Araci
Contribuinte Junior
Offline
Sexo:
Mensagens: 57 Convidados: 0
Ainda não sei o que sou, mas sei quem eu sou
|
|
« em: Setembro 29, 2010, 12:13:31 » |
|
Em grandes conversas com um amigo de peito, falávamos, uma vez mais, dessas coisas vulgares da vida. Caminhávamos calmamente nesse espaço a que chamam Universidade. Passamos por certos locais, e num deles, vimos um cartaz que fazia referência aos elevados preços do bar da faculdade, e para os estudantes se unirem e protestarem. Estavam cerca de quatro pessoas ao todo naquele fórum. Sempre os mesmos resistentes. Poucos dias antes tinha sido enviado, através do e-mail da faculdade, uma mensagem convidava os estudantes a se concentrarem naquele espaço para um debate de ideias, daquilo que esperavam da faculdade, objectivos para o novo ano, e o que gostariam de ver melhorado.
Penso que as moscas, insectos e alguns micróbios estiveram muito interessados no debate, visto serem os únicos presentes. Nós os dois arranjamos desculpas patéticas para tentar salvar os patéticos dos nossos estudantes, “é final do dia”, “as pessoas a esta hora já estão cansadas!”.Enfim…
Seguimos, e paramos junto a um muro para poder observar o pôr-do-sol, e aquela nossa melancolia e boa conversa foi subitamente interrompida por uma imensidão de gente nova, na flor da sua idade, que subia freneticamente umas escadas, com uma camisola azul escura nova, e com a cara pintada, seguidos de gente mais velha, que muito orgulhosamente se cobria com um traje preto. -Afinal não estão cansados - Disse o meu amigo - Parece que não! - Disse eu.
A verdade, é que assistimos cada vez mais, a um progressivo desinteresse de tudo o que os rodeia, por parte daqueles que supostamente é que deveriam marcar a diferença, mas não o fazem. De ano para ano os adeptos da ignorância e camelice são cada vez mais! Já não se vem para a Universidade para ter qualquer troca de ideias, abrir os horizontes da mente, desvendar segredos do mundo académico, vem se para a Universidade para se ser humilhado (pelo menos é o que parece!).
Em outras conversas com estudantes de Erasmus, perguntavam-me várias vezes do porquê de certos rituais que a eles lhe eram estranhíssimos, e que alguns identificavam como sendo algo do tipo fascista, ou retirada de outra qualquer ditadura, ou até dos filmes do Harry Potter. Ao contrário de uma ditadura, onde as pessoas não têm liberdade de expressão e são subjugadas por uma força maior sem terem o poder de escolha, aquelas pessoas estão ali, por opção: Gostam de ser humilhadas, por opção. Gostam de fazer coisas que carecem de sentido, por opção. Ou seja, essas pessoas estão ali (e muitas não gostam de estar, mas estão) por uma qualquer força maior (Qual? A da estupidez?).
Tudo em nome da tradição (seja ela boa ou má) e de uma bonita fotografia que uns anos mais tarde (bem mais tarde a contar pelas matriculas que esses mesmo já têm) será colocada na salinha, numa moldura toda catita, um traje todo pimpão, um sorriso bem amarelo, e um atestado de burrice. A Universidade, que deveria ser um espaço democrático, aberto ao conhecimento, liberdade, e sobretudo à não existência de dogmas, parece ser cada vez mais uma utopia.
São cada vez menos, os alunos que realmente querem transformar a Universidade, e marcar a diferença dentro dela. Para tal, marcam-se reuniões, debates, e são zero os que aparecem. Para uma boa humilhação às 8.30 da manhã estão lá todos: prontos para passar mais um dia a serem chamados de idiotas, a gritar umas quantas estúpidas palavras em latim (se é que sabem latim), para um dia mais tarde, poderem também eles chamarem idiotas a outros.
Estudar? Ah sim estudar…. Para isso temos Janeiro e Junho (altura dos exames). Pelos menos, dirijo-me aos meus colegas, estudantes de letras, sendo eles próprios que deitam a baixo os seus cursos com atitudes deste tipo. Depois não se admirem que venham os nossos colegas de ciências ou de arquitectura fazer piada. Não tenho qualquer vergonha em admitir que eles estudam e se interessam muito mais por tudo do que nós.
Porém, agora em defesa da classe (pois também eu faço parte desse rebanho de ovelhas que aqui anda) admito que alguns professores não nos ajudam muito. Esses mesmos parecem estar mais interessados no ordenado que recebem no final do mês do que em propriamente em dar aulas decentes. Já nem peço o fim das propinas (pois parece que cada vez que existe uma manifestação desse tipo, alguém de lá de cima faz um jeito de nós ainda pagarmos mais, ou então até algum estudante olha-nos e deita no ar frases como “O meu pai é médico não necessito destas coisas”), mas por um bom ensino com qualidade, que incentive à investigação, e que realmente dê oportunidades aqueles que realmente querem trabalhar (àqueles que andam aqui a passear os livros, e que apenas vieram para aqui para fugir do controlo parental, deixo a frase: a porta da rua é serventia da casa)~
Nós, para além de estudantes, somos também clientes. Pagamos cerca de 1000 euros por ano para estudar, devíamos exigir, pelo menos, a contratação de bons professores …Mas não. Contam-se pelos dedos aqueles que aqui andam e se sacrificam pelos seus alunos, que realmente são Professores, que nos incutem o verdadeiro espírito académico, e que nos marcam para a vida. E há quem reclame, sim…Apenas em conversas fechadas, de pátio, que duram apenas cinco minutos, e que se esquecem… E há um provedor do estudante, na Reitoria, que também está lá para ouvir as reclamações das mesmas moscas que estiverem no debate. Admito, estou sem esperanças, pois como já tenho dito, a ignorância e tudo o que lhe é associado tende a ter cada vez mais adeptos, em todas as áreas da sociedade. Um destes dias, estava na cantina a almoçar com uma grande pessoa, e ela disse-me uma frase, que a tia dela já lhe tinha transmitido, e que nunca irei esquecer: “Dar-te-ás conta que és adulta, quando olhares em teu redor, e só vires estupidez humana!”
|