Figas de Saint Pierre de
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« em: Outubro 22, 2015, 12:28:23 » |
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A MINHA COROAÇÃO Então, foi assim: Sou republicano, descendente da nobreza, daquela que armou os filhos cavaleiros para a restauração da Pátria. Passadas essas ninharias de nobreza, sim porque descendente da linhagem do Grão Duque da Ordem de Malta, o que interessa para esta história é que caí na armadilha de ser coroado! Já minha mulher tinha a mania de chamar princesas às nossas filhas. -“Andai cá, minhas princesas” Princesas para aqui, princesas para acolá, até que vindo netos, o tratamento continuou, mas com a diferença inerente ao aparecimento de netos; príncipes e princesas. Passou a ser meu príncipe para aqui, minha princesa para acolá. E eu, um republicano até parecia que tinha uma corte real em casa. Quando reclamava de tanta princesa para aqui, tanto príncipe para acolá, minha esposa desarmava-me, dizendo que eu era o seu “Rei”, embora com parcos reguengos para deixar aos netos, até porque São Bento e Belém já estão ocupados! Contudo, é difícil deixar de ter um real trato! Bem sei que, em termos românticos e de fabulação, muitas raparigas, da nossa república, gostariam de casar com um príncipe. Fica bem. É como uma pessoa andar toda rota não ter de comer, mas sonhar vestir seda azul celeste ou escarlate real e sentar-se à mesa do Rei, não à mesa do Presidente, que até nem sabe, por vezes, comer pão-de-ló! Tinha que ser. Ninguém foge ao destino. A realeza vem sempre ao de cima! Já meu avó era um real enxertador de videiras, o primeiro em Gondomar, que ensinou, com a técnica duriense, os lavradores das terras dos nabos a passar do simples vinho americano para vinhos de maior qualidade. Meu avô, tinha virtudes e defeitos como toda a gente. Dos defeitos ou virtudes, um deles era que se não comesse igual ao patrão que o contratasse os enxertos feitos de tarde nenhum pegava. Se chegasse a casa e visse pão, que por ele não fosse ganho, era pão rejeitado. Não raras vezes, isto foi nos primórdios da implementação da República, bandeira monárquica que visse numa varanda era motivo para rixa pegada, para a arrear forte, a valer. Homens daquele tempo! Do antes torcer que quebrar. Já eu, também tenho a mania de mandar à merda estes republicanos de agora, que não têm ideais, mais parecem fanáticos católicos, que rezam, incessantemente, o venha o nós o vosso reino e o perdoai-nos senhor. Uns republicanos de merda, que uma vez agarrados ao poder mais parecem encetar eternas dinastias, na base dos votos do Povo, de que fazem simples bobo. Ah, mas eu, sempre a rejeitar monarquias e realeza, caí na esparrela de ser coroado Um dia, chegando a casa, minha esposa perguntou: -“Então. Como correu?” -“Correu bem. Colocou-me uma coroa” -“Mostra” Foi então que eu, abrindo bem a boca ela viu a coroação feita a um dente meu, que tinha partido! -“Quanto levou?” -“Quinhentos euros” Pronto. Agora, quando abro a boca e deito faladura todos vêem minha nobre ascendência. Como sou republicano, modesto, não quis que fosse d’ouro! ……………..xxxxxxxxxxx…………….. Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo (de Vilhena) Gondomar
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