A FÁBULA

[CAMPISTA CABRAL]

   Em Meio às máquinas e ao barulho das máquinas a formiga escrevia. E escrevia o mundo olhando para a tela do computador. Uma tela mágica, de luz intensa e sedutora. O mundo, através da tela, era espetacularmente colorido. De um colorido fora do comum. Mais que real. E a formiga escrevia ou tentava escrever o que se passava consigo. Amores e paixões e reações muitas e sentidas ao longo do tempo. E escrevia ou tentava escrever o que via. Uma janela diminuta e um mundo mais que real. O brilho cada vez mais a envolvia e cada vez mais a chamava e cada vez mais a sorvia. Era ela uma formiga ligado a uma máquina. Na mesa pequena de madeira um prato, caixas de comida industrializada, um copo e uma lata de refrigerante. No chão, o controle da TV dividia espaço com um pote plástico contendo salgadinhos com alto teor de corante. Escrevia ou tentava escrever sobre as coisas do coração. Um coração apertado tal como a tela em que via o mundo. E o mundo era a tela e a tela era o mundo. E só. E assim vivia a escrever e a viver em frente ao computador.
   Um dia a eletricidade se foi e os controles e a tela não funcionaram. Não havia a esperança do stand by. Não havia nada que evocasse a energia. Não havia mais corrente.  E a cidade das formigas parou. Os carros pararam. Os sinais não funcionavam. Nenhuma formiga podia tirar dinheiro porque as máquinas inoperavam. Silêncio e frustração. Medonho não.
   Ela, assim como as outras formigas, saiu em direção à rua. O brilho do sol quase a cegava (passava muito tempo escrevendo ou tentando escrever na máquina). O azul do céu era bonito e sincero. O vento brincava com as folhas. E a formiga avançava e via mais formigas estupefatas sem os aparelhos dos quais necessitavam para viver e respirar.
   E prosseguiu a formiga até chegar ao calçadão que dava para a praia. Formigas. Muitas formigas olhavam o mar. E ela também olhou o mar. E viu que as ondas tinham um ritmo, uma pulsação. Viu que aves desenhavam acrobacias no ar e viu nuvens bem brancas. Brancas e sinceras. Escutou o som das coisas. Riu com as outras formigas e viu que era bom...

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

As formigas mudam. Sim, elas mudam. A dinâmica existe. Afinal de contas, o antepassado dessa formiga não precisava da arte para viver. Trabalhava muito bem sem música de cantora Cigarra. Seus descendentes continuaram trabalhando sem ouvir a música dos órfãos da mãe Cigarra, que continuaram a perpetuar a arte materna. Mas alguma formiga esperta percebeu que outros bichos ouviam e eram felizes por isso. A tal formiga esperta não sabia cortar folhas, rolar bolas de terra... Não era muito dada ao trabalho braçal e nem ao intelectual. Mas gostava de riqueza. E quis ser rica a todo custo. O formigueiro passou a ouvi-la. Em pouco tempo já não trabalhavam mais. Exploravam outros insetos que lhes traziam comida pronta e outros confortos. Mas não traziam a música da Cigarra. O tempo passou. As cigarras não conseguiram mais suportar cantar para ninguém. Resolveram se valorizar. Entraram para um reality show e fizeram fama. Agora as formigas são suas fãs.

[CAMPISTA CABRAL]

Obrigado Oswaldo!

Uma fábula como resposta! (Olha o texto aí!!)

Grande abraço!

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Acho que gostou da outra fábula.
Vou publicar, então.

Abraço...

[Goreti Dias]

Algum dia tomaremos consciência de que é bom antes de nos acontecer "desgraça" semelhante?

[Dionísio Dinis]

E só a vaidade e vacuidade humanas nos podem levar ao caos final.Não aprendemos com quem devemos.

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Relendo...

[CAMPISTA CABRAL]

Goreti,
Dionísio,
Oswaldo,

Não aprendemos e não queremos aprender. Infelizmente, o que vejo é o que sabemos: só nos damos conta quando tudo está no fim, ou seja, perdido.

Obrigado pela leitura.

Abraços.

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Eu é que agradeço a postagem.