Pedro Ventura
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« em: Agosto 31, 2008, 21:09:48 » |
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- Ai amor, não estou a gostar nada desta noite! Estamos a dormir tão afastados um do outro. Mal te sinto a respirar, mal sinto o teu bafo a bagaceira que me deixa dormente à noite. Nem com um pezinho te consigo tocar… Não estou habituada a isto meu Deus! Que raio de sÃtio foste escolher para pernoitarmos. Fico na dúvida se não teria sido melhor termos ficado na carrinha. MetÃamos uma musiquinha de fundo, aquela cassete romântica que ouvÃamos em novos, rebaixavamos os bancos, ligávamos a solfagem… O tempo nem está assim tão bera... Talvez o granizo fizesse um pouco de barulho no tejadilho, mas isto assim é que não! Dormir em beliches e separados não é coisa para o meu estômago. Em vinte anos de casados acho que é a primeira vez que isto acontece. Tirando os dias em que estive na maternidade, aquando nasceu o gaiato… Mas esses não contam. Ainda assim, não tenho dúvidas em afirmar que a cama da maternidade era bem mais confortável. Já não posso dizer o mesmo da sopa, que era intragável. Lembras-te que me levavas um caldinho de galinha feito por ti, amor? Nessa altura usavas umas patilhas até meio da cara, eram enormes e ruivas, tinhas uma cabeleira farta, e usavas umas calças à boca de sino e uns óculos Ray-Ban… Mas isto aqui, por amor da santa!… Por causa disto é que não gostei nada de ir à tropa. Odeio dormir em beliches, desde que caà de um e fracturei a clavÃcula e parti uma unha… Nessa altura ainda não nos conhecÃamos… Podia hoje ser uma alta patente do exército, talvez furriel, e assim tenho de me resignar à minha condição de escriturária… Não tens receio de cair daÃ, amor? Basta uma pessoa ter um sonho mais agitado e é queda certa. E esta almofada é rija e baixa, parece uma tábua, e o quarto tresanda a mofo…. Que chatice! Isto não é para repetir, ouviste amor?! Ouviste?! Amor?! Já ressona o desgraçado! Abençoada bagaceira que nem o faz estranhar onde dorme!...
2007
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