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« em: Novembro 23, 2012, 15:32:29 » |
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O Fantasma Que Veio Assombrar o Natal
Betimartins
O frio já se fazia sentir, a cabana estava já apinhada de toros de madeira grossa, lá fora já caia a primeira neve, lenta, branca, fofa e aprumada, as crianças já estavam em altos alaridos, vestindo casacos e querendo brincar na neve.
Era a primeira vez que iam passar o Natal na montanha, férias e fins de semana, já tinham passado, mas ficarem isolados por dois meses na montanha era a primeira vez. A babá também veio conosco, foi muito trabalhoso, compras, encher arcas, transportar gasóleo para o gerador, bem melhor nem falar.
Meu marido tirou férias, quis também ficar mais uns tempos com os filhos, eu apenas tinha que escrever um livro sobre a minha infância, tinha apenas dois meses nada mais. Apertado, mas com toda aquela ajuda também não seria impossÃvel, eram três meninas, de idades diferentes, muito barulhentas. Mais dois dias e já tido estaria coberto de neve sem poder ter mais contacto com a civilização, apenas os telefones e o radio, logo ficaria sem net e claro que seria mais difÃcil entreter as crianças por ali.
O meu livro já estava no meio, escrevia sem parar, o meu marido fazia as refeições e a babá era de grande ajuda por ali, sempre estavam ligadas as crianças, quase que nunca me incomodavam. Estava eu distraÃda olhando pela janela os vendo, brincando e rindo, atirando bolas de neve uns para os outros, algo chamou atenção no final do jardim, via uma sombra gigante se movendo, parecendo querer estar escondida de todos ali, apenas observando.
Senti calafrios, algo estava errado ali, levantei-me e sai para chamá-los para dentro, claro que fizeram caras feias e ficaram mal humorados comigo. Meu marido puxou o casaco e exclamou: - É sempre a mesma, além de estares sempre ocupada e nunca teres tempo para nós cortas o barato da brincadeira com as nossas crianças.
Abanei a cabeça, sem falar no que tinha visto e que estava muito preocupada com tudo isso. Passei a estar mais atenta no dias seguintes, mas nada vi de estranho, meu coração foi sossegando aos poucos, afinal eu devia ter visto mal.
Dezembro já estava correndo rápido, as meninas andavam numa alegria descomunal, estavam preparando os enfeites do Natal, era dentro e fora da casa, que alegria era agradável de ver. Desliguei-me e contagiada os fui ajudar estivemos o dia todo, mas no final valeu a pena,quando ligamos as luzes, tudo estava lindo, parecia um quadro natalÃcio, lindo demais.
Aquele dia foi mesmo muito especial, ela trouxe a memórias lindas lembranças do passado, dos seus natais passados. Já estavam todos dormindo, quando de repente são acordados pelo grande estrondo na sala, todos se levantam e descem as escadas e são surpreendidos com algazarra que seus olhos vêem tudo destruÃdo, tudo não sobrou nada ali.
Estranho, a porta estava trancada. A babá corre levando as crianças para o quarto, perguntas e mais perguntas sem resposta. Sem saber o que pensar eu e o meu marido sentamos no sofá em frente da lareira que estava quase apagado, de repente ele reacende como por artes mágicas.
Olhando meio atônicos sem saber o que pensar, nós vemos uma figura sinistra na chama da lareira, horrenda e rindo, articulando gestos de muito zangado. Nisto as bolas disparavam do chão da sala como por artes mágicas no ar, tentando nos acertar, escutamos uma voz distorcida, falando: - Vão embora daqui, vão antes que seja tarde demais…
Levantamos e corremos para as escadas, temendo de medo, estávamos assustados por demais, que fazer naquela hora. Como poderÃamos cuidar da nossa famÃlia se não tÃnhamos ninguém, estávamos isolados, ali, nem telefone, mas quem sabe se amanha o radio volta a funcionar, pensando em mais uma noite naquele lugar.
O vento estava forte, batia sem parar nos vidros, as sombras sinistras das arvores pareciam ameaçar, juntamente com o fantasma que estava ali, habitando conosco, sem conseguir dormir, sentada na cama, minha mente estava fervilhando em idéias para ir embora dali o mais rápido possÃvel. O dia amanhecia ainda mais cinzento que a noite, uma grande tempestade estava vindo para a montanha, sinal de grandes complicações, sem sinal de radio e nem como sair dali. Levantamos cedo e descemos para arrumar a sala para que as crianças sentissem menos medo, fui preparar o pequeno almoço para as crianças, fiz tudo o que elas gostavam tudo mesmo. Tentamos não passar as nossas preocupações, a tempestade veio com tudo, um forte nevado cobriu a montanha como nunca antes sido visto, querÃamos abrir a porta, não conseguÃamos, a neve impedia, pelo grande volume.
Meu marido conseguiu sair pela janela e limpar algumas partes para que pudéssemos buscar lenha e ligar o gerador e claro buscar mantimentos na cabana do lado, as meninas estavam alegres já nem se lembravam da noite anterior, mas as ter presas por casa era complicado, descobriram o sótão, subiram e tinha tantas coisas antigas ali guardadas.
Todas elas brincaram por ali, Joana a mais velha descobriu um baú que não era fácil de abrir, foi buscar uma alavanca e forçou a fechadura e lá conseguiu.
Tinha montes de fotos, um lindo álbum bem conservado ainda, vestes de um homem, de muita elegância, óculos, canetas de tinta, tinteiros, anotações e outras coisas mais, tudo era estranho parecia que estavam descobrindo uma nova vida, remexendo mais no fundo encontram uma foto muito bem embrulhada com um laço rosa já descolorido. Era a foto de um casal muito elegante, atrás da foto, estava uma dedicatória de amor do senhor para sua esposa, seu nome era Benedito Ventura, mais no fundo estava uma fila de livros muito bem alinhados e conservados, pegaram neles e viram que ele era o autor dos livros. Correndo pelas escadas fora Joana gritava: - Mamã, olha o que eu encontrei aqui, ele também escrevia como tu, olhas, para esta linda foto deles aqui.
Olho com alguma curiosidade e qual é o meu espanto que é a foto dos meus visa vós, apenas existia uma na casa de meu tio, única, pois todas foram destruÃdas pelo incêndio, mas como esta foto veio parar aqui? Pensava eu. Meus olhos encheram-se de lágrimas, pedi que me levassem ao sótão onde estava tudo guardado, remexi em apontamentos e descobri que eram do meu visa avó, mas como se ele morreu no incêndio?
Era tudo muito estranho ali. Peguei nos apontamentos todos e trouxe comigo e alguns livros, li coisas intimas do amor exagerado dele com a minha visa avó, mas o que iria me chocar mais ainda é que ele é que incendiou a casa por ciúmes e ela morreu queimada. Se for assim, ele conseguiu fugir, mas quem era o corpo dentro da casa e lendo as anotações descobre que ele leva um sem abrigo e o embebeda, deixando-o lá dentro morrendo com a, visa avó se fazendo passar por ele.
Seu passado remexeu com a sua mente, memórias tristes assolaram sua cabeça, seus pais já tinham partido, sua mãe iria ficar tão feliz por ver aquele álbum, de repente a Joana dá um grito: - Mamã olha esta foto pareces mesmo tu, igualzinha a ti. Olhei a foto e era minha cara, apenas a preto e branco, mas era a minha cara. Meu marido se assustou com a semelhança da foto e franziu sua sobrancelha, acho que lhe li o pensamento. Se eu era a cara dela o fantasma só podia ser o visa avô, se ele queria tanto mal e era tão mau que ele nos iria fazer? Afinal o segredo foi desvendado ali, o visa avó nunca foi lá muito boa pessoa, mas sim muito mau tão mau ao ponto de matar como nas suas tramas policiais. Eu estava estarrecida com este segredo, por demais, mesmo, sem saber o que pensar e fazer. As meninas enchiam-nos de perguntas e voltar ao passado estava sendo penoso demais, era uma maldade sem limites forjar a sua própria morte e se manter escondido anos e anos a fio.
Não tinha cabeça para escrever, fui deitar um pouco, adormeci por segundos e vi todo aquele horror, a casa queimando, ela pedindo socorro e ele de fora rindo, rindo diabolicamente. Acordo assustada, não era um sonho, mas um pesadelo real, ele estava ali de frente a sua cama. Olhando-me, com olhar maligno, de vingança e escuto suas palavras: - Maldita, vieste para me assombrares, maldita sejas tu que vieste me tirar o sossego aqui, eu te matei e tu voltaste de novo.
Por momentos eu queria fugir, o quarto estava gelado, sombrio, silencioso, queria dizer que não era ela, mas a minha voz não saia, ele olhava-me com maldade, quase podia ver o que ele estava pensando na sua vingança. Ele grita e tudo sai dos lugares, minha cama gira em volta do quarto, escuto tentarem abrir a minha porta sem conseguirem, ele grita: - Vais arder aqui hoje comigo, vou pegar fogo a tudo isto aqui, ninguém vai descobrir o meu segredo, maldita sejas tu que vais comigo para o fogo do inferno.
Eu estava suspensa no ar a cama girava a volta do quarto, o medo gelava as minhas veias, sabia que ia morrer, apenas pensava nas minhas filhas e num ato de desespero, consigo gritar: - Saiam da casa rápido, saiam, leva as meninas daqui, ele nos vai matar a todos, saiam, vão embora. Algo já estava queimando, o tapete já estavam ardendo, as cortinas também, todos corriam para o andar de baixo, as chamas eram intensas, queriam abrir as portas e não conseguiam alguém atira com uma cadeira e parte os vidros da frente da porta, saem todos por ali. Já todos fora, as crianças chorando, chamando por mim, eu ainda lutava apesar das chamas, ele estava olhando, rindo, divertindo, a cama já tinha parado de rodar, eu já estava mais segura do meu corpo, olhei para o lado, estava uma bÃblia na cabeceira da cama, estiquei as mãos e alcancei-a, ele tentou evitar mas não conseguiu. Ficou um silencio mortal, apenas escutava o crepitar do fogo, o fumo já me deixava tonta, ele ainda ria chegando para perto de mim.
Olhei para a janela, estava tão perto, rezei a Deus e pedi que eu voltasse a ver as meninas de novo, agarrada a bÃblia, rompo a janela e atiro-me para o jardim. Sinto vidros entrando em mim, o corpo caiu, senti uma dor latejante no joelho, todo o meu corpo doÃa, tentei levantar para onde escutava gritos e vozes.
Arrastando-me pela neve sentia que a dor era menor que a minha vontade de viver e voltar a ver as minhas filhas, a casa ardia toda, vejo a minha famÃlia, eles ainda nem me viram, escuto as meninas chorando por mim. Gritei: - Estou aqui, ajudem-me!
Felizes, meu marido, a babá e as minhas filhas correm ao meu alcance, nem eu mesmo sabia como tinha ido parar ali, não sabia mesmo, sabia como tinha conseguido, mas aquela bÃblia me salvou, pois nunca tinha tido fé na minha vida e ela me salvou. Agora já podia escrever a minha verdadeira história.
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