Pedro Ventura
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« em: Agosto 31, 2008, 21:08:43 » |
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- Certo dia, ao desfolhar um jornal distraidamente, uma notÃcia que tinha tanto de curiosa como de bizarra, estimulou-me a atenção. Não muito longe da costa de uma dessas ilhas paradisÃacas, edénicas, de águas lÃmpidas e que só conhecemos em sonhos, um barco de recreio afundou-se. Da quarentena de passageiros a bordo, poucos foram os que sobreviveram... uma catástrofe... a maior parte dos tripulantes transformou-se em iguaria para a fauna marinha, que nessas águas é muita... - Que tem isso de mais?.. Tantos barcos vão morrer ao fundo do mar... nada fazia submergir o Titanic e bastou um iceberg para o deitar ao fundo... poucos restam para contar a história... e lá está aquela portentosa carcaça de ferro no fundo do mar... isso, sim, foi uma catástrofe... - Sim, tens toda a razão. Mas não foi o facto de a embarcação ter sido engolida pelo mar, que me chamou a atenção... nesse barco viajava o campeão olÃmpico de natação, que estava precisamente a comemorar esse seu grande feito, com a sua recente esposa. Eram férias que até então tinham sido adiadas, depois de um ano de intenso treino e esforço, de muitas braçadas, e os visÃveis resultados ficaram na história da natação... chamavam-lhe o Homem-Peixe. A bordo havia música aprazÃvel, diversão e um grande banquete. O jovem campeão empanturrou-se de coisas boas, marisco e tudo mais... - Humm!.. - Até que, pouco depois, algo de imprevisÃvel aconteceu na embarcação. Uma explosão nos motores parece-me... um alvoroço a bordo. Paulatinamente, o barco começava a sua descida em direcção ao abismo... - E o nadador, morreu? - Já lá vamos. Quem conseguiu um colete, safou-se, quem não conseguiu pôr freio ao pânico e se jogou à água, foi desta para melhor... - E o atleta?.. - Confiante de si, das suas capacidades natatórias, mergulhou. Sem colete, nadou em direcção à costa... faltavam algumas centenas de metros... ele tinha conseguido... - Morreu?.. - Apesar do esforço, sim. Na publicação diária, em letras gordas, lia-se: CAMPEÃO OLÃMPICO DE NATAÇÃO MORRE AFOGADO. Quase uma vida a aprender e a competir com o cronómetro, tentando ganhar um segundo, ou um centésimo deste que fosse, e acaba por morrer nas águas onde era pródigo... literalmente uma carreira por água abaixo. Não deixou filhos órfãos porque não os tinha, mas deixou uma mulher de luto; a viúva salvou-se... - O que nessas circunstâncias parecia ser um trunfo para ele, uma mais valia, de nada serviu para o pôr a salvo?.. - Assim é... não devia era ter comido tanto. Ao que tudo indica morreu de paragem de digestão. Irónico não achas?..
2003
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