Dark Angel
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« em: Abril 22, 2008, 15:34:22 » |
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Aquela criança apesar de se aperceber que não tinha bonecas, nem roupas como as suas amiguinhas, era uma criança muito feliz.
Corria nos campos, adorava comer espigas e quando se sentia exausta deitava-se sob as flores campestres de cor amarelada que cobriam seu corpo como um manto de luz em perfumes angélicos. Observava as nuvens imaginando as mais caricatas imagens.
Era este o mundo perfeito de Mariana onde se entregava por completo. A maldade do ser humano não cabia nem em sonho na inocência desta criança.
António, pai de Mariana, trabalhava numa fábrica de conservas e chegava a casa sempre mal-humorado. Ela percebia que algo estava errado, mas não sabia interpretar o porquê de seu pai culpar tanto Maria sua mãe, por toda aquela miséria em que vivam e as palavras eram sempre as mesmas:
- Se não tivesses tantos filhos, eu não padecia tanto. E ainda por cima tinha que vir mais uma, já não chegava os quatro que tinhas!
O medo tomava conta da boca de Maria, sabia que se falasse alguma palavra ele lhe bateria e já ninguém jantava naquela noite.
As crianças estremeciam de pavor, ficavam quietas como estátuas de mármore pálidas como a cal que cobria as paredes daquela casa envelhecida, todos soturnos.
António culpava tudo e todos que o envolviam, da infância que passara, das doenças que tivera, pela fome que passou quando perdeu seu pai aos cinco anos de idade, por ter que começar a trabalhar aos sete anos para ajudar sua mãe a criar os dois irmãos mais novos que ele. A revolta cegava-o em egoísmo, transformava-o num tirano irado.
Maria foi servir aos sete anos para Lisboa, após seu pai ter falecido. A mãe só a ia visitar ao fim do mês para receber as "cruas" que a filha ganhava. Viveu sempre sem ninguém, batiam-lhe, passou fome e sabe-se lá mais o quê. Contudo não molestava seus filhos nem ninguém com o seu passado infeliz. Transportava no olhar o carinho que nunca tivera e amava suas crias como quem doava a própria vida.
continua...
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