Figas de Saint Pierre de
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« em: Janeiro 21, 2014, 17:38:22 » |
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UM NABO QUE PEDIU UM MOLETE! Hábil, de mãos e bom aluno, seu pai achou que em vez de o mandar estudar seria mais útil em ajudá-lo na pequena fábrica de botões, fivelas e artigos religiosos para Fátima! Assim, o protagonista desta estória verdadeira, habitante de S. Cosme, famosa terra pela qualidade dos seus nabos, de boa qualidade, que enchiam as tripas dos portuenses que, com muito agrado os comiam (até recentemente, um da Boavista fartou-se de os comer!) foi iniciado nas práticas industriais, assim, com treze anos, foi lançado, sem rede, nas práticas comerciais numa ida a Lisboa, depois de previamente treinado por seu pai. Embarcado em S. Bento, toda uma tarde e parte da noite foram gastas, pelo ronceiro comboio, até chegar a Santa Apolónia, onde apanhou um táxi e, como programado, rumou até à Praça da Figueira, para se hospedar, na Pensão Lá-Salete. Num dos eus quartos básicos, funcionais, onde apenas um jarro, cheio de água, sobre a mesinha de cabeceira, se destacava, para mitigar securas de viagens. Bebeu-a, toda, devido ao que antes tinha acontecido. Largado do táxi, cujo taxista ajudou o rapaz a levar a mala até à receção, dada a gorjeta, logo reparou que se tinha esquecido do livro de recibos, fundamental para cobrar as faturas dos clientes em débito. Alarmado, valeu-lhe a informação do rececionista, pois que conhecia o taxista, que por mera coincidência morava perto e sabia onde. Ainda antes de se deitar, foi bater à morada indicada, sendo atendido pela esposa, a quem foi relatado o sucedido. Ficando de voltar no dia seguinte. Sorte. Foi informado que sim senhor, o livro tinha ficado no banco de trás do táxi e que o mesmo fora entregue na Sede do Sindicato dos Taxistas, como era da praxe. Apanhar elétricos até à direção indicada não foi difÃcil, devido ao treino que já tinha no Porto, Que alÃvio! O livro foi-lhe devolvido, Tinha-se desenrascado e a tempo de ainda regressar à Pensão e esperar pelo representante de seu pai em Lisboa, que o acompanharia na apresentação do “filho do patrãoâ€, assim como obter encomendas e se fazer a cobrança das faturas em débito! O destino era Almada. Atravessaram o Tejo, e como era já hora de almoço, entraram num restaurante. Aqui é que entra a cena de um nabo ter pedido um molete, que dizem ter sido invenção do General francês Moulet, que tendo suas tropas estacionadas, ali para os lados de Valongo, para evitar rixas entre os soldados na repartição do pão, criou aquela forma unitária, passando a ser assim chamado pelo povo! O rapaz desta estória não se lembra do prato que pediu, mas sim de ter pedido mais um molete. Intrigado com a demora, pois tinha feito compasso de espera, eis que surge o empregado de nessa com uma omelete, bem loirinha! -“Não, não foi isto que pedi. Eu pedi um moleteâ€. -“Mas, desculpe, senhor, o que é um molete?†-“É igual à quele, que está ali,†disse o rapaz, apontando para um molete que estava numa mesa ao lado, esperando. -“Ah! Mas aqui chama-se papo-seco.†“-Tá bem. Seja. Então traga mais dois papos- secos, que eu quero encher o meu papo.†O representante de seu pai, sorriu, compreensivo com a estranheza, do rapaz do norte, pois que também tinha experimentado o idioma portês aquando das visitas que fazia ao Porto e a triste figura que fez quando pediu uma bica! -“O que é uma bica?†Ouviu! Depois, lá explicou. -“Ah! É um café!†O empregado tinha enriquecido o seu léxico. Um café era uma bica?!†“Ai estes alfacinhas.†Deve ter pensado. Bem que vieram os papos-secos faltosos para fazerem companhia ao resto da do almoço a cujo espólio digerido se juntou a omelete, que marchou, goela abaixo, na companhia dos dois papos-secos! Felizmente, como grata recordação ficou a sobremesa de morangos, com chantilly, que nunca tinha comido! Sentiu-se gente grande! A comer pratos estrangeiros! A tarde não podia ter corrido melhor, com boas cobranças e muitas encomendas! À noite, no quarto número sete da pensão Lá-Salete, o jarro, cheio de água, foi deixado em paz. Ao almoço, do dia seguinte, confortado com a cobrança, aventurou-se a pedir um copo de vinho, mas verde branco, porque o maduro não ia lá muito bem com seus verdes anos! O rapaz, ainda estava verde, mas aprendia depressa. Seu pai ficou muito contente pelo êxito da missão, todavia não soube da estória do molete/omelete nem dos recibos no táxi esquecidos. Nunca se deve revelar os pontos fracos. Nem o senhor Abade soube, porque a confissão não era o seu forte! ……………………….xxxxxxxxxxxxxxxx…………………….. Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo Gondomar Nota: Por acaso, o Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque conhece o protagonista da estória, que é o próprio!
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