vitor
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Olá amigos.
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« em: Agosto 23, 2008, 01:52:27 » |
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Todas as tardes, Serafim dirigia-se à rua dos Anjos e, junto a um velho edifÃcio, sentava-se, esperava o regresso do fim de tarde dos pombos daquela casa, de que a humidade há muito tomara conta. Escorria pelas paredes como um silêncio sem voz, enquanto as penas secas caÃam parede abaixo dos pombos mais velhos, e o sorriso de Serafim enchia a sua alma, que busca apenas o último cigarro no bolso das calças de ganga velha e suja, risca o palito e acende, fuma a dor esquecida de quem nem sabe de quem é filho.
Janeiro, frio, o pombo mais eriçado procura acasalar naquela noite de solidão… Serafim sorri, os dentes estala-dos entre a dor.
A esperança por um sorriso sincero poderá surgir um dia. Aquela rua e aquele lugar poderão ser uma estação de embarque, quem sabe, ser dali a descoberta do mundo escondido, onde um dia o silêncio irrompeu e destruiu o que a sua memória perdeu, deixando apenas o reflexo do momento, em cada momento. O movimento de pessoas é cada vez menor à medida que a noite chega. Caminha lentamente, rua acima, rua abaixo, sem raciocinar sobre que fazer ou porque se movimenta, que mistério ou dor levara de si o que não sabe e no estra-nho silêncio e solidão o remetera, o escondera da vida, onde tanto lixo e miséria o ocupavam agora numa estrada sem saÃda, é o seu canto frio.
Enquanto chove, encobre-se numa imaginária pala que, em tempos, ali existiu, observa o céu escondido por trás das nuvens, e pede para que Deus lhe envie um cobertor, uma roupa quente, neste sonho esquecido da sua vida e de coisas que em tempos terão sido algo na sua vida.
Galga rua acima, vira, revira, dobra a esquina, interroga-se, mas onde estará hoje a rolote do café quentinho de ontem que havia ali tomado, e porque sentia agora vontade de tomar outro e logo ali, como se fosse de novo ontem, no descampado silêncio da rua abandonada, do rolar dos pombos, um táxi de vez em quando se fazia ouvir e, mais abaixo, prostitutas invadiam todos os espaços da rua, onde ainda há pouco nem alminha se sentia por ali, descem lentamente e vão desaparecendo, até saÃrem mesmo de vista.
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