Maria Gabriela de Sá
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« em: Junho 10, 2016, 13:44:18 » |
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Hoje há feira no mais velho hipermercado português, o pai espiritual de todos os outros, um sÃmbolo que se tornou quase mais nacional do que a própria bandeira verde e rubra. Dispostos com a ordem possÃvel no meio dos corredores, os bens, de primeira, segunda, terceira e quarta necessidade, tem a estrita a incumbência de despertar a atenção dos consumidores mais ou menos alarves. E assim exibem solitariamente o seu valor deflaccionado, sem terem ao lado o marroquino de pele escura e com uma cobra enrolada ao pescoço a regatear o preço dos tapetes. Há de tudo, nos montes de saldos, ilhas no meio do oceano consumista. Uma efabulação para o putativo comprador ficar com uma ilusão de estar a fazer um grande negócio. Uma maneira, pensará ele, de poupar a carteira, sem pensar na hipótese de levar igualmente no carrinho das compras um casal de gorgulhos com vontade de lhe enfestarem os sacos de arroz, prestes a atingir o prazo de validade. Há de tudo e até há livros com preço reduzido. Mas a pouca atenção que despertam não é suficiente para entusiasmar os folheadores de circunstância a apeá-los da prateleira e metê-los no carrinho de compras até à caixa registadora. E eu, que só fui comprar uma lata de biscoitos sortidos, senti-me quase enfastiada, ali no meio de tantos exageros da civilização. A mesma que lançou no mundo ocidental uma bomba de obesidade que está a matar mais e mais disseminadamente do que a Bomba de Hiroxima na Segunda Grande Guerra. Batatas fritas disto e daquilo, bolachas de tudo e mais alguma coisa, ah e a minha incapacidade de enumeração dos pais da diabetes, do colesterol, dos enfartes e seus nefastos correligionários. Entretanto, saà sem a caixa dos biscoitos e a imaginar o hipermercado vazio. Mas isso será, se é que alguma vez vai ser, quando nova Ordem Mundial decidir enviar tudo aquilo para onde é preciso comer alguma coisa. E assim pus um pequeno travão à s minhas vÃsceras. Acabei, a golpes de filosofia e a teorias sobre o bem, com um fastio desencadeado pela fartura matinal, caso em que não seria preciso saldá-la a preços de ocasião na Feira do 10 de Junho, Feriado Nacional dedicado ao Poeta Camões. Pelo menos, antes, era para o homenagearmos que festejávamos “O Dia da Raçaâ€, transformado pelos tempos no “raça do diaâ€, dedicado hoje a feiras um pouco diferentes das que o Paulinho gostava ali no hipermercado mais velho de Portugal.
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