Nina Araujo
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« em: Setembro 15, 2008, 13:11:14 » |
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"Zygmunt Bauman e a Laranja Mecânica A ordem estampada nos olhos de quem vê"
(Hugo Leonardo Dias - Publicado em 18.01.2006)
A literatura é uma das fontes para que possamos refletir sobre os anseios da sociedade pós-moderna. Tanto Burgess como Orwell descrevem uma sociedade em que a manipulação social está presente em todas as partes. No livro Laranja Mecânica de Anthony Burgess, se preferirem no filme homônimo de Stanley Kubrick, o autor descreve um futuro próximo. Neste cenário a sociedade seria um caos; os jovens delinqüentes travariam batalhas nas ruas. Para um mundo que clama pela ordem essas pessoas são caracterizadas como estranhos (aqui fazendo referência a Zygmunt Bauman). Os estranhos são pessoas que não se encaixam no modo de vida imposto pelo sistema capitalista. Eles são os “Alex†criados pelo mundo pós-moderno, a prova que não há um ordem total. O mundo não é constituÃdo por peças de Lego, que se encaixam com harmonia. Na caixa do Lego existem também as peças que não se encaixam.
O teórico polonês Zygmunt Bauman citado acima, nos diz que há impregnado em nossa sociedade um sonho de pureza, originado no seio da revolução francesa, que por meio de seu lema “igualdade, liberdade e fraternidadeâ€, atribuÃdos também aos teóricos do iluminismo, lançam para o mundo os conceitos de razão e igualdade como virtudes para construção de um mundo melhor . Esses conceitos contribuirão para consolidar em nossa vida a busca da ordem, de um mundo moldado, plano e igual. Esta ordem é um dos alicerces que conduzirá o mundo a este “sonho de purezaâ€. Segundo Bauman a compulsão pela ordem implica três tipos de estratégia:
Estratégia antropofágica – acabar com os estranhos, devorando-os.
Estratégia da assimilação – Tudo o que é diferente é assimilado. A diferença passa a não existir mais. Ela é abafada para promover a ordem.
Estratégia antropoêmica – esta implica em expulsar os estranhos do mundo da ordem.
O nosso jovem Alex é um dos exemplos citados acima, em sua situação podemos enquadrar como uma estratégia de assimilar, ou seja, o que é estranho frente à sociedade é abafado, corrompido e assimilado pelo sistema. Alex como já dito, é um delinqüente, suas ações envolvem o prazer em praticar a chamada “ultraviolênciaâ€. Após violentar uma velha, Alex é preso e é submetido ao sistema Ludovico, que consiste em condicionar o jovem à não praticar os atos de delinqüência. O sistema patrocinado pelo Estado será usado para que as pessoas que cometerem delitos sejam condicionadas a não praticar tais atos de violência, como Alex.
Este caso ilustra o discurso médico como um dos fatores que criam o sonho de pureza em nossa sociedade. As manifestações do estranho Alex são abafadas com intermédio da razão. A ciência é colocada em pratica para justificar um busca pela ordem para destruir, abafar e assimilar aquele estranho. Vivemos em uma constante busca pela ordem, sendo que a razão é o fator justificador desses atos, historicamente podemos usar o exemplo de uma atrocidade como o holocausto para ilustrar como a razão foi o alimento da intolerância. Porém, hoje vivemos um novo holocausto, mais sutil, fazendo com que aquele que não participa do jogo do sistema capitalista, o consumidor falho, aquele que é estranho, seja excluÃdo, porque todos clamam pela ordem, todos clamam pela pureza!
Filme: Laranja Mecânica TÃtulo original: A Clockwork Orange / Stanley Kubrick's Clockwork Orange PaÃs: Estados Unidos Ano: 1971 Idioma: Inglês Direção: Stanley Kubrick Roteiro: Stanley Kubrick, baseado no livro de Anthony Burgess Gênero: Drama / Ficção-CientÃfica / Thriller Elenco: Malcolm McDowell, Patrick Magee, Michael Bates, Warren Clarke, Adrienne Corri, Carl Duering, Paul Farrell, Clive Francis, Michael Gover, Miriam Karlin, James Marcus, Aubrey Morris, Godfrey Quigley, Sheila Raynor, entre outros
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