Soneto revoltado

[Valdevinoxis]

Sou criança soldado
De um mundo desafinado
Entre carros destruidos e cartas de amor,
Já sem cor... já sem cor.

Sou o primeiro dia
Depois de uma página escrita
Com tinta preta e sem fantasia
Sobre um papel onde só o fim se grita.

Sou principio e resto
De um ramo sem raíz
Que se lança no ar em manifesto.

No fundo sou tudo o que se diz,
Que se escreve e que eu detesto,
Quando vejo as coisas que quis e nunca fiz.

            Valdevinoxis

[carlossoares]

Valdevinoxis,

quando alguém escreve do próprio punho, como se tivesse esquecido, ou abstraísse de, toda a retórica (imensa) associada às expressões/comunicações escritas, fazendo uso dos recursos linguísticos num sereno estado de vigília em vez de uma turbilhonante imaginação surreal(lizante), consegue ter o domínio sobre a tendência para a intrusão das palavras ao ponto de, tendo rédeas sobre a multidão de representações obsidiantes, conceder o momento e a voz...com critério (que não o efeito espampanante) e, assim, escrever sem se deixar facilmente ser escrito. Neste seu poema transmite com rara claridade e num tom mais natural do que o da própria forma, constatações do foro da reflexão de um poeta sobre a própria mundivisão.
De notável efeito e muito decantado.
Abraço.

[Goreti Dias]

Ser-se princípio e resto, mesmo desenraizado, pode ser a finalidade de uma vida se formos capazes de hastear a bandeira que nos dá força para fazermos o que queríamos e não fizemos... finalmente!
Um belo poema!

[Lucibei]

Tem vezes que somos tudo, dominamos o mundo, outras nem mesmo sabemos quem somos.
Soube-me bem ler-te.