A Europa de riquexó e a Ásia de popó!

A Europa de riquexó, a Ásia de popó!
“Eu sou do tempo” (…) Normalmente, começa-se desta maneira para trazer ao presente coisas do passado. Mas, o passado interessa? Sim, porque qualquer vetusta árvore do presente tem suas raízes no passado. Então é assim: Eu sou o tempo da segunda grande guerra mundial e lembro-me, perfeitamente, do racionamento dos bens alimentares; açúcar, arroz, e por vezes, o café bebia-se chupando um rebuçado e havia grande falta de azeite. A Europa, viu o seu incipiente desenvolvimento industrial interrompido pelas últimas guerras mundiais, devido aos mútuo efeitos destruidores dos beligerantes. Em Portugal, na altura, não havia restaurantes à mão de semear para se comer fora, porque os trabalhadores levavam a marmita e almoçavam no trabalho. Não havia o hábito de ir ao café, tomar o pequeno-almoço e ouvir-se :”Saia um croissant, meia de leite e um pastel de nata”.
As crianças ficavam em casa e não acompanhavam as mães, que iam às mercearias, comprar fiado! O trabalho, quando o havia, era pago à semana, que por vezes era só de três dias, porque mais não havia. Bandos de mendigos mendigavam de porta em porta. Tostões, que recebiam, davam a alegria de chegarem a casa e proporcionar sopa para mulher e filhos, Não era tempo de modas das quatro estações!
Roupa, feita de retalhos, comprados na feira local, era rompida até ao “fioco”! Não havia centros de estética, nem peelings, nem silicones, nem ginásios para emagrecer. Não havia a praga diabética, como hoje! Certo é que tudo evolui ou regride, Neste caso, pós o final da II Guerra Mundial, os americanos, através do Plano Marshall, injetaram biliões de dólares para a recuperação da Europa, que, lentamente, se levantou-se do chão, produzindo bens, necessários para a sua reconstrução, uso e consumo interno, passando, depois à busca de novos mercados Agregado à regalia de se ter emprego agregaram-se bens sociais; direito à saúde, férias, à educação, reforma, etc. O Ocidente democrático, evidenciava a sua supremacia técnica e social sobre o resto do mundo! Duas filosofias de organização da sociedade digladiavam-se, uma, social-democrática, assente na participação dos cidadãos na eleição, por voto secreto, de vários órgãos estatais, com mandatos definidos, revalidados ou não! Outra filosofia, defendia maior centralismo de decisão; vértice duma pirâmide, cujas bases pouco participavam na definição das metas políticas e sociais, a atingir, apenas delas se exigindo os objetivos vindos de cima! Foram dezenas de anos de tentativa de supremacia ideológica. Por fim, a queda da filosofia do comunismo, como melhor organização da sociedade, levou ex-regimes comunistas a cederem à maçã do modelo do desenvolvimento ocidental, permitindo que estes os ensinassem a produzir boa lixa, bem abrasiva com a qual agora bem nos lixam! Ou seja, América e Europa, primeiro industrializaram-se, começaram a andar de automóvel, enquanto na Ásia era de riquexó. Fazem-me lembrar o Coronel Custer, que pereceu, com o seu famoso 7º de cavalaria, na batalha de Littlehorn, porque encontrou os índios com espingardas Winchesters, iguais ou melhores do que as dos seus soldados! Quem vendeu as armas aos Índios? Foram os brancos, claro. Agora, a cena repete-se; venderam tecnologia aos ex- comunistas, mas esqueceram-se dos bens sociais a ela agregados.! Assim, a mão- de-obra chinesa, quase escrava, a cinco euros por dia, permite exportação, a baixo preço, de bens para a Europa, levando à desindustrialização desta, através da falência das empresas e ao aumento avassalador do desemprego, que vai ser durante muitos anos, porque a Ásia tem bilhões de trabalhadores a serem usados e deitados fora. Se em Portugal queixam-se que quatro euros à hora é pouco, os chineses ganham seis, mas por dia! Parece que chegou o reverso da medalha: tesos europeus passarem a andar de riquexó, mas os chineses com brutas máquinas, de muitos cavalos! Teremos uma Ásia capitalista e uma Europa comunista, com um Mao Tzé Tung, ou teremos de fazer uma muralha europeia?
Silvino Figueiredo