A Entrevista – Parte II
- Sente-se… como se chama? Se vou contar a minha vida a alguém que irá publicá-la e muito provavelmente deturpá-la a seu bel-prazer, convém pelo menos que saiba o seu nome para criar alguma proximidade.
- Eu chamo-me José Carlos e estou aqui a fazer este trabalho para o jornal Noticias da Tarde. Disse-me que queria ilustrar a sua vida através da música… como assim? Prefere que eu vá fazendo as perguntas que preparei ou vai contando as suas histórias?
- Eu prefiro ir contando a minha vida com as músicas que vou escolhendo para nós irmos ouvindo. Vamos fazer isto como se fosse um programa de rádio. Eu escolho as músicas, conto as histórias e nos “intervalos da publicidade†você pode ir fazendo as perguntas.
Dito isto, André Miguel dos Santos pega num disco de uma enorme pilha que estava mesmo ao seu lado e coloca-o num gira- discos. Começam a ouvir-se os primeiros acordes de “Music†de John Miles:
Music was my first love
And it'll be my last
Music of the future
And music of the past.
To live without my music
Would be impossible to do
In this world of troubles
my music pulls me through
Enquanto se ouvem os versos da música, André Miguel dos Santos vai explicando ao seu interlocutor que qualquer história da sua vida, para ser bem contada, terá que começar com aquela canção.
- Desde sempre fui apaixonado por música, e ela foi uma presença constante em todos os momentos cruciais da minha vida, sempre em cada momento bom ou mau houve uma música que parecia que tinha sido escrita para mim. É essa caracterÃstica que eu acho que distingue a música das outras artes, a capacidade de alguém que nunca nos conheceu escrever algo que em determinado momento das nossas vidas se encaixa na perfeição. Assim:
A música foi o meu primeiro amor
E será o último
Música do futuro
E música do passado
Viver sem a minha música
Seria impossÃvel
Neste mundo cheio de problemas
A minha música leva-me em frente
- A música foi na realidade a minha primeira paixão e, sem dúvida nenhuma, será também a última. Das várias pessoas que conheci, e houve algumas que foram muito importantes, nenhuma conseguiu ofuscar o prazer que eu tenho quando estou na presença da minha grande e verdadeira paixão. Houve quem tentasse, mas quem foi mais inteligente foi quem levou a música como uma aliada para o que se vivia.
- Falou agora de uma coisa que me despertou o interesse, as mulheres da sua vida. Não me quer falar um pouco delas?
- Por enquanto não, vou deixá-lo aguçar mais o apetite. Só posso ir avançando que foram poucas, muito poucas, mas cada uma delas foi amada até a exaustão, como se não houvesse amanhã, como se cada momento de comunhão fosse o último…
(continua).