AVISO

[josé antonio]

O aviso era para todos os funcionários carregados de expectativa ou nem tanto como isso. No expositor moldado em acrílico cristal, transparente, aonde frequentemente eram colocados avisos, comunicações e decretos-leis da administração, quando legislava. Porque legislava sempre que lhe apetecia. Sempre que algo a incomodava ou queria legislar para alimentação do seu ego de administração com o poder e domínio espacial e psicológico e económico e da dependência dos economicamente mais débeis. Para isso existem administrações com administradores. Como nos clubes de futebol ou quejandos. Desta feita mais um aviso importante – reunião de todos os funcionários – mais ou menos, porque os habitantes dos gabinetes do piso superior, não. Assunto muito importante com punição para quem faltasse. O que era normal na empresa. Nas empresas. Quem está doente e está medicado é cobarde ou diminuído porque doente, logo improdutivo e indesejado, quem falta por um imprevisto acidente no seu agregado familiar, apanha falta injustificada, porque impotente para a adivinhação do que lhe está reservado pelo futuro. E avance a procissão. Na hora indicada compareceram todos menos os que estavam de baixa médica ou em gozo de férias. Coitados. Local: cantina-refeitório-tribunal. Na presidência da mesa, o presidente. Apenas para impor respeito, porque quem teria de falar não era ele, seria o sr. doutor advogado. Com uma avença para coisas daquelas e muito mais que a administração lhe exigisse. Trinta segundos de discurso introdutório chegaram para todos adivinharem o resto: - despedimentos. Todo o resto se resumia a um cabaz de palavras carregadas de nada – como se aprende em Direito, para convencer os já convencidos e indefesos. De seguida uma moralidade e sensibilidade inexistentes para reduzir o azar dos atingidos pelo infortúnio, uma disponibilidade total para os ajudar em tudo o que não viessem a necessitar
e a entrega do impresso para o fundo do desemprego na manhã seguinte para os que estivessem de acordo com o corte no valor das indemnizações – para aproveitarem enquanto existiam trocos para distribuir pela administração benevolente, sensível, humana e preocupada com as próximas férias paradisíacas, algures na América do Sul.       

[carlossoares]

Temos de dar cada vez mais atenção a este tipo de avisos. «Quem te avisa teu amigo é». Mas o pior que se pode fazer é entrar em pânico. Vai ser preciso alterar completamente o sistema político dos palhaços, quer dizer, dos «homens de palha» e dar a possibilidade de formar governos compostos por pessoas de carne e osso, responsáveis e sujeitos a serem responsabilizados. Coisa que não acontece. Tem de ser um sistema político que não seja desenhado e feito pelos políticos, à medida dos seus interesses. Que os eleitores não sirvam apenas para dar a aparência formal de legitimidade democrática e possam ver-se devidamente representados no poder.

[damasco]

Um retrato perfeito de hipocrisia.

[Luis F]

Um conto que diria bem fiel à nossa realidade.

Penso que apontas aqui e ali, fragmentos do que se passa actualmente.

Gostei de ler

Com amizade
Luis

[josé antonio]

DITE,
Apanhados - desgraçados, amiga Dite.
Abraço

CARLOSSOARES,

Tomara, amigo. Tomara.
Abraço

DAMASCO
Sem dúvida, colega.
Abraço

LUÍS F,

É verdade. Obrigado.

[Goreti Dias]

Belos presentes, óptima compensação, etc..., etc...
Tornou-se lugar comum entenderem que os operários não têm o direito de organizar a sua vida, não têm opinião e, sobretudo, não podem ficar doentes! Isto irá parar algum dia?

[josé antonio]

Olá Goreti,

E o muito mais escabroso que não coube neste micro conto mas que compilarei oportunamente num " EMPRESA PORTUGUESA, CONCERTEZA".
Abraço e resto de bom Domingo, porque hoje é Domingo!