vitor
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Olá amigos.
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« em: Setembro 05, 2008, 01:43:13 » |
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Sai-se à rua e sente-se o sabor do nada. Os fluidos da manhã perderem-se no horizonte. Pávida e serenamente, estranhamente calma, nem sequer ruÃdos se encontram por aqui. Pretendo saÃr estes dias, largar o desconforto desta casa, ilibar-me da ausência destes ruÃdos medonhamente calmos, ausentar-me fustigado destes cantos mansos. Queria inventar caminhos. Destinos. E por eles seguir. Andar na contra mão dos ventos, estranhamente acorrentado à palavra de desconhecidos, beijar as sombras dos outros e responder aos olás de quem nem sequer conheço. Marco um encontro absurdo e vou. - Podes encontrar-te comigo? - Queria tanto sim, onde poderá ser? - É difÃcil… ter que ser eu a dizer… não sei…tens algum palpite? - Olha, então amanhã, cerca das onze horas, estou em Oeiras junto à igreja, ali pelos bancos da rua, talvez pelas escadas da igreja, aparece, talvez te reconheça. Vais lá ter? - Vou, claro que vou, fui eu quem precisou da ideia. - Está bem. Nesse dia não vou poder estar contigo, mas vou poder ver-te, não me aproximarei de ti, ao longe vou poder ver-te, deixarei ali o meu sorriso, verás no ar a minha silhueta, o perfume dos meus passos, saltos altos, elegantes passadas romperem a meia distância, como se fossem o meu toque pelo teu rosto, como se fosse entrar-te pelos lábios num beijo de longe, colocarei em algum lugar uma recordação daquele momento, uma marca da minha presença, do nosso encontro. Será depois e para sempre a referencia desse dia entre nós os dois. - Sim, vou lá estar, irei deliciar a melancolia dos meus silêncios. Vou adorar ver-te caminhar entre as sombras dessa rua, ver-te entre as pessoas dessa manha, silenciosamente, sensual repouso do olhar a desbravar sobre a escadaria do divino, entre a igreja e a manha, ou esse lugar que irá tornar-se, para sempre, divino. Não irei tocar-te, sim, mas certamente apaixonar-me. Aprisionar-me à s impossibilidades da circunstância, sorver num retrato imaginário o teu rosto, igual ao que tivera sobre ti, no último sonho. Levo o cheiro dos meus dias. - Vamos então fazer tudo como combinamos. Mas sem grandes planos, projectos, deixar a imaginação descobrir soluções, no acaso do momento soluções surgirão, tudo decorrerá por si, é mesmo como se tudo fosse um sonho, entendes? - Pode ser sim. Talvez conseguiras entender. Prometo que irei entender. Pronto, entendo. Saio a rua, com o silêncio dos olhos pendurados ate o infinito da tarde, numa distância de luas mais tardias, penduradas quase na noite anterior. Pedaços espalhados e estilhaços por dentro romperem a alma mal acordada. Sinto o reflexo do sol invadir-me a vontade. O colorido da tarde incomodar-me o momento. Imensas horas espalhadas num difuso caminhar, num sentido inconcreto, numa sucessão quase involuntária de passos que me levam rua abaixo, sorver a brisa, a imensa sensação do momento, como uma recompensa de constrangimento do nada. Coloco-me sobre estes bancos verdes da estrada, ou por estes jardins por aqui, onde quem quiser possa murmurar-me atónito, ou ate poderem quem sabe, ouvir comigo as melodias da tarde, em gotÃculas e sons de fim de dia, das águas destas fontes que existirem perto. Sentiremos este frenesim, deleitados e confortados num dia consagrados pelo estranho destino do acaso das vidas comuns, silenciosamente cada pessoa por si, neste local de todos. Presenciando o colorido e as sensações, e como tudo é mesmo um acaso da tarde, levando consigo o tempo, num anunciar doce a noite, o pedaço dela quase a espreita, sinto-a já pela brisa que vai surgindo, anunciando-a perto, neste intemporal momento de bancos velhos duma rua qualquer, momento abanado como a folhagem que se espalha, sorrindo o lixo que se estende, criando aqui um ar de abandono de tudo. - De repente deixei de te ver… onde te terás metido? - Senti que estavas envolvida com quem estavas, não quis atrapalhar, vi-te, foi já tão bom. - Pensei que viesses atrás de mim, que me seguisses pela rua até ao meu destino, porque não o fizeste? - Segui o teu perfume, o silencio trazido e o vento dos teus cabelos, ouvi quase distantes os teus passos, entrando num caminho que distava do meu sonho de ti, olhava as nuvens que preenchiam o espaço que deixavas, quando seguias, fazia um sol imenso, de repente, umas gotas quase quentes caiam, seguiste, segui-te apenas olhando-te, deixei-te na liberdade do vento, dos teus pensamentos, virei-me e segui, outro rumo. - Depois faremos, se poder ser… - As horas são sempre imensas… - Há sempre a imensidão das horas… - Viajo pelos sonhos. - Segue-me…
Nesta areia sentindo a praia, escorrer sob os pés o frio doce da água, rebolo ou mergulho o meu olhar pelo distante mar, entranhando-me com o vento, estico o braço, sem ruÃdos, o meu despertar atónito, o continuar dum sonho…
- Eras mesmo tu, verdade?
Tudo verdades dum sonho, ah… mesmo que sejam mentiras, elaboradas viagens da noite, as dedadas sobre a tua pele, um carimbo de inventar-te, como construir sobre qualquer parede o reflexo das madrugadas, das pinceladas de todos os tempos, o envolvimento das caminhadas, as caminhadas que vão construindo verdadeiras passadas, incursões e delÃrios de tempos, na mente que se escapa do tempo, da madrugada que se representa diante do escuro, de todos os momentos que se perdem pelo tempo, que se escapa como um dia, eternizando os tês sonhos esculpidos no desejo de fuga das horas vagas, das amargas viagens do imaginário. Aqui me deixo, deixo-te, as partÃculas da maresia coladas sobre o teu peito, enxugarem do teu rosto o suor das horas, o salpico dos teus beijos, raros e ausentes, que aqui recrio e invento, a porta deste mar vadio e frio, um brilho do belo aos saltos num distante por tocar, como um livro à cabeceira a tua voz, declama a madrugada em minha mão.
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