E é então que escrevo uma palavra

[carlossoares]

Com a chuva persistente não vejo
O firmamento estrelado
Penso porém
Na escuridão nocturna
Como é opaca a noite

Penso que não faço nada ali
Que nada sou
Que nada sinto

Penso que vou
Que minto
Fico

Imagino que não tenho memória
E que não há história
Que estou só
Sem a minha sombra

Do relâmpago
O estampido
Do vento
O vendaval
Da chuva
O ruído

Penso que não penso
Que pensar faz mal
Dentro do meu impermeável

Não sei dizer senão isto
O trivial
Unicamente o que está presente
Ignoro o que existe

Assim me convenço

E é então que escrevo solidão
Por dentro.

[RosaMaria]

Olá carlos
E escrever solidão por dentro, liberta a própria solidão. Sabe Carlos, quantas vezes a solidão e a melhor companhia... aí nos encontramos, aí nos revisitamos, ai nos libertamos para nos entregar à alegria. Gostei deveras do seu poema.
jinhos
Rosamaria

[Goreti Dias]

Dificilmente se escreve solidão tão bem como tu fazes! Por dentro e aqui!
Um abraço

[carlossoares]

Olá Rosa Maria!

Começo por agradecer a sua atenção e o comentário que me surpreende. Vou explicar. Normalmente, quando se fala de solidão, toda a gente se mostra entendida no assunto e, vai daí, coitadinho, que tristeza, o que havia de acontecer-lhe, etc..A Rosa trata do tema por um prisma que tem mais a haver com a solidão (diria intelectual), enquanto descoberta do eu imprescrutável, mas imprescrutável só até certo ponto.
Se se pudesse falar da solidão da felicidade, era bem capaz de enveredar por algo do género, para dizer que concordo consigo: «quantas vezes a solidão é a melhor companhia». Beijo.