Desabafo

[Edite Cecília Rodrigues]

                                                                  DESABAFO


Se eu pudesse fazer ver
Pela cegueira de quem é cego
Alguém veria o meu querer
E mal veria o seu triste ego,

Se altruísta sou
Dando mais do que recebo
E se no meu dar, tudo dou,
Por mais que queira não percebo.

Esta dádiva desmedida
Que o inconsciente provoca,
Não tem conta nem medida,
Nem se importa com o que tem em troca.

Esta vida de incertezas
Que confunde os sentimentos,
Faz friccioná-la de asperezas
E fazer dela só tormentos.

Se quem a paz procura
Fazendo uma Guerra-fria,
Só vai encontrar loucura
E do amor, faz utopia.

Não sabendo querer com altruísmo,
Calando-se com silêncio profundo,
É servir-se do masoquismo,
Isolando-se e ficar só no mundo.

Atar a confiança a amarras
E dar-lhe prisão feroz,
É cravar na chaga garras
E dar-lhe uma morte atroz.

Saibamos servir o destino
Sabendo libertar a dor,
Fazendo da vida um alegre hino,
Saber querer e dar amor.

Àqueles que de espírito são pobres
E de alma tão fracos são,
Ajudai-os Senhor, a ser nobres
E mais puros de coração

Se à vida devemos o que somos
E nada lhe soubermos dar,
Veremos, de que nada fomos
E nada saberemos encontrar
                                                                                     







         

[Goreti Dias]

Gostaria de salientar a última quadra. Fecha em pleno a ideia.
Bj

[carlossoares]

Pelo significado e pelo realismo e pelo lema que "a contrario" preconiza, destaco esta quadra:

«Não sabendo querer com altruísmo,
Calando-se com silêncio profundo,
É servir-se do masoquismo,
Isolando-se e ficar só no mundo.»
Abraço

[Edite Cecília Rodrigues]

Agradeço tanto à Goreti, como ao Carlos Soares, os comentários. É gratificante saber que nos lêem.
Abraço. EC

[Maria del Mar]

Embora a minha preferência não vá para o seu género de poesia, gosto de a ler. Aliás, sou muito mais leitora do que escritora. Mas também creio que é mais disso que este site precisa. Este, como outros por onde passo, padece desse mal. Todos escrevem para serem lidos e comentados, mas poucos comentam quem os não lê e comenta. Mais, muitos apenas agradecem os comentários para fazerem subir o "seu" texto. E não comentam ninguém. É feio, mas é assim em todos os sites. Isso desagrada-me, mas preciso exercitar a minha comunicação em Português. Caso contrário, acabo por perder o "treino", já que estou radicada na Suiça há uns bons anos. Ainda assim, sinto-me mais confortável aqui. Sei que me não apagarão o "desabafo".

[Edite Cecília Rodrigues]

Minha cara amiga

Eu não posto muito pelos comentários, uma vez que é a primeira vez que fiz uma série de postagens, para ver até que ponto a minha escrita vale uma publicação, pois que também escrevo prosa e ainda nada publiquei.
Quanto à sua referência, em que as pessoas normalmente só se limitam a agradecer os comentários, tem a sua razão, pois que certamente, a maioria pode não conhecê-la e nada mais faz do que fazer um agradecimento.
Eu também não a conheço, mas pelo que me escreveu, apercebi-me que é uma pessoa saudosa do seu país natal e que gosta de falar sobre ele e manter a sua língua materna, exercitando-a na escrita, o que acho espectacular, sobretudo em pessoas como a Maria, que querem manter as suas origens e a língua de Camões.
Vive num país lindíssimo e deixe-se estar, que está melhor, pois aqui as coisas estão feias, como já deve saber. Visite-nos para matar saudades, mas se é feliz por aí, continue a desfrutar dessa felicidade. Se quiser contactar-me pode fazê-lo para "ecefi@sapo.pt", e estarei à sua disposição.
Um abraço.  EC

[Maria del Mar]

Obrigada. Devo mesmo ficar. Quem sabe nas férias...