sonhadoremfulltime
Novo por cá
Offline
Sexo:
Mensagens: 14 Convidados: 0
|
|
« em: Setembro 17, 2008, 15:24:23 » |
|
A minha homenagem a o teclista do grupo Pink Floyd, falecido aos 65 anos vitÃma de cancro.
Desculpem, mas tenho de repetir este texto do meu livro Ano Louco. "Wish you were here.â€
Naquela noite quente de Lisboa sentei-me na Bancada Central de Alvalade, como tinha prometido, mas ela não estava lá. Corria o Agosto de 1994 e os Floyd, estavam em Portugal pela primeira vez. Quem poderia perder, pensava eu com um nó no estômago devido à ansiedade por viver aquele momento tão esperado.
A banda começou a tocar e pelo meio da noite cresceu um ritmo irresistÃvel, uma música insinuante que trepava pelas pernas acima e que não deixava ninguém quieto, o ritmo seduzia e nós todos deixámo-nos levar, embalados, confortavelmente anestesiados, pelo som que emergia do enorme palco, montado no topo do estádio. Tu também.
Estavas ao meu lado e não te conhecia de lado nenhum, mas eras de certo modo uma substituta involuntária e daquelas primeiras vezes que te olhei via alguém que não eras tu. Trocámos sorrisos simpáticos, daqueles bem-educados que ficam sempre bem, reparei que eras bonita e sorrias e dançavas a música, vibravas com a música, ambos dançávamos quase quietos e nesse instante secreto partilhámos uma imensidão de coisas invisÃveis através daquilo que os músicos nos davam.
A música forte que vinha do palco tratou de embriagar os sentidos e para o fim já não eras outra pessoa, tinhas recebido uma personalidade própria e foi a ti que fiquei com vontade de conhecer. Consciente que momentos destes estão dependentes de conjugações astrais altamente improváveis, tentei balbuciar qualquer coisa, na tentativa de ficar com um bocadinho de ti, levar-te esse fragmento no bolso até casa.
Julgo que consegui esboçar um trémulo “até ao próximo concertoâ€, respondeste num sorriso e saÃste. Segui-te um pouco ao longe, vi-te entrar num carro e num pensamento disse a mim mesmo, mas alto para que conseguisses ouvir, “até um dia destes.†Fugiste para uma qualquer avenida cinzenta do Cacém, do Barreiro ou de Vila Franca de Xira, as pessoas cruzam-se e perdem-se.
O tempo é o maior cÃnico, pensei. Depois num dia que ameaçava ser demasiado banal, sem saber bem como, reencontrei-te. Contei-te que já nos tÃnhamos cruzado num concerto, mas não te lembravas. Combinámos um café ao fim da tarde e outras coisas depois, jardins verdes e esplanadas vazias, e trocamos telefones, músicas, livros, filmes, beijos. Sorrio de cada vez que vejo o teu rosto celeste, revejo a tua imagem vezes sem conta, provo uma vez mais o teu aroma açucarado, e quase sinto que te estou a tocar, estás aqui, quase aqui, demasiado aqui e não quero acreditar, não posso acreditar, não acredito, não acredito que nunca mais vou voltar a deitar-me no sofá com a cabeça no teu colo a ouvir o “Wish you Were Hereâ€, a colorir uma madrugada.
“How I wish, how I wish you were here. We're just two lost souls swimming in a fish bowl, year after year, running over the same old ground. What have you found? The same old fears. Wish you were here.â€
Era meu desejo, que estivesses sempre aqui… O desejo é dedicado a quem não me quis acompanhar a esse mesmo concerto.
Não é necessário comentar mais sobre o tema.
Eu e ela sabemos.
|