O acelera Bart Simpson que seguia no topo da velocidade no seu semi-descapovável Ford Mustang num túnel cilÃndrico, Bart Simpson que não era nem muito ferrado nem mais que eu, era justamente eu, absolutamente eu.
Mudava cravando a pontos a caixa de velocidades do carro preto, numa superfÃcie colorida, num género de caverna que produzia arco-Ãris, manchando o mundo de felicidade e bem-estar, alegria, diversão, Disneyland’s, gomas, bolos com chantilly, que forçava o condutor prudente, eu, a desviar-se devido à s bolhas que eram formadas a partir de exocitose, bolhas de água, obstáculos do Super Mario.
O pó-pó não se encontrava numa auto-estrada, nem numa via rápida, nem necessitava de licença de condução para o efeito. Circulava meramente naquela corredora de algodão doce e açúcar puro, de argolas plástica dos chupas antigos — Yummy, yummy, yummy! — que eram incrustados em chupetas de anel gigante feirado aos miúdos que a Bart Simpson, eu, Pedro Jorge, permitiam visionar memórias do passado, futuro e presente em fracções de infinitésimos de segundo, como se unissem as três divisões do tempo numa só, reduzindo-as a uma massa viscosa indistinguÃvel.
Lá numa dessas argolas Bart vira a sua mãe dizendo-lhe:
— Não vais dormir?
— Não.
— Não és como os outros?
Basicamente nessa visão Bart já abandonava a sala estupefacto a caminho da cozinha, onde punha mão a um pacote de batata frita num tom grosseiro, mastigando-as — Yummy, yummy, yummy!
De volta ao túnel Pedro Jorge rodava o volante sem que houvesse alguma resposta por parte do sistema de direcção, estando plenamente entregue à boa fé de que a inteligência superior que governava o veÃculo não o levasse a mundos de duendes e da branca de neve com anões por companhia que por perto pudessem albergar Fadas-Monstro ou Bruxas, posto que à quela hora um ser desses se transformasse numa casula de monstros ou num Inferno de Aluguer.
Porque não pôr esta passagem para outra dimensão entre aspas? Porque não o admitir um mundo ficcional? Por quanto não venderia Bart a sua identidade a Pedro Jorge, a verdadeira identidade? Qual a troca justa?
O carro engrenava ao gosto dos ventos Solares que vinham do fundo da varanda isolada com caixilharia de alumÃnio maleável, instável, colorido de plasticina junta a tudo mais. Era a quinta ou a sexta que a alavanca punha mecanicamente, alimentada pelo poder telepático. Não se sabe quando uma mudança é certa, nem que desvantagens nos podem trazer, contudo a verdade resume-se a que tudo está em mudança bruta desde que estas rochas o foram antes de haverem Dinossauros. Embora não se possa dizer que existam Dinossauros nem que o túnel era real convencionei creditar algum valor à conjectura que promete sentir o cheiro dos Dinossauros ainda, em tudo o que é sÃtio e Stonehenge.
A marcha prosseguia, independentemente de qualquer profecia ou filosofia que eu, narrador, possa acrescentar à usual narração lógica de uma história medÃocre sem fins ou intenções, que não sobrepõe mão ao leitor, numa coça capaz de o seduzir, numa forma apelativa, num aspecto atractivo. Os pneus não se desgastavam já que as marcas das rodas eram embutidas na superfÃcie do túnel antes de o carro por lá passar, alterando a composição quÃmica para o ar, no sentido de que o carro ia suspenso, em simultâneo a um estado de fixação ao solo, transitando portanto num estilo mesclado, batina de médico com o desportivo do antigo Ford Mustang preto e isento de emissões de carbono para lá do cérebro de Bart Simpson que fritava, digamos que em óleo vegetal de melhor qualidade, omitindo eu portanto que jamais iria aqui denunciar a coincidência de identidade com Pedro Jorge, pois nunca iria denunciar o estado psicótico dele, que sou eu afinal, o narrador desta tão singela história.
Na argola seguinte o carro estorvava o estacionamento, o tempo tinha-se unido, uma pista que explica tal seria dizer que o tempo era uma linha única, um número de telefone batido seguidamente, marcado num visor, identificado em unicidade a nÃvel da rede. Assomava um local, uma fotografia, nada mais, uma fotografia que continha Pedro espalhado pelo chão, a descansar no meio do nada, despreocupado, era facÃlimo reconhecer o local perigoso, cheio de delinquentes, pessoal perigoso, como se arrematasse a ideia de risco era a cereja no topo do waffle raso, era tudo manteiga de porco do mesmo pote, era a maravilha no meio da assustadora imagem que igualava as três fases temporais, era algo que rapidamente desaparecia à pala da fumaça que se espalhava pelo boião em que o automóvel andava vinda do interior das bolhas que rebentavam.
A fim da sinceridade não me irei reduzir a um ovo da Páscoa nem a uma cabeça de agulha e mentir acerca do final da viagem. Era nada mais que esquecimento atrás de polÃtico catatónico e imagens aleatórias corridas no pano de teatro, coisas sem sentido que normalmente incorrem após jornadas a abarrotar de sentido, um exemplo era aquela que descrevi em parte, sim, sabendo que a viagem ficou inacabada. Que não a terá percebido? Pode até não a ter visto com os olhos, porém alguém achará que seria cego que chegue para não a ver no subconsciente ou nos sonhos? Quem não terá visto esta viagem ao fundo da esquina quando acabara de passar por uma desilusão? Quem não vira o Bart Simpson eufórico a esticar os braços à Soviético da KGB com barbas de Bin Laden num momento de alegria, num daqueles instantes em que seja estúpido ou sério ou tristonho de funeral o que vivenciávamos temos uma vontade de dar uma risada enorme? Quem negaria numa boa tarde de praia ter visto numa daquelas rajadas fortes de vento na forma da areia este passeio pelo túnel de minhoca em que as tempestades não existem e nada nos afecta além dos fenómenos que se passam nesse sÃtio intocável, estranho, devasso? Qual humanóide não presenciaria nas barbas do Pai Natal quando éramos crianças e nos sentávamos no cadeirão com ele este mundo cilÃndrico? Ou no polÃtico que mais odiávamos? Ou no músico que mais amávamos? Ou quem nunca viu esse mundo numa ponte, ou quem nunca viu a estrela de Natal numa holofote de aviso? Ou uma ponte transformar-se numa árvore de Natal?
Bem eu nunca vi todos os músicos, nem nunca tive com o Pai Natal num cadeirão de uma superfÃcie comercial, mas é bem verdade que já vi esse mundo em todos esses sÃtios que questionei, ou ainda que não tivesse visto é como se tivesse.
- Yummy, Yummy, Yummy!