Nina Araujo
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« em: Setembro 04, 2008, 19:00:32 » |
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A Justiça é Magra!
Valter estava satisfeito com a harmonia dos meninos, nos últimos tempos. Desde que a irmã ficou viúva ele assumiu uma posição de tio bem presente na educação das crianças, uma vez que a mãe passava muito tempo no trabalho árduo da medicina. -Bem Rodrigão devemos conversar à respeito disto porque a dona Isaura não vai aceitar mais suas desculpas da próxima vez. Ela vai convocar a sua mãe para a reunião. Que coisa esquisita é essa de negociar com as professoras suas notas? Se você estudar direito não vai precisar ficar nas mãos de ninguém, nós vamos fazer um novo esquema de estudo... -Eu sei me virar bem tio Valter! Já sou grande! -Vamos ver então, depois do que vou organizar para voce... O tio bem lá no íntimo via no menino uns traços de como ele próprio agia quando pequeno, sua autoconfiança precoce, e não deixava de rir um pouco de forma disfarçada daquela habilidade do menino de livrar a pele com os professores. -Mas o que você queria me perguntar? -Bem, tio Valter o senhor sabe, a justiça não é só cega, né? -Como assim...A justiça é cega no sentido de que ela é igual para todos Rodrigão! -Ela não tem uma cara? -Claro que não, meu querido! O certo é que ela não veja a posição social das pessoas, ou qualquer diferença, ela deve ser imparcial, entende ? -Mas para o Felipe ela é magra! -Por que você diz isso? -Voce mandou a gente pagar aquela conta de quarenta na casa lotérica, não é? -Sim, e daí? -Ele deu a nota de cinqüenta e a moça gorda devolveu errado quarenta, quando tinha que ser dez... -E o que o Felipe fez? -Ele disse para eu ficar calado que ia me dar um pouco. Eu disse cara, tá errado! E ele nem ligou, chegando aqui me deu cinco pratas e disse que aquela dona era muito gorda! -E você pegou as cinco pratas? -Sim, mas eu não achei justo ele só ter me dado cinco... -Ai, meu Deus!! Felipeeeeeeeeeeeeeeeee!!! Venha já aqui! O rapazinho três anos mais velho, ouviu tudo o que o tio disse e concordou meio a contra gosto em devolver o dinheiro para a moça no dia seguinte, já que passava da hora do expediente comercial. No corredor deu um aperto no caçula e perguntou: -Por que você me delatou, cara de castanha? -Porque você só me deu cinco pratas não é justo! E também acho errado você fazer injustiça só porque a moça é gorda. -Pois fique sabendo que a minha justiça é assim! E saiu dando um tabefe forte no menor. -Por que você me bateu Felipe? -Isso é porque você é gordo!!! Rodrigão queria chorar mas resistiu e respondeu prontamente: -A justiça não tem cara, seu covarde!! Bem, o tio Valter teria novos desafios na caminhada, educar não era uma tarefa fácil e precisaria sem dúvidas, juntar forças com a irmã para debelar o egoísmo que se instalava no coração dos homens da casa, mas tinha a convicção de que era preciso fazer diferença ali para que o caráter daqueles meninos se formasse firme e reluzisse no mundo tão corroído lá fora, acreditava nisso piamente...
Nina Araújo
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