Nina Araujo
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« em: Setembro 24, 2008, 20:52:31 » |
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O Afilhado de Maneco Cabiba
Nos anos quarenta, João muito apertado pela esposa Lia e duas filhas quase mocinhas, achou que o Juá já era pequeno demais para ele. Aquela vida de matuto pequeno agricultor e vaqueiro sem grande talento, cansava o lombo deste homem simpático de trinta e dois anos, resolvera aceitar entao o convite do padrinho Maneco Cabiba e partir para o Umbuzeiro, para aquelas bandas o progresso chegava mais cedo, assim diziam. Pegou a famÃlia e se foi num domingo pela manha deixando muita saudade pelo arraial, pois era homem bom e engraçado, tinha um jeito de falar muito próprio, num tom dramático gostava de se exibir contando historias de lobisomem e mula sem cabeça, era querido. Quando chegou na cidade nova recebeu todo o apoio da famÃlia do padrinho, que o empregou como ajudante na bodega grande que possuÃa, aproveitou-se o seu Maneco do fato de não ter filhos, e sabia que João era preciso nas contas de todas as maneiras, coisa que lhe faltava um pouco e, portanto, vivia levando alguns prejuÃzos, esperava que o afilhado fosse de muita valia para ele. A mulher e as filhas gostaram muito da casa dos fundos, tinham um conforto que no Juá seria impossÃvel, e se deram perfeitamente com a convivência da madrinha Lita, mulher bonachona e amante de toda espécie de doces, que fazia muito bem para vender na feira, as tres chegaram alegres na intenção de ajudar, no que foram bem recebidas. Uma tarde, João estava sentado na soleira da porta descascando uma laranja, quando viu uma multidão indo para o mercado central, no fim da rua que moravam, como não conhecia ninguém resolveu descobrir por si, o destino daquele povo, foi acompanhando de longe, ainda saboreando a laranja quando viu que pararam num pátio grande em frente ao mercado, alguns sentaram no chão outros em cadeiras , de certo mesmo foi que estavam em frente ao móvel grande amarronzado que tocava musica e de onde saia uma grande voz e ninguém dava um pio, atentos que estavam `a narração do homem, ficou por ali meia hora e quando percebeu que ninguém sabia onde ele estava voltou boquiaberto, sorrindo da novidade. O padrinho de longe avistou João que vinha feito uma criança com os olhos cheios de felicidade. -Homem, onde foi que tu se meteu? -Meu padim eu fiquei bestinha agora, visse! -Ora, besta tu sempre foi, cabra! -Apois,sabe o que vi? -Fala homem! -Um doido de um homem falava bem alto e chorava feito um bezerro e cantava e dizia nome, tudo de dentro de uma caixinha marrom, o povo correu pra aquele lado ali, foram tudo ver... O padrinho olhou divertido para o afilhado e entendeu tudo. -Meu filho, aquilo que tu viu foi um aparelho de radio comunitario. Nunca ouviu falar em radio? -E ele fala assim? eu não sabia... -Mas tu deste tamanho, ainda vai aprender muita coisa da vida... O velho Maneco entrou abraçado ao afilhado e feliz começou a ensinar-lhe algumas coisas da cidade grande.
Nina Araujo
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