Nina Araujo
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« em: Setembro 22, 2008, 17:12:04 » |
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Seu Aristides e os Mortos
-Chiquinha, tu se aborreceu, foi? Quem foi que te aperreou , este café foi adoçado com sal... -Oxente, meu pai vai desculpando... Orlando me tira a consciência , agora deu para fazer ronda aqui no fogão mangando de eu... -O que fez esse estrupÃcio? Esta chamegando tu, é? -Não sinhô , que ele sabe o peso do meu braço ! Fica contando os sonhos que teve com a tia Fia, Deus chamou ela,pronto! Eu não quero nada com gente que já morreu, Ave Maria! -Manda ele falar comigo e me troque este café por um doce... -Deixe que já farei painho! Mas o que o velho Aristides não sabia era os colóquios que o sobrinho vinha tendo com a tia falecida e já fazia um mês. Segundo ele próprio contava para a prima, a tia lhe aconselhava na lida e tinha ficado muito mais inteligente do era aqui na terra, jurava de dedo sem cruza, que a velha havia lhe dado o nome da rifa que concorria ao garrote no qual foi o ganhador no sábado, e sabia também quem ia ganhar na carreira de mourão e andava adivinhando inclusive, o dia das chuvas. -Aà esta o traste painho! -O sinhô queria falar comigo padim? -Homem, tu não tem juÃzo nessa cabeça, não ? Deu para variar depois de velho, foi? -Oxente, o que foi que Chiquinha andou falando ao sinhô? -Que conversa fiada tu esta inventando de trova com os mortos? Num sabe que isso não se faz? Quem morreu precisa de descanso, homem! Se padre Jose descobre isso que tu esta fazendo não vai prestar! -Mas ela me fez jurar que eu devia guardar os segredos das pessoas e não prejudicar a ninguém, eu tenho cuidado... -Que conversar furada, Orlando! Acha que eu sou besta de acreditar numa coisa dessas? -Se eu provar o padim acredita? -Mas vai provar é nunca, “fio de uma egua magraâ€!! Vai provar como? -O sinhô quer mesmo saber? -Se não falar eu mando chamar o delegado para deixar tu preso uma semana, vai ver só... -Bem, o sinhô pediu, eu vou falar! O seguinte foi este; a tia Fia me falou que o sinhô já namorava a tia Socorrinho e mesmo assim o sinhô fungou no cangote dela umas três vezes, ela que não quis nada, senão a coisa ia esquentar... O velho Aristides quase caiu da rede que balançava agora com menos força pelo impacto da “noticiaâ€, afinal, já se passara tantos anos que aquilo ocorreu, que diabos a velha queria... -Orlando, então tu fala com ela mesmo!!! Ai minha pressão ficou baixa... -O sinhô esta passando mal, meu padim? -Ai, essas paredes rodam tanto... Chiquinha, corre aqui e me traz um café forte com sal minha filha, com sal!!! Coitado do seu Aristides, agora entendeu que à s vezes os que se foram do meio dos vivos falam um pouquinho, o desagradável mesmo, era ficar na mãos do sobrinho falador. Como pode uma coisa dessas?
Nina Araujo
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