gina
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partilhar palavras antes que o vento as leve
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« em: Novembro 11, 2008, 12:06:47 » |
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Concordaram almoçar, e foi como almoçar frente a um confessionário duplo, foi o cortar abrupto de um colar de pérolas falsas caindo uma a uma desfiando assim um rol de desabafos sem fim.
Com grande aperto de coração, Maria falou do erro que cometera ao deixar Miguel para casar com aquele homem por pressão, piedade ou a simples incapacidade de dizer “não”, e que apesar disso, o traste lhe fora infiel, alcoólico, a havia tratado com indiferença e lhe havia traído a confiança em todos os homens do mundo, e que apenas sabia que se o arrependimento de ter deixado Miguel para fazer o que fez matasse, ela estaria já prostrada no jazigo de família.
Miguel disse a Maria que ainda gostava dela que nunca a havia esquecido, e que apenas vivia com aquela afável jovem porque se tinha acomodado à situação, pensando que jamais poderia estar com Maria.
Voltaram cada um a sua casa, cada um à sua vida rotineira, mas com um coração diferente, um coração que não conseguiria viver sem o outro, sem a sua outra metade.
Miguel por seu lado, já não tinha condições de continuar a viver com a sua companheira, sentia-se mal, sentia que lhe tinha de dizer algo, que tinha de dizer-lhe que já não podia continuar a partilhar a vida com ela.
Não foi fácil, a companheira de Miguel não aceitou de bom grado a separação, não a conseguiu compreender. Não era para menos, afinal como se compreende e aceita a separação de um casal que se dá tão bem, que faz tudo em harmonia, que tanto tem em comum?
Mas a separação deste casal era mesmo inevitável, Miguel sentia-se dividido por um lado, não queria magoar a pessoa que o tinha acompanhado e acarinhado, e por outro o seu coração saltitava ao pensar que a sua Maria poderia voltar a ser a sua mulher, a mãe dos seus filhos.
Decidiu-se então, e apesar dos ataques de histerismo da sua companheira, que não queria acreditar no que lhe estava a acontecer, Miguel lutou, e em apenas 15 dias foi viver sozinho.
Maria, essa por seu lado, teria de convencer os seus pais que afinal apesar do disparate mais disparatado que havia feito ao casar-se com aquele insípido, ainda gostava de Miguel o seu antigo namorado, e que voltaria a ter um relacionamento com ele.
Os seu pais, apesar de gostarem de Miguel, não aceitaram o relacionamento de bom grado, afinal eles tão exigentes e autoritários tinham perdido mão nas lides da vida da sua filha, e temiam o que poderia advir daquele namoro.
Sofriam de vergonha por tudo o que lhe havia acontecido, sem haver um arrefecimento de todo este fogo que repentinamente tinha lavrado na sua casa, sem sequer haver rescaldo, eis que a sua Maria surge de novo, decidida e fresca cantarolando uma nova versão do hino do amor.
Maria e Miguel combinaram um encontro em Coimbra, num Palácio deslumbrante, detentor de contos histórico-trágico-amorosos, a Quinta das Lágrimas, um local digno de uma princesa como Maria sempre se achou.
Foi uma entrega que fazia parecer que o passado não existira e que apenas ali, naquele palácio, começavam a escrever a sua história.
De mãos dadas pelos jardins do palácio onde amores da nossa história fizeram com que aquele local se tivesse tornado tão enigmaticamente conhecido, Maria e Miguel assumiram o seu compromisso e voltaram, felizes, à sua cidade à beira-mar, onde a sua vida já não seria igual.
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