Mangustão

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Andando pelas ruas movimentadas do comércio do Alcântara, encontrei entre edifícios comerciais uma pequena quitanda. Sim uma quitanda. Amo essa palavra de origem africana (se não me engano, do idioma quimbundo). Lembra-me a minha infância quando o meu bairro era muito menos habitado do que hoje. Havia algumas (poucas) quitandas que vendiam de tudo. Fiquei pasmo que ainda pudesse existir um comércio dessa natureza entre edifícios.
Estava descobrindo um novo mundo. Essa quitanda vendia (e vende ainda) muitas frutas e de boa qualidade (dependendo da época e do horário). Resolvi entrar e observar as "espécies da nova terra". As pinhas eram enormes frutas-do-conde, as maçãs de um vermelho quase escarlate eram autênticas e austeras argentinas. Os pêssegos pareciam colhidos de jardins suspensos de tão cheirosos.
Havia uma variedade enorme vinda de vários lugares. Mas uma delas me chamou atenção de maneira especial. Não era brasileira, nem andina, africana, européia... Era asiática, porém não as naturalizadas jacas e mangas, que insistimos serem naturais do Brasil (porque parecem mesmo daqui de tão adaptadas). Era uma fruta redonda e de uma cor roxa profunda, quase preta; em forma de pião (ou seria de um coração intenso de sentimentos?). Tinha algo encimando que lembrava uma coroa. Muito instigante e interessante. Ela cabia na minha mão. Observei ao alto de contra a luz. Girei. Cheirei. Resolvi comprar para experimentar. Era cara. Comprei uma provei e levei outras para o ateliê. O mestre e a colega gostaram muito. Deixei outra para os outros pintores. Nunca mais comi mangustão, mas não esqueço seu sabor de Oriente que encontra o Ocidente e vem aqui morar, nesta "terra que em se plantando tudo dá".

[Dionísio Dinis]

Não sei do sabor da fruta, ou sei por ser assim tão bem exposta, da tentação da fruta e prosa proveitosa, eu acho que vou devorar ambas e ficar satisfeito em pleno.

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Que bom que gostou do texto, Dinis. Se experimentar do mangustão não irá se arrepender. Até hoje lembro do seu gosto, mas na minha região quase não se vê. Uma pena.
Abraço e obrigado pela leitura.

[Tere Tavares]

Um belo passeio entre frutos caro Oswaldo. Ficou o gosto não provado e o sabor degustado imaginariamente, tão bem descreveste o magustão.

[Goreti Dias]

Fiquei com água na boca. À falta da fruta, apreciamos a qualidade do texto. E não ficamos  a perder nada. Muito bom!

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Obrigado às amigas Tere e Goreti pelos comentários tão generosos.

Abraços...