--The Day Of Decision--
Dia 0:
Esta seria a história de uma viagem surreal se não tivesse muitas malaguetas de realismo, gigantes, de corar e fazer transpirar, de assustar, com funcionalidades psicotrópicas, por isso, ao contrário, desfaz-se como uma aspirina num balde de descrição sobre 5 dias ilusionistas do mundo real da minha vida.
Lá estava eu numa tarde de quarta-feira, após a primeira quinzena de Julho, estendido na rua numa poltrona de Verão almofadada, com o portátil numa cadeira, numa mesa de sala de madeira com um tabuleiro inscrito na tábua estava um televisor LCD de 32’’ polegadas HD, numa acentuada luminosidade para que pudesse divisar irreflectidamente o visor debaixo da claridade intensa do Sol juntamente aos raios UV’s que me ofuscavam. Na minha tromba uns óculos de Sol da Calvin Klein de lente esquerda desencaixada ligeiramente, ou direita, eram postos sobre o nariz de tal modo que o Sol não me ofuscava, ajeitando numa simplicidade o pacote de creme Dove com que me besuntava constantemente. De tronco nu, calções, no sentido de um chapéu de praia espetado num balde cheio de areia a impedir que a televisão sobreaquecesse, aconchegado à ajuda das duas ventoinhas, uma de metal e outra de plástico, ligadas à tomada de uma ficha quÃntupla que se estendia até à sala situada no miolo da minha casinha — uma das razões porque as moscas gostam tanto dela — não dava atenção ao búzio acastanhado gigante que estava em cima da cadeira em que tinha o portátil, nem à fita métrica no chão. O que me impediu de motivar, sabendo que ouvir as ondas do mar ao encostá-lo aos ouvidos é bem capaz de curar qualquer depressão ou de equivaler aos desabafos que desanuviam a tensão, ou ainda por nos medirmos vemos que somos mais do que um palmo neste mundo.
Na TV divisava ‘Fear And Loathing in Las Vegas’, um filme espectacular, que me animava na solidão daquela tarde, à beira da porta da garagem, enquanto o calor intenso solar sobreaquecia a minha pele de uma maneira que a TV nunca iria imaginar, ao longo das passagens de aldeões pela borda da estrada que caminhavam para as terras e popós que seguiam em marcha de localidade pela estrada acima, passando despercebido que albergava a capacidade de me concentrar em mais do que uma tarefa por cada tempo.
Tendo sido esse talento que me seduziu ao fim de ter compenetrado numa viagem do caraças que aquele filme transpunha. Tinha-me atirado às feras do Word, amarrado as minhas mãos ao teclado e num acto final de desespero a escrever uma carta de despedida.
Como nesta altura não sou corajoso o suficiente à disposição óbvia, independente a esses tempos de Julho, que realmente aconteceram dessa forma, contudo colados a muitos pormenores que não me lembro momentaneamente, embora independentemente da altura jamais seria capaz de me lembrar de uma pequena percentagem por cada tempo que tento relembrar esses dias, vou escrever a história um coche de nada alterada de escolta a uma ideia realista muito mais intensa e emocional do que parece dita de forma ilusória, numa técnica que usarei muito similar à outra técnica eficaz dos espelhos que deformam imagens nas feiras de diversões.
Bem, estava sozinho, escrevendo a última frase da carta que iria imprimir posteriormente numa HP bem boa, esquecendo todo o passado, imaginando que nasci agora, livre de qualquer historial, sendo, por consequência, livre de experiência também. Sonhava então em divagar pelo espaço que parecia surgir em minha frente, pedia a Deus que me enviasse uma poção mágica capaz de me realizar tal desejo, mas como, numa sequência bastante lógica do raciocÃnio, era uma criança, só conhecia a história do génio da lâmpada mágica, estava interdito de receber tais encomendas, ora não tinha nem lâmpada e se a tivesse não saberia onde a tinha de esfregar. Então o problema incorria na mesma proporção que as cortinas do teatro na mudança de cena. Eu esperava que o ponto de viragem na minha vida assuma-se e que se estivesse fora uns tempos, afastado de todo o mundo que conheci durante muitos anos, isto é, casa, arredores, Lisboa, caminhos entre Lisboa, Algarve, Castelo Branco, Pedrógão Grande, Guarda, Viseu, Cascais, Aveiras, Porto de Mós, zona Centro, zona Sul, zona quase Sul, a minha mente se esquecesse de como esse mundo era, de tal forma que no momento em que voltasse avistasse um mundo renovado, evoluÃdo, transformado, bla bla bla, adiante.
Mas como continuo a ser cobarde no presente, vou alterar bastante a historieta.
Era fim de tarde, regressei ao interior da toca, preparei a mochila com algumas coisas úteis e pu-las atrás da porta do quarto. Esquecera-me obviamente de alguns pormenores que tornaram o meu plano falÃvel. Porém nada disto teria feito sentido se não tivesse lá em cima do betão surgido uma raposa manhosa, de pêlo feroz e dentes macios, que contava uns problemas que com ela se tinham passado, num rosnar intervalado que não me ocultava a bebedeira com que estava em cima ou quem sabe se não essas substâncias malucas em cima... falava de um vizinho riquÃssimo que não lhe pagava umas couves que lhe vendera em carne, que ao invés disso lhe dera dinheiro estrangeiro numa intenção de — se fosse há anos pagavas umas divisas que te lixavas ao receberes assim, até sou simpático contigo — dizia ela, entre dentes como mencionei, transpirando, até os pingos passarem a fontes divididas em camadas de pêlos. Falava também de uns aviões que caÃram numas terras lá para a Somália, mas cá entre nós, bem se sabe que nenhuma das duas coisas alcançaria…
Ao fim de ela desaparecer tinha eu desaparecido em parte, fragmentando-me num espectro pós-vida que procura ao longo das galáxias uma razão para a sua existência numa intenção de avistar uma verdade Superior, o tal Deus prometido, semelhante à Terra-Prometida, à Terra-do-Nunca, ao ParaÃso, à Ilha dos Amores, ao Éden, ao Céu Livre do Fisco, à Ilha da Páscoa, à Ãndia MÃstica, aos PaÃses Baixos e à Atlântida numa só cidade.
Segui a minha rotina caótica, nada definida, esperei que anoitecesse, que adormecesse, embora tivesse sido com dificuldade, no silêncio, mudo, contendo o meu plano no maior sigilo à espera do dia seguinte, molhado num óleo viscoso opaco, incapaz de ver, pertencente a um habitat de seres utópicos ou lendários, que, dizem os rumores existem para que um dia quando forem realmente vistos naquele negrume absoluto anunciarem o fim do Mundo, ainda que o Universo seguisse o seu rumo sem se sentir a diferença. Contudo eu a sentiria e todos nós, e por esse motivo mergulhei o plano muito cuidadosamente, sem que metesse lá os olhos e por isso não levantando suspeitas acerca de qualquer bicharoco que lá existisse e muito menos os outros que por volta de mim coexistissem, mesmo tendo em mente que naquela escuridão era impossÃvel ver-se o quer que fosse, ou distinguir-se, já que seria um paradoxo.
E, como tenho descrito, esperei que o Sol nascesse, até que adormeci.