase um milagre, tal era, coitada.
Por outro lado o Cabritinho descobrira o fascínio que uma fêmea mais velha podia exercer, deixando todas as suas hormonas saltitantes em forte curto-circuito fazendo-o procurar o colo de D. Loba para se acalmar.
Apesar da compreensão, dos conselhos de D. Loba, do abraço forte que esta tinha, não era indiferente o calor que ambos sentiam quando estavam juntos.
Quando menos esperavam foram assaltados por uma febre invasora que só acalmava quando os dois ficavam juntos.
Tudo isto não era normal, D. Loba sabia exactamente qual a doença que ambos padeciam e não havia cura. Os sintomas eram terríveis, calor, desejo incondicional, loucura e tudo causado por esta maleita, A PAIXÃO!
Pobre D. Loba, morria de preocupação como é que a vida lhe pregara uma partida destass e ainda mais por um Cabritinho de Leite!
Ai o que iriam dizer dela, PEDÓFILA! De certeza que lhe iriam chamar assim. Mas por muito que combatesse este sentimento quando menos esperou viu-se envolvida num louco tango selvagem com o seu Cabritinho.
A coisa era tão intensa, tão efervescente que ambos quando se falavam no xat de Portugal o Normal, já planeavam em afastar os móveis da sala para que não houvesse mais estragos dentro do covil.
Agora sim, as outras duas estavam piores que ursas, choravam baba e ranho de todo o tamanho, faziam-se de vitimas, imploravam, enfim faziam um choradinho de meter dó, coitadas das ressabiadas!
A vizinha do lado não se ficava atrás, tentava tudo por tudo, pobre vaquinha, bem que queria canalizar todas as atenções para si enquanto confessava que o seu companheiro, o Sr. Porco já ressonava que nem ele próprio.
E dia após dia lá vinha ela ao fim da tarde às vezes com histórias mirabolantes, sem pés nem cabeça, na esperança que alguém da quinta lhe desse a atenção que pretendia.
Entre todos na quinta andavam a tentar tirar à sorte quem é que a iria aconselhar a ir ao veterinário pois desconfiavam que a pobre vaca estivesse já com uma ponta de BSE.

Amiga, para a semana que vem, enviarei o 3º episódio.

...

Carta n.º 3

CARTA RACIONAL

Cara Razão,

É com pleno e puro agrado que te escrevo esta carta, a ti que estás em mim numa tal omnipresença que nada mais existe a não seres tu. Escrevo-te com o objectivo de me aproximar por via das palavras do Sol inatingível mas que me vai, quando possível, iluminando.
Quando me deixas na escuridão lágrimas vão caíndo como uma cascata de um rio outrora calmo, de corrente súbtil. O meu coração, em vez de sangue, bombardeia todo o tipo de sentimentos e emoções desencadeando posteriormente em sofrimento ou em vulgar felicidade – que não é mais do que outro género de sofrimento. Tu sabes, minha cara Razão. Tu sabes que quando me abandonas, por motivos que te são alienáveis, eu deixo de ser o ser que vai escrevendo esta carta, para ser o ser que vai lendo-a, inundando-a de paixão desesperante.
Por este meio, penso (lá está, penso!) poder criar um elo de ligação imutável, indestrutível e inseparável que consistirá por conseguinte numa constante troca de correspondência; mantendo, por sua vez, o rio o seu percurso esperado, sem desagradáveis surpresas. Quero-te (se quero tenho que poder) como o meu maior amor, como a natureza que vai controlando a corrente da minha vida tão verdadeira e correcta quanto puderes. Não deixes que os teus malditos adversários me conquistem, porquanto eu sou teu, não naturalmente, mas por arte; nasci terra de ninguém, fui proclamado pelos demónios das sensações e depois de numerosas e árduas batalhas fui conquistando a minha independência com o intuito de entregar-ta a ti, minha mais-do-que-tudo. Não obstante o inimigo estar não raras vezes à espreita, acredito nas tuas capacidades bélicas de me defender dele e das suas prazerosas e indiscutíveis tentações. Acredito e pretendo que esta carta reforce toda a tua confiança, que apesar de inabalável, é necessário ter em conta toda a precaução, pois se és confiante podes não ser o suficiente (ou não o ser eu) para me transmitires por inteiro e sem hemorragias pelo meio essa confiança.
Querida Razão, as tuas armas são-me indispensáveis e não as quero perder pois a guerra só terminará na morte. Pensamento, ponderação, análise são das armas mais importantes contanto não deixarem de ser mais sofisticadas, eficazes e superiores às armas passionais do inimigo. Peço-te portanto que não deixes de trabalhar nelas e, no que me diz respeito, vou também ajudando utilizando-as da melhor maneira possível. Creio que juntos vamos conseguir ser melhores!
Por fim, terminando como iniciei, declaro todo o meu amor por ti, sabendo eu que é recíproco. Ambos, também o sei, entendemos que este amor não é o Amor que o adversário nos tenta impingir, mas um amor mais alto, mais além, incomensurável. Minha Razão, a ti me dedico, o mesmo é dizer, que a mim me dedico. Juntos somos Uno, juntos somos mais e mais.

Assim me despeço.

Para sempre teu,

O Corpo.

Data: Algures na Intemporalidade.


Carta n.º 4


    Ah, Mundo...


    Cresce em mim a saudade de ti! Não te vejo há muito. Este quarto exíguo tornou-se toda a minha realidade... Eles dizem que sou perigoso, incapaz de funcionar em liberdade nas tuas ruas, na superfície que dá tapete ao formigame humano. Temo jamais regressar a ti.
   Perdoa-me não preceituar esta carta com a usual data que inicia qualquer documento, mas a verdade é que me perdi no tempo há muito. Não se contam aqui os dias nem os meses. O fundo branco e almofadado das paredes que me cercam neste âmbito faz-se também cárcere do tempo, encurralando a sua essência no esquecimento de que padeço. Pois é... parece que a minha soledade se tornou completa, abarcando ambos espaço e tempo, os dois hoje tão longe de mim.
   Esta manhã permitiram que eu escrevesse. Ouvi-os deliberar. Parece que vêem na escrita uma âncora no real, um exercício à mente que promove benefícios e progressos. Libertaram-me da firme indúvia que me tinha de braços imóveis e trouxeram-me papel e lápis. De repente, eis que este angustioso espaço deixou de me confinar por inteiro; prende-me o corpo, mas não a opinião, livre de voar através da palavra, ainda que somente de existência depositada numa folha. A palavra é força. Se a uso, meu espírito agiganta-se! Em oposto, usam aqui palavras que me fustigam, vis ferramentas da arrogância. Sim, eu ouço-os, às vezes, falando entre si. Cospem termos como “psicose†e “demênciaâ€. Mencionam-nos na terceira pessoa, alheios, tal qual se refugiados no anteparo da sua presumível sanidade mental. Esquecem-se de que são carne semelhante à que me reveste, igual matéria. Não equacionam sequer a possibilidade de ser ténue a diferença entre a minha loucura e a deles, de que dementes todos o sejamos, partilhando um mal comum de díspares sintomas... e os meus apenas dêem um pouco mais nas vistas.  
   Oh, Mundo que me fugiste, será que ainda esperas por mim? Reconhecer-me-ás no dia em que eu pisar teu chão novamente? São essas questões a razão da minha missiva. Por dentro sofro e sangro. Poderei ainda fazer parte de ti? Desejo-o tanto! Quero voltar a saborear o sol, a calcorrear pelas areias da praia, cheirar o limo do mar a olhos fechados. Quero ouvir vozes e risos. Quero viver. Tenho de partir daqui. Preciso de urgente liberdade, antes que a insânia que nego acabe por me engolir e eu me torne, de facto, no louco que me acusam de ser. Como é curioso sentir, Mundo, que embora esta sala me prenda, és tu quem verdadeiramente me tem cativo.
   Não me podiam privar de ti. Não tinham esse direito...
  Desvalorizaram-me. Julgaram-me uma simples mente vazia perdida para o marasmo e a incapacidade. Erraram. Cometeram um só lapso, pequenino, tão subtil como um magro fio de malha, mas pela ponta de um fio solto se começa a desfazer o mais grosso tecido. Não deviam ter-me posto este lápis na mão; sua cúspide pode assumir-se arma mais séria que a mera escrita que capacita... Ouço alguém chegar. Deve vir em rotina, para verificar se me encontro plácido, escrevinhando rabiscos ao sabor da displicente falta de tino. Aperto o objecto com força, nele esmagando as mais recalcadas frustrações, e cerro os dentes enquanto aguardo que abram a porta. Meu visitante terá a amarga saudação de um frio golpe; depois, uma corrida pelo corredor levar-me-á a rua e... ah, Mundo, velho amigo, começo a sorrir, creio que nos iremos afinal reencontrar em breve...


Carta n.º 5

Contando os dias
Meu estimado marido, aproveitei que as crianças já dormem para te redigir mais esta carta, desta vez de coração garroteado. Não vale a pena expressar por palavras o quanto sinto a tua ausência, e o vácuo que deixaste nesta casa.
Sei que faltam escassos meses para voltares para a tua família e para o conchego do teu lar, e que tudo o que estás a fazer é para nosso benefício e felicidade, todavia, desde que partiste, com pesar no olhar, que as noites para mim são uma eterna angústia mesmo sabendo que a lua que vejo é a mesma que tu vês. Hoje estou particularmente frágil e sensível, quiçá por se avizinhar o Natal, e ser o primeiro, em seis anos, que não o passamos juntos. Não há um dia que não me sobressalte sempre que o telefone toca, não há um dia que não anseio por meter a chave na caixa do correio sempre que chego a casa à espera de palavras escritas pela tua mão. Receio sempre más notícias meu homem, e, mesmo que a missão que cumpres seja de louvar, heróica até, o país nunca conseguiria compensar tamanha perda se voltasses derrotado dentro de um caixão... Quantas noites sonho com essa guerra que não te pertence… Sonho com gente mutilada, com tiros e feições desesperadas, realidades que só a televisão me dá a conhecer… Devoro todos os noticiários espavorida e abraçada à almofada… Suspiros enchem o meu peito cada vez que fixo as nossas molduras!..
Mas deixa-me contar-te como vão por aqui as coisas. Os meninos vão bem na escola e a professora de música do Daniel teceu-lhe elogiosos comentários. Diz que ele tem um ouvido fora do comum para a idade e um sentido melódico extraordinário. A Rita continua a melhor aluna da classe, como sempre e vai muito bem no ballet. Temos dois filhos maravilhosos, que todos os dias perguntam se falta muito para o teu regresso. Quanto a mim, vou riscando no calendário que está atrás da porta da cozinha cada dia que passa. Para eles, chegou o entusiasmo natalício, e esta é última semana de escola. Já adornaram a árvore de natal e fizerem o presépio sozinhos... Gostava que visses como ficou bonita!.. Só faltam as prendas, e este ano não lhes posso dar o que pediram, vão ter que se contentar com pouco que posso dar, a não ser que a madrinha deles seja este ano generosa e que não se lembre de lhes dar bíblias ilustradas e pares de meias como no ano passado. Lá querem os miúdos saber de ilustrações religiosas e, para meias, graças a Deus ainda temos dinheiro! Há-de levar o dinheiro todo para a cova a sovina e, ainda por cima sempre com queixumes que a vida está má!.. Mas para a igreja nunca lhe falta dinheiro! Bem sei que tem uma reforma choruda dos anos que trabalhou lá fora!.. O padre Francisco é que a sabe levar… Veremos se dá uma alegria às crianças este ano… De resto os dias sucedem-se com a normalidade possível, passo os dias no fundo de desemprego, envio currículos dos quais não tenho retorno, vou dar uma ajuda à minha mãe (o meu pai continua sem melhoras e ela não lhe consegue fazer a higiene sozinha), vou buscar os miúdos à escola, vou ao supermercado, enfim... Volta depressa marido, que morremos de saudades e precisamos de ti aqui!
Ainda que me sinta um tudo-nada aliviada sempre que te escrevo, e até poderia passar a noite nesta cama vazia a escrever-te, vou ter de terminar por aqui. É que já sinto os olhos humedecidos e não quero molhar estas palavras com as minhas lágrimas.

Com amor,

...

« Última modificação: Março 19, 2011, 11:42:29 por Administração » Registado
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« Responder #284 em: Março 19, 2011, 11:00:43 »

Carta n.º 6

Algures em Novembro

Há muito que te queria escrever umas linhas, mas, sem pretexto, não passava de uma vontade impressa no pensamento.
Agora, aconteceu o inesperado e o tal pretexto que não tinha, apareceu do nada, obrigando-me a cumprir o que me havia prometido.
Sabes, é que, ainda que a vida nos tenha cruzado e descruzado as linhas do destino e o tempo se tenha ocupado em tornar cada vez maior a distancia física e o total desencontro de lugares, não conseguiu, contudo, apagar o que o sentimento desenhou e imprimiu na alvura da minha alma de então, cujo sentido se resume numa simples expressão, que, aliás, não te cansavas de mencionar nas cartas que trocamos na época; o amor fraternal.
Talvez não saibas, mas ainda guardo todas essas cartas que me enviaste durante aqueles dois anos após o nosso encontro casual naquela tarde quente de Junho. Cartas essas onde me deste a oportunidade de te conhecer verdadeiramente, de descobrir o ser  maravilhoso que existia no íntimo de ti, capaz de dar tudo o que tinha pelo seu semelhante mais necessitado. De acreditar nas tuas convicções, de te saber genuíno nos sentimentos que te moviam e que bebiam na fonte cristalina da tua fé imensa  num Deus redentor. Nunca consegui seguir-te os passos, como era o teu desejo (ainda guardo igualmente aquela pequena bíblia de capas cinzentas que me ofereceste)...   perdoa-me, mas a fé é algo que nasce e que tem de vir de dentro de cada um, algo em que se acredite piamente, se sinta verdadeiramente e se entenda como uma verdade! E a verdade, é que  nunca senti nada semelhante nem com o teu constante apelo nas inúmeras tentativas que fizeste para me converter em mais uma fiel ovelha do teu rebanho. Desculpa, mas eu sou assim, firme em certas coisas. Já noutras...

Sabes, para além de ficares eternamente nos corações daqueles que contigo privaram onde me incluo também, deixaste um imenso vazio no coração daquela com quem partilhaste a vida e que te acompanhou sempre. A companheira que te amava incondicionalmente. Este poema foi escrito por ela e fazia parte do conteúdo do email que me enviou com o teu endereço...

Amor,
No tempo e no espaço onde vivo sem teu amor
A existência perdeu seu brilho
E queria dizer-te, ainda hoje, que contigo foi toda a minha felicidade!

Amor perdido é um
Amor que permanentemente dói e dilacera a alma
Nem o vento, nem a chuva, nem o sol, ainda que acariciem meu rosto, poderão fazer-me esquecer o carinho de tuas mãos
O despertar da manhã não traz esperança de mais um dia contigo
Nem o cair da tarde a alegria do reencontro
Nem a noite o calor de teu corpo
E quando nela tento o esquecimento
Tu ainda voltas no sonho…

Mas nada, nada pode reavivar a existência desse amor que só a ti pertence!
Amo-te é a palavra que te digo todos os dias
E é essa mesma palavra que tantas vezes repetiste que ainda ouço
Amor, vemo-nos logo, 365 dias foi apenas um dia!

Que me dizes? A tua célebre frase, tão racional, que sempre atenuava minhas tristezas: «Deixa isso!»?
Como deixo isso? Quem, para além de ti, poderá acompanhar-me nesta travessia?
Deus responde em teu lugar: vai ao jardim! Lá encontrarás a flor da amizade…

Esta carta nunca te irá chegar às mãos, mas vai ficar a pairar num espaço virtual, onde, acredito, a tua alma paire também...

Desta tua amiga que nunca de ti se esqueceu

Carta n.º 7


Sexta Feira, 03 de Dezembro de 2030

Olá!
Por esta não esperavas tu, companheira. Receberes uma carta do futuro, enviada de um tempo que não passa de utopia.
Mas aqui estou eu, a escrever-te estas breves linhas para te dar conta de que ainda por aqui ando, o que julgo, muito te agradará saber.
A esta altura deves ter o cérebro a trabalhar a 100 0 à hora, a braços com a surpresa do impensável inesperado. Bem sei que não te deve ser fácil lidar com o surreal da situação, mas tenta acalmar-te e ler-me com atenção.
Pensa, se recebeste notícias minhas com vinte anos de avanço, é sinal de que os tempos mudaram tanto tanto, as tecnologias evoluiram a uma ponto que entraram numa dimensão inimaginável nesse tempo em que te encontras ainda. O que antes seria coisa de loucos, hoje é algo tão normal como o simples acto de falar!  Mais, tendo em conta que  esta carta que tens nas mãos foi escrita e enviada por mim, bem podes pular de alegria porque é mais que certo ainda teres pelo menos mais vinte anos de vida!
Pois é, acredita que sou eu quem te o diz e como bem sabes, não sou pessoa de inventar seja o que for, muito menos mentiras.
Companheira, não te vou estragar a surpresa daquilo que ainda tens para viver, pois isso seria uma desfeita para com a minha própria pessoa e era bem capaz de te tentar desviar dos caminhos que, embora te possam trazer obstáculos, são os únicos capazes de te proporcionar e fornecer o sal da vida, o tal que dá aquele  temperozinho tão saboroso e pelo qual vale a pena correr certos riscos...  faço-me entender? Tens de viver cada dia como se fosse o último e procurar em cada um deles, nas pequenas coisas por mais insignificantes que te pareçam, aquilo que marque a diferença e torne o de hoje sempre um pouquinho melhor do que o de ontem.
Continua a ser como és, não faças é muitas asneiras que te possam comprometer a saúde do corpo bem como a sanidade da mente e vais ver que ainda me apanhas...

Aceita uma piscadela de olho desta que em ti vive e de ti ainda muito espera.

Até um dia, companheira!

Carta n. 8

Exma. Administração,

É com profundo sentimento de liberdade que lhes dirijo esta carta, depois de quase nove anos de degredo na vossa empresa, que coitada, por ela só, não faz mal a ninguém.
É certo e não nego, muito ter aprendido com todos vós, Senhores Administradores durante o tempo em que servi nas minhas funções de Director, por inerência do cargo, de quase tudo como é habitualmente exigido aos directores que exercem os seus cargos responsavelmente.
Lamento no entanto confessar-lhes que o que aprendi convosco estou agora a tentar esquecer por todos os meios para voltar a ser digno de mim próprio. Nunca necessitei de recorrer ao cinismo e hipocrisia, nem muito menos à mentira e cobardia para alcançar os meus objectivos, nunca precisei virar a cara fosse a quem fosse, nem mesmo a partir de agora o farei com V. Exas. porque afinal o elo fraco está do vosso lado, não do meu.
É obvio que não estou magoado, pois este mundo é uma selva e todos somos animais, só que, uns mais que outros, convenhamos.
Sim, sofri imensas escoriações na minha maneira de ser, mas nenhuma delas que não tivesse conseguido cicatrizar, sem um leve pronuncio de infecção, porque sempre consegui expelir o vosso veneno atempadamente do meu ego.
As pessoas que fui forçado a demitir, continuam minhas amigas, realidade que V. Exas. nunca entenderam, porque sempre muito distantes delas, faraós auto nomeados enquanto mergulhados na gamela do pseudo poder de quem não valendo, pensa valer, sem olhar em seu redor, apenas ouvindo os aplausos dos desgraçados submissos e nunca o grito de verdade e revolta dos que quase sempre têm razão e são capazes de fazer um retrato perfeito de quem os comanda, sem verdade, paixão e camaradagem, sim porque as amizades só têm validade nesta vida meus senhores e não me consta que de algo sirvam na sepultura.
Não desejando aumentar o peso do vosso saco de remorsos, porque afinal, quem possa ter o poder de o fazer, tal o fará, sem de mim necessitar.
Despeço-me com votos sinceros de rápida e profunda recuperação, a qual acredito em alguns de vocês seja extremamente dolorosa, senão mesmo impossível.
E acreditem que teria sido mais bem feliz se não vos tivesse conhecido, mas a vida tem destas surpresas e com elas temos de sobreviver.
Melhores cumprimentos e se necessitarem de algo apelem ao vosso poder indestrutível, como julgam possuir. 

Carta n.º 9

Na passadeira te ficaste
Hoje, devido a um acontecimento banal e inopinado, invadiste-me a memória de tal forma que decidi escrever-te esta carta. A última que te escrevi já faz muitos anos, era eu pequeno, e foi escrita dias depois do teu falecimento. Não me recordo que palavras nela escriturei, mas tenho a certeza que a leste. Hoje o destino levou-me a atravessar aquela passadeira, carcomida pelos pneus dos automóveis, onde tantas vezes atravessavas comigo de mãos dadas e me ensinavas as regras do bom peão. Olhar para a esquerda, olhar para a direita… Atravessávamos e depois fazíamos um gesto de agradecimento aos condutores, que, dizias tu, ficava sempre bem. Depois seguíamos até ao portão da escola onde me deixavas. Dizias-me sempre para me aplicar nos estudos para ter um futuro risonho, e, antes de me dares um beijo de despedida, metias-me uma moeda no bolso para comprar uma guloseima no final das prelecções da professora Teresa. Tenho tantas saudades desses tempos avô! E hoje emergiu-me tudo à memória, aquele dia fatídico, aquela mesma passadeira, os condutores a saírem dos carros em teu auxílio, tu no asfalto agarrado ao peito, a sirene da ambulância que se aproximava, e eu ali, imóvel, pingos nos olhos, de mala a tiracolo sem saber o que se passava contigo. Ainda hoje me custa a compreender como o teu coração te atraiçoou. Sempre foste um homem de saúde, fizeste muitos anos desporto, até foste federado em hóquei em patins, não fumavas nem bebias… Hoje não choro porque já sou um homem e tu sempre me disseste que os homens não choram, mas amanhã, logo cedo passarei pelo cemitério e te deixarei esta breve carta em cima da tua laje. É que desde a primeira carta que te escrevi, que acredito que à noite nos cemitérios há vida e que tu a lerás.   
Com saudades,
Ricardo
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Bom dia. Para todos um FigasAbraço
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Partilhar é bom! Partilhem leituras, comentários e amizades. Faz bem à alma.
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E, se não for pedir muito, deixem um incentivo aos autores!
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Boas leituras!
Novembro 10, 2022, 20:29:08
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Boa tarde
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Obrigado, Administração, por avisar!
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Bom dia. O site vai migrar para outra plataforma no dia 23 deste mês de setembro. Aconselha-se as pessoas a fazerem cópias de algum material que não tenham guardado em meios pessoais. Não está previsto perder-se nada, mas poderá acontecer. Obrigada.

Maio 10, 2021, 20:44:46
Boa noite feliz para todos
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Olá! Boas leituras e boas escritas!
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Boa noite a todos.
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Bom domingo para todos.
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Boa tarde a todos.
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Boia noite para todos.
Março 22, 2021, 20:50:10
Boa noite feliz para todos.
Março 17, 2021, 15:04:15
Boa tarde a todos.
Março 16, 2021, 12:35:25
Olá para todos!
Março 13, 2021, 17:52:36
Olá para todos!
Março 10, 2021, 20:33:13
Boa feliz noite para todos.
Março 05, 2021, 20:17:07
Bom fim de semana para todos
Março 04, 2021, 20:58:41
Boa quinta para todos.
Março 03, 2021, 19:28:19
Boa noite para todos.
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