NAS MARGENS DA NOITE

[eduardo roseira]

acorda a noite
a cidade adormece
o rio aquietasse
nas suas margens
os barcos abraçam-se
ao cais

na estreiteza da viela
o brilhar frio
da lâmina
duma manhosa naifa
aguarda o próximo
tardio

nas ruínas da casa
soltam-se perfumes
que endoidecem
um casal
envolto em fumos
herbáceos

na tasca
contabilizam-se calotes
entre a garrafa  e a viola
que em desafinada desgarrada
são eco dum fado
solitário que esmola
 
nalguns lares tremelicam
luzes que alumiam
o caldo e o pão pouco
o amor…
ficou nas amarguras
da velha porta

nas margens da noite
o pouco e o vazio
já não estranham
nem de nada importam…
talvez seja por isso,
que à noite…nem

as gaivotas cantam!!!!


   eduardo roseira                 
                 VNGaia
              12/Abril/2009

[Goreti Dias]

"nas margens da noite
o pouco e o vazio
já não estranham"

Quem saberia dizer isto?!

[António Lóio]

Eduardo
Os dramas da noite nas grandes cidades, tascas, vielas, bêbados, prostituição, miséria etc
Retrato nítido
Tom

[antónio paiva]

...

caro Eduardo Roseira,

uma portentosa aguarela nocturna,

onde todas as lâminas cortam,

não apenas a da navalha manhosa.

e todas as dores e sobressaltos,
escorrem para o leito da vida,

como se de um rio se tratasse.

e, sim, as gaivotas não cantam.

abraço.