DEPOIS DO CANTO DA CIGARRA

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

A cigarra canta. Acabei de tirar do forno meu pão integral recheado com tomate, cebola e pimentão com toque de azeite. Os da última fornada queimaram. Pena. Estava por postar mais um texto na Internet enquanto assavam sozinhos. Falava dos Natais passados. Voltei para cá e continuei escrevendo por hora do pôr-do-sol. Deveria fazer uma meditação e aguardar meu sábado em paz. Resolvi fazer diferente. Estou escrevendo sobre minha prática. Parei a escrita e fui ler um trecho das Sagradas Escrituras. Abri-a aleatoriamente no livro do Profeta Isaías. O exemplar em minhas mãos é bastante usado. Ganhei-o por ocasião de minha iniciação religiosa protestante em 1996. Na entrega do certificado de batismo, recebi junto um exemplar da Sociedade Bíblica do Brasil na versão João Ferreira de Almeida revista e atualizada. Os dois primeiros versículos do capítulo 55 estavam marcados. Eu mesmo o fizera há muito tempo atrás. O profeta diz para todos os que têm sede irem às águas, aos que não têm dinheiro que comprem e comam sem dinheiro e sem preço vinho e leite. Ele continua indagando por que gastar o dinheiro naquilo que não é pão e o suor naquilo que não satisfaz. Ao final diz para que o ouçamos atentamente e comamos o que é bom e nos deleitemos com finos manjares. Penso comigo mesmo qual a importância do profeta ter escrito isso. Fechei a Bíblia e, de estalo, apanhei o hinário.
Abri o livro no hino 14 intitulado “Jubilosos Te Adoramos”, tradução de “Joyful, Joyful, We Adore Thee” (letra de Henry van Dyke e melodia de Ludwig van Beethoven, tal como em “Ode a alegria”). É lindo cantar “Jubilosos Te adoramos, Deus da glória, Deus do amor./ Nosso coração transborda em louvor a Ti, Senhor. / Rompe as nuvens da tristeza, do pecado e do temor./ Doador da eterna graça, enche-nos do Teu amor!”
O hino continua dizendo que as obras de Deus anunciam o Seu poder e resplendor e que os Céus e a Terra cantam hinos em louvor ao Senhor. Vales, montes, campinas, lindos prados, verde mar, aves e fontes cristalinas querem adorar ao Criador.
A última estrofe diz: “Aleluia, aleluia, a Jesus, o Redentor!/ Aleluia eternamente em louvor a Ti, Senhor./ Ao Consolador daí glória, pois conforto e vida traz./ Aleluia ao Pai eterno, Deus da graça, Deus da paz!”
Esse hinário tem realmente letras lindas e ao final de cada uma delas, há citação de uma passagem bíblica correspondente ao teor do texto. Por exemplo, ao final de “Jubilosos Te Adoramos”, temos a indicação dos versos 1 ao 3 do Salmo 105. Seu conteúdo diz para adorarmos a Deus.
Agora entendi o porquê de nos deleitarmos em finos manjares. Temos de escolher o melhor. Não necessariamente o sofisticado, porém o melhor em qualidade suficiente para nos satisfazer de maneira plena a alma. Que bela junção as palavras de cunho bíblico vestidas da música de Beethoven! Isso sim é um fino manjar. Para completar, o hino 15 chama-se “Vós, criaturas do Senhor”, tradução de “All Creatures of Our God and King” (baseado em Francisco de Assis e com melodia Geistliche Kirchengesänge). Esse último diz de toda a criação elevando a Deus louvor, incluindo-se o Sol, a Lua, o Céu e a Terra e as flores erguendo-se em canção ao grande Deus da criação. Não precisava mais nada. Entrei no sábado bem acompanhado. Primeiramente com Deus Pai, Filho e Espírito Santo e mais Beethoven e Francisco de Assis, o ecológico.
Agora acessarei um site para saber das novidades da igreja ao redor do mundo. Continuarei escrevendo mais amanhã à noite.
Um feliz sábado a todos.

[pedrojorge]

Que texto mais decadente, fez-me lembrar a podridão da religião católica e todas as suas citações religiosíssimas. Quase me fez chorar de tão traumático que foi dar-me com este tipo de escrita. Entrei em pânico. Quando tentei raciocinar acerca de semelhanças entre cigarra e pão integral e tomate, mais comer isso com tomate.
É preciso tomar umas doses de calmantes de ter de viver comigo após ler isto.
Desculpe.
Não leio outra vez. Não retiro o que disse nem que me expliquem.
Cigarra, pão integral, tomate: Parabéns pela originalidade!!

[Alfredo D]

Um texto que me deu muito gosto ler.

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Pedro, as cigarras não fazem parte da minha dieta. Iniciei o texto falando delas por outro motivo. Provavelmente não interessante para ti. Os pães foram mera citação de coisas do cotidiano e das minhas experiências as vezes meio excêntricas. Não tentei ser original. Pelo teor do texto você deveria ter percebido que minha intensão não era essa. Não importa. Decadente ou não, ninguém agrada ou desagrada a todos. Você já ouviu isso diversas vezes porque ninguém está impune da apreciação dos leitores sejam eles quem forem (educados e com tato no fala e escrita ou francos em excesso).
Quanto a decadência, não sei se ela é típica desse ou daquele grupo religioso. Só sei que ela é possível no fazer humano independentemente da orientação religiosa, política ou cultural do seu autor. Se você tem de tomar calmantes após ler meu texto eu lamento. Sinceramente não foi essa a minha intenção. Nem tenho o costume de usar tais medicamentos, mesmo depois de ler ou escrever um texto ruim. Nervos foram feitos para se controlar assim como a boca e os dedos que tocam os teclados.

Agora sim, uma boa noite!

[Goreti Dias]

Por mim, gostei do texto. E quanto a decadência, disso anda o mundo cheio. E arredores.

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Obrigado, Alfredo e Goreti, pelos comentários.

Abraços...